São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Golpistas fecham rádio e TV pró-Zelaya

Após perder apoio de Congresso, Micheletti promete, porém, reverter a decretação de estado de exceção em Honduras

Regime golpista impede 2 funcionários hondurenhos da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa de voltar ao prédio após o terem deixado

Sérgio Lima/Folha Imagem
Soldados cercam sede do canal 36, pró-Zelaya, fechado ontem por
ordem do governo golpista


FABIANO MAISONNAVE
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA

O governo interino de Honduras tirou do ar na madrugada de ontem um canal de TV e uma emissora de rádio que apoiam o presidente deposto, Manuel Zelaya, horas depois de publicar um decreto que permitia suspender vários direitos civis. No final da tarde, porém, a Casa Presidencial anunciou que recuaria da medida "nos próximos dias", após ter perdido o apoio da maioria no Congresso -fato inédito desde o início do golpe, há três meses.
Por volta das 3h da manhã, dezenas de soldados ocuparam a rádio Globo, que tem um jornalista dentro da embaixada brasileira em Honduras, e o canal 36, de sinal aberto. Já o canal venezuelano Telesur, que também tem uma equipe ao lado de Zelaya e em Honduras é assistido somente por cabo, teve o sinal cortado por vários momentos ao longo do dia.
De acordo com o porta-voz da Casa Presidencial, René Zepeda, as emissoras foram retiradas do ar em concordância com o decreto de anteontem, que dá ao presidente golpista, Roberto Micheletti, poderes para agir contra meios de comunicação que "atacam a paz e a ordem pública".
As duas emissoras eram as únicas a transmitir de forma constante as declarações feitas por Zelaya na embaixada brasileira, onde está há nove dias. No sábado, o presidente deposto exortou seus seguidores a promover "uma ofensiva final" contra Micheletti ontem, quando a deposição de Zelaya completou três meses.
Sob forte repressão, os protestos pró-Zelaya foram pequenos. Na maior, cerca de 200 manifestantes se aglomeraram durante a manhã em frente a uma universidade, na praça Miraflores. A polícia impediu a marcha com aproximadamente 500 homens do batalhão de choque da Polícia Nacional, que cercaram o local.
No final da tarde, dezenas de automóveis e motos fizeram uma caravana para o enterro de Wendy Fátima, morta no sábado. Ela era asmática e inalou gás lacrimogêneo na desocupação da entrada da embaixada brasileira, na terça-feira.

Sem apoio
A surpresa veio no meio da tarde, no Congresso. A bancada do Partido Nacional, a segunda maior, e outros partidos menores que têm apoiado Micheletti disseram aos golpistas que rejeitariam o decreto que impôs as medidas de exceção. Pela legislação do país, o Parlamento tem 30 dias para analisar e votar um decreto presidencial.
Pela primeira vez sem o apoio do Congresso -que aprovou a deposição de Zelaya, em 28 de junho-, Micheletti disse, em entrevista coletiva, que "discutirá com a Corte Suprema de Justiça o decreto de estado de exceção e sua posterior revogação", o que deve ser feito, segundo ele, nos próximos dias.
Micheletti também recuou com relação à presença da OEA no país. Um dia após ter detido quatro de seus funcionários, a Chancelaria disse que estava convidando uma "comissão de preparativo" da entidade, para a próxima sexta, e uma comitiva de chanceleres, no dia 7.
Em entrevista coletiva às 7h da manhã, Zelaya criticou duramente o fechamento das emissoras de rádio e TV e disse que a embaixada poderia ser invadida "nas próximas horas". À tarde, falou por telefone na Assembleia Geral da ONU, quando pediu apoio para "reverter o golpe" e pediu ajuda para assegurar a segurança das cerca de 60 pessoas abrigadas no prédio.
Pouco antes, por volta das 6h, a maioria das cerca de 60 pessoas que estão na embaixada, entre elas a reportagem da Folha, foi acordada por helicóptero da polícia que sobrevoou o edifício por cerca de meia hora.
Em outra pressão contra a embaixada, militares não autorizaram o retorno de dois funcionários hondurenhos da embaixada. Um é o encarregado da manutenção, e o outro era motorista e ajudava o colega.
"Foi uma surpresa desagradável e uma falta de consideração", disse o encarregado de negócios, Francisco Catunda, que voltou ontem ao prédio após dois dias de descanso -desde sexta, ele divide o "plantão" na embaixada com outro diplomata. "Eles esperaram que os dois estivessem fora para proibir o regresso." Um saíra de folga anteontem e voltaria ontem à tarde, enquanto o outro deixara o prédio na manhã de ontem.


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