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SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS
Para especialista em retórica, debate contrapôs emoção e razão
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O debate da última sexta entre os candidatos à Casa Branca
marcou, em palavras e gestos, a
forte diferença de estilo entre o
republicano John McCain e o
democrata Barack Obama: o
primeiro age com a emoção, e o
segundo, com a razão.
A opinião é do especialista
em retórica e discursos políticos Wayne Fields, da Washington University em Saint Louis.
Leia a seguir a entrevista que
ele concedeu à Folha.
FOLHA - Como os candidatos interagiram no palco?
WAYNE FIELDS - Não muito bem.
Obama chamava McCain pelo
nome, John, e McCain insistia
em chamá-lo de "senador Obama", ignorando a conexão pessoal. Era como se dissesse: "Você não tem o direito de estar no
palco comigo". Obama começou a ficar envergonhado. Ele
olhava para McCain, não obtinha resposta e voltava a olhar
para o mediador, parecendo
fraco em alguns momentos.
FOLHA - O que se pode inferir da
linguagem dos dois?
FIELDS - McCain fez o máximo
possível. Ele tem um estilo
agressivo, sem sutileza oral e
gestual . Interrompia Obama a
toda hora, o que pode ter dado a
idéia de alguém forte inicialmente, mas acabou ficando pedante. Há limitações físicas [ele
tem movimentos limitados nos
braços devido a torturas sofridas no Vietnã]. Não é bonito,
mas pode ser bom, pois é um
constante lembrete de seu aspecto heróico. Sua linguagem é
mais coloquial do que a de Obama, o que é bom, mas ele às vezes se perde, como quando discutiu o que é "estratégia" e o
que é "tática" militar.
Obama se move com muito
mais graciosidade. Quando
McCain tentava criticá-lo, e ele
erguia os ombros, olhava para o
rival, dizia "John, não foi isso
que eu disse", em seguida olhava para a câmera e se explicava.
Foi eficiente. Dizem que ele é
frio, mas esse tipo de acusação
vem de quem acha que patriotismo é algo passional, como
McCain. Obama é mais razão
que emoção. Há quem ache a
resposta emocional perigosa,
que aproxima McCain de George W. Bush, pois a base passional é comum a ambos.
FOLHA - McCain se saiu bem na
parte de economia?
FIELDS - Não. Ele agiu como
sempre, com paixão, dizendo
"eu estive lá, eu fiz isso", mas
pareceu cansado e velho. Mesmo em política externa, quando ele diz "eu conheço essas
pessoas", isso não é vantajoso,
pois mostra o quanto ele é parte
do velho sistema político. É o
mesmo quando ele dizia "não
ganhei o miss simpatia no Congresso" ou "Obama não entende". McCain "entende" porque
é parte do sistema.
Leia o blog Folha na
sucessão de Bush:
www.folha.com.br/082352
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