São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / RELAÇÕES PERIGOSAS

Para especialista em retórica, debate contrapôs emoção e razão

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O debate da última sexta entre os candidatos à Casa Branca marcou, em palavras e gestos, a forte diferença de estilo entre o republicano John McCain e o democrata Barack Obama: o primeiro age com a emoção, e o segundo, com a razão. A opinião é do especialista em retórica e discursos políticos Wayne Fields, da Washington University em Saint Louis. Leia a seguir a entrevista que ele concedeu à Folha.

 

FOLHA - Como os candidatos interagiram no palco?
WAYNE FIELDS - Não muito bem. Obama chamava McCain pelo nome, John, e McCain insistia em chamá-lo de "senador Obama", ignorando a conexão pessoal. Era como se dissesse: "Você não tem o direito de estar no palco comigo". Obama começou a ficar envergonhado. Ele olhava para McCain, não obtinha resposta e voltava a olhar para o mediador, parecendo fraco em alguns momentos.

FOLHA - O que se pode inferir da linguagem dos dois?
FIELDS - McCain fez o máximo possível. Ele tem um estilo agressivo, sem sutileza oral e gestual . Interrompia Obama a toda hora, o que pode ter dado a idéia de alguém forte inicialmente, mas acabou ficando pedante. Há limitações físicas [ele tem movimentos limitados nos braços devido a torturas sofridas no Vietnã]. Não é bonito, mas pode ser bom, pois é um constante lembrete de seu aspecto heróico. Sua linguagem é mais coloquial do que a de Obama, o que é bom, mas ele às vezes se perde, como quando discutiu o que é "estratégia" e o que é "tática" militar. Obama se move com muito mais graciosidade. Quando McCain tentava criticá-lo, e ele erguia os ombros, olhava para o rival, dizia "John, não foi isso que eu disse", em seguida olhava para a câmera e se explicava. Foi eficiente. Dizem que ele é frio, mas esse tipo de acusação vem de quem acha que patriotismo é algo passional, como McCain. Obama é mais razão que emoção. Há quem ache a resposta emocional perigosa, que aproxima McCain de George W. Bush, pois a base passional é comum a ambos.

FOLHA - McCain se saiu bem na parte de economia?
FIELDS - Não. Ele agiu como sempre, com paixão, dizendo "eu estive lá, eu fiz isso", mas pareceu cansado e velho. Mesmo em política externa, quando ele diz "eu conheço essas pessoas", isso não é vantajoso, pois mostra o quanto ele é parte do velho sistema político. É o mesmo quando ele dizia "não ganhei o miss simpatia no Congresso" ou "Obama não entende". McCain "entende" porque é parte do sistema.


Leia o blog Folha na sucessão de Bush:
www.folha.com.br/082352




Texto Anterior: Sucessão nos EUA / Relações perigosas: McCain manteve vínculo estreito com cassinos, diz jornal
Próximo Texto: Ultradireita avança em eleições na Áustria
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.