São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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Gás com opiáceo é uma das suspeitas

CHARLES ARTHUR
CHRIS GRAY
DO "THE INDEPENDENT"

Os médicos que examinaram as vítimas do ataque com gases feito pelas autoridades russas para desalojar terroristas do teatro em Moscou dizem acreditar que o mais provável é que elas tenham sido mortas por um opiáceo, e não por um gás nervoso.
Segundo funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Moscou, os médicos disseram que os efeitos dos gases usados pelos russos são aparentemente semelhantes aos efeitos de um opiáceo, como um derivado da heroína, por exemplo.
Essas substâncias podem não apenas desvirtuar os sentidos e servir como analgésicos, mas também causar coma e morte. Isso aconteceria devido ao efeito paralisante na respiração ou na circulação sanguínea.

Segredo de Estado
Apesar das especulações e dos constantes pedidos de explicação dos médicos que cuidam dos sobreviventes, as autoridades russas continuam a se recusar a dizer quais eram os componentes do gás usado na operação.
Ou seja, muitas das vítimas estão sendo tratadas quase que "no escuro" pelos especialistas.
"Continua sendo um quebra-cabeças", disse Thomas Zilker, toxicologista e professor da Universidade de Munique (Alemanha).
O médico está tratando dois dos reféns liberados, mas não consegue identificar os agentes tóxicos usados pelos russos.
Ele afirma que o gás não aparenta ser nenhuma arma química conhecida e que pode ser uma fórmula secreta desenvolvida pelos militares russos.
Segundo o deputado Alexei Arbatov, o governo não vai revelar a natureza do gás porque a Rússia pode enfrentar um ataque similar no futuro, com terroristas ameaçando reféns.
"Para que possamos usar esse tipo de gás de novo, o segredo de sua fórmula não pode ser revelado", disse Arbatov.
Para Pavel Felgenhauer, um especialista independente em segurança, Moscou pode estar se recusando a revelar a fórmula do gás "por temer críticas ou até mesmo processos". "[O gás] pode ter componentes proibidos."
A Rússia assinou, com 64 outros países, a Convenção Internacional de Armas Químicas de 1997. Esse tratado proíbe o uso de uma série de substâncias na fabricação de armamentos.
Especialistas em armas afirmam que o gás usado aparenta ter um tipo de agente neuroparalisante como os comumente desenvolvidos nos anos 70 -eles citam o gás sarin e o BZ, este último de origem americana.
Viktor Baranets, um ex-funcionário do Ministério da Defesa da Rússia, disse que o gás seria provavelmente o Kolokol-1, "o mais promissor agente químico desenvolvido pelas forças especiais da antiga União Soviética".
Segundo ele, esse gás se espalha rapidamente e pode derrubar uma pessoa saudável em menos de três segundos. Porém pessoas com deficiências cardíacas ou propensão ao vômito poderiam morrer por causa da inalação.
O chefe dos serviços médicos de Moscou, Andrei Seltsovsky, disse ontem que o gás não teria sido fatal se as vítimas estivessem bem de saúde, e não privadas de comida, água e exercícios por mais de dois dias e meio no cativeiro.
Outros especialistas russos acham que o principal ingrediente do gás provavelmente foi um poderoso tranquilizante, como o Valium. "Armas químicas que causam paralisia temporária não são banidas pelas leis internacionais", disse Lev Fyodorov, que foi cientista químico na antiga União Soviética, mas agora lidera o independente Conselho para a Segurança Química de Moscou.
Fyodorov disse que o gás deve ter sido desenvolvido pelos laboratórios da KGB (antigo serviço de espionagem soviético) nos anos 70. Os métodos de dispersão teriam sido testados no metrô de Moscou na década seguinte, sem que os usuários do serviço de transporte público tenham sido sequer avisados.
Para o especialista, as autoridades devem ter exagerado na dose do gás. "Há um bem conhecido hábito russo de exagerar nas coisas. As doses que as autoridades injetaram no edifício foram grandes demais, simplesmente cavalares", disse Fyodorov.
"Eles simplesmente não levaram em conta que muitas das pessoas dentro do teatro estavam nos chamados grupos de risco, como grávidas, pessoas com problemas de coração, de rins e de fígado, idosos e assim por diante."


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