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Golpistas fecham rádio e TV pró-Zelaya
Após perder apoio de Congresso, Micheletti promete, porém, reverter a decretação de estado de exceção em Honduras
Regime golpista impede 2 funcionários hondurenhos da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa de voltar ao prédio após o terem deixado
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Soldados cercam sede do canal 36, pró-Zelaya, fechado ontem por
ordem do governo golpista
FABIANO MAISONNAVE
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA
O governo interino de Honduras tirou do ar na madrugada
de ontem um canal de TV e
uma emissora de rádio que
apoiam o presidente deposto,
Manuel Zelaya, horas depois de
publicar um decreto que permitia suspender vários direitos
civis. No final da tarde, porém,
a Casa Presidencial anunciou
que recuaria da medida "nos
próximos dias", após ter perdido o apoio da maioria no Congresso -fato inédito desde o
início do golpe, há três meses.
Por volta das 3h da manhã,
dezenas de soldados ocuparam
a rádio Globo, que tem um jornalista dentro da embaixada
brasileira em Honduras, e o canal 36, de sinal aberto. Já o canal venezuelano Telesur, que
também tem uma equipe ao lado de Zelaya e em Honduras é
assistido somente por cabo, teve o sinal cortado por vários
momentos ao longo do dia.
De acordo com o porta-voz
da Casa Presidencial, René Zepeda, as emissoras foram retiradas do ar em concordância
com o decreto de anteontem,
que dá ao presidente golpista,
Roberto Micheletti, poderes
para agir contra meios de comunicação que "atacam a paz e
a ordem pública".
As duas emissoras eram as
únicas a transmitir de forma
constante as declarações feitas
por Zelaya na embaixada brasileira, onde está há nove dias. No
sábado, o presidente deposto
exortou seus seguidores a promover "uma ofensiva final"
contra Micheletti ontem, quando a deposição de Zelaya completou três meses.
Sob forte repressão, os protestos pró-Zelaya foram pequenos. Na maior, cerca de 200
manifestantes se aglomeraram
durante a manhã em frente a
uma universidade, na praça
Miraflores. A polícia impediu a
marcha com aproximadamente 500 homens do batalhão de
choque da Polícia Nacional,
que cercaram o local.
No final da tarde, dezenas de
automóveis e motos fizeram
uma caravana para o enterro de
Wendy Fátima, morta no sábado. Ela era asmática e inalou
gás lacrimogêneo na desocupação da entrada da embaixada
brasileira, na terça-feira.
Sem apoio
A surpresa veio no meio da
tarde, no Congresso. A bancada
do Partido Nacional, a segunda
maior, e outros partidos menores que têm apoiado Micheletti
disseram aos golpistas que rejeitariam o decreto que impôs
as medidas de exceção. Pela legislação do país, o Parlamento
tem 30 dias para analisar e votar um decreto presidencial.
Pela primeira vez sem o
apoio do Congresso -que aprovou a deposição de Zelaya, em
28 de junho-, Micheletti disse,
em entrevista coletiva, que
"discutirá com a Corte Suprema de Justiça o decreto de estado de exceção e sua posterior
revogação", o que deve ser feito,
segundo ele, nos próximos dias.
Micheletti também recuou
com relação à presença da OEA
no país. Um dia após ter detido
quatro de seus funcionários, a
Chancelaria disse que estava
convidando uma "comissão de
preparativo" da entidade, para
a próxima sexta, e uma comitiva de chanceleres, no dia 7.
Em entrevista coletiva às 7h
da manhã, Zelaya criticou duramente o fechamento das
emissoras de rádio e TV e disse
que a embaixada poderia ser invadida "nas próximas horas". À
tarde, falou por telefone na Assembleia Geral da ONU, quando pediu apoio para "reverter o
golpe" e pediu ajuda para assegurar a segurança das cerca de
60 pessoas abrigadas no prédio.
Pouco antes, por volta das 6h,
a maioria das cerca de 60 pessoas que estão na embaixada,
entre elas a reportagem da Folha, foi acordada por helicóptero da polícia que sobrevoou o
edifício por cerca de meia hora.
Em outra pressão contra a
embaixada, militares não autorizaram o retorno de dois funcionários hondurenhos da embaixada. Um é o encarregado da
manutenção, e o outro era motorista e ajudava o colega.
"Foi uma surpresa desagradável e uma falta de consideração", disse o encarregado de negócios, Francisco Catunda, que
voltou ontem ao prédio após
dois dias de descanso -desde
sexta, ele divide o "plantão" na
embaixada com outro diplomata. "Eles esperaram que os dois
estivessem fora para proibir o
regresso." Um saíra de folga anteontem e voltaria ontem à tarde, enquanto o outro deixara o
prédio na manhã de ontem.
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