São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Com fechamento de rádio, jornalista ganha "folga" na embaixada

DO ENVIADO A TEGUCIGALPA

Até há pouco o jornalista mais ativo da Embaixada do Brasil em Honduras, o repórter da rádio Globo Luis Galdamez entrou às 5h da madrugada onde dorme a maioria dos jornalistas para anunciar: a sua emissora havia sido fechada horas antes por militares.
A sala onde dormem cerca de 15 pessoas foi a sua única audiência na manhã, e Galdamez teve um dos seus dias mais tranquilos nos últimos três meses, em que quase sempre esteva ao lado de Zelaya.
"Desde o dia do golpe, não descansei um dia", diz Galdamez, 41, separado, pai de sete filhos e dono de uma voz forte que não muda, dentro ou fora do ar. "Estive na Nicarágua, cruzei a fronteira a pé, transmitindo ao vivo", afirmou, sobre a segunda tentativa de Manuel Zelaya de cruzar a fronteira pelo país vizinho, em julho.
Até anteontem, Galdamez passava até oito horas ao vivo por dia, sempre entrevistando Zelaya e seus principais assessores sobre assuntos do dia. Em algumas ocasiões, ele era o único dos jornalistas a falar com o presidente deposto, já que representa o único meio de comunicação hondurenho presente na embaixada brasileira.
Com transmissão em praticamente todo o país, a rádio Globo opera na frequência FM e pertence ao suplente de deputado e empresário Alejandro Villatoro, aliado de Zelaya.
Já o canal 36, o Cholusat Sur, também fechado ontem, tem alcance bastante limitado e está bem longe da audiência dos principais canais de Honduras.
"Eu não apoio Mel [apelido de Zelaya], estou contra o golpe", afirma Galdamez. "No meu programa, "Atrás da Verdade", não havia nenhuma publicidade do governo quando ele era o presidente."
Galdamez disse que ontem teve o dia com menos trabalho desde que chegou à embaixada, oito dias antes, junto com Zelaya. Ele nem sequer participou da única entrevista coletiva do presidente deposto concedida ontem, justamente para falar do fechamento da rádio em que trabalha.
O jornalista da rádio Globo tem um tratamento diferenciado: dorme numa sala com assessores de segundo escalão de Zelaya, longe dos demais colegas. O seu "escritório" é a seção de arquivos da embaixada, onde também descansa, separado do chão apenas por um cobertor. "O meu travesseiro é a mochila", afirmou.


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