São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS

McCain manteve vínculo estreito com cassinos, diz jornal

Segundo "New York Times", candidato republicano tem mais de 40 assessores e arrecadadores de campanha ligados à indústria do jogo

Membro da Comissão para Assuntos Indígenas, senador recebeu doações de tribos interessadas em manter cassinos em suas terras

JO BECKER e DON VAN NATTA
DO "NEW YORK TIMES

John McCain atirava fichas de US$ 100 numa mesa de jogo de dados no cassino Foxwoods Resort, em Connecticut. Ao fim da longa sessão, às 2h30, o senador e seus companheiros saíram com milhares de dólares.
McCain aposta em jogos de azar a vida toda e sempre assumiu riscos. Naquela noite ele estava jogando dados após ver fracassar sua tentativa de ser indicado candidato presidencial. Sua derrota se deveu à base evangélica do Partido Republicano, que combate o jogo.
McCain estava apostando num cassino que ele próprio supervisionava, como membro da Comissão do Senado para Assuntos Indígenas, e, segundo três de seus associados, o estava fazendo na companhia do lobista que representa o cassino. Essa noite de sorte é simbólica pelo relacionamento estreito que McCain forjou com a indústria do jogo e seus lobistas.
Tendo sido duas vezes presidente da Comissão de Assuntos Indígenas, o senador já fez mais que qualquer outro para moldar as leis que regem os cassinos dos EUA, ajudando a transformar o negócio do jogo indígena numa indústria que movimenta US$ 26 bilhões por ano.
Ao longo dos anos, várias facções da indústria do jogo se beneficiaram em cultivar uma relação com McCain ou contratar alguém que o tenha. É o que revela um estudo baseado em mais de 70 entrevistas e milhares de páginas de documentos.

Laço com o jogo
McCain se retrata como político independente e não influenciado por interesses especiais. Em sua campanha atual, porém, mais de 40 de seus principais assessores e arrecadadores já fizeram lobby ou trabalharam por interesses do jogo.
O candidato se negou a dar entrevista. Em respostas escritas, sua campanha disse que o senador tem "orgulho justificável" de seu histórico na regulamentação do jogo indígena.
Ao longo de sua carreira McCain já enfrentou interesses especiais. E talvez nenhum outro episódio tenha beneficiado sua imagem de reformador mais do que a investigação pelo Congresso, sob sua égide, de Jack Abramoff, o lobista do jogo indígena que virou símbolo nacional da cultura do pagar para jogar em Washington e cuja prisão levou à maior reforma sobre lobbies desde Watergate.
Mas entrevistas e registros mostram que lobistas e assessores políticos do círculo próximo de McCain ajudaram, nos bastidores, a levar os delitos de Abramoff à atenção do senador -e então se beneficiaram com a investigação. O estrategista-chefe de McCain, por exemplo, recebeu US$ 100 mil ao longo de quatro meses por seu trabalho de consultor de uma tribo envolvida na investigação.
Após o escândalo, McCain parou de aceitar doações de tribos para suas campanhas. Algumas tribos se sentiram ofendidas, sobretudo porque McCain continuava a aceitar dinheiro dos lobistas das tribos.
O ressentimento entre os indígenas aumentou quando McCain, que preparava outra tentativa de conseguir a indicação presidencial, identificou o crescimento do setor do jogo tribal como uma de três questões que estariam "fora de controle" -as outras duas eram os gastos do governo federal e a imigração ilegal.
McCain então começou a analisar a fundo se as leis existentes eram suficientes para fiscalizar o setor crescente. Sua campanha disse que o crescimento do setor tinha imposto "estresse considerável" aos reguladores, e McCain promoveu audiências para discutir se o governo federal precisava aumentar seu poder fiscalizador.


Tradução de CLARA ALLAIN


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