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IRAQUE OCUPADO
Presidente diz que seu governo nunca declarou cumprida a missão militar e afirma que EUA "ainda estão em guerra"
Bush nega ter enganado os americanos
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Em meio à escalada terrorista
no Iraque, o presidente dos EUA,
George W. Bush, convocou uma
entrevista para defender a ocupação e dizer que não enganou os
americanos sobre as dificuldades
no pós-guerra.
Bush, que comemorava os
"progressos" no Iraque desde que
declarou o fim dos principais
combates, em 1º de maio, mostrou-se mais cauteloso ontem.
"O Iraque é um lugar perigoso.
É perigoso porque os terroristas
querem que saiamos, e nós não
estamos saindo", afirmou ele na
Casa Branca, na primeira entrevista coletiva em três meses. Nos
últimos dois dias, atentados mataram mais de 40 no Iraque.
Afirmando que "a liberdade
tem seu preço", Bush defendeu
que o Congresso aprovasse um
pacote para a reconstrução.
Desta vez, Bush enfatizou que
os EUA "ainda estão em guerra"
e, lembrando o 11 de Setembro,
disse: "Os terroristas vão nos atacar de novo, não só em Bagdá,
mas dentro dos EUA".
Na defensiva, Bush disse que
não foi a Casa Branca quem mandou pôr a faixa "missão cumprida" no porta-aviões Abraham
Lincoln durante o discurso em
que ele, em maio, declarou o fim
dos principais combates. Segundo ele, foi a tripulação do navio
que estendeu a faixa, para referir-se à sua própria missão.
"Minha declaração [naquele
dia] foi clara, reconhecendo que
aquela fase da guerra acabara e
que ainda havia um bocado de
trabalho perigoso a fazer."
Para Bush, os ataques dos últimos dias foram realizados por integrantes do partido Baath (que
estava no poder com o ex-ditador
Saddam Hussein) e por terroristas de países vizinhos que "temem
um Iraque livre e democrático".
Apesar de defender sua estratégia, Bush e seu secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, vêm sendo
atacados diariamente nos EUA.
"É a primeira vez que vejo um
paralelo entre o Iraque e o Vietnã
em termos do que diz o governo e
o que vemos em Bagdá", afirmou
o senador republicano John
McCain, que sempre apoiou a posição de Bush sobre a guerra.
Richard Holbrooke, ex-enviado
especial do governo Bill Clinton
(1993-2001) à Bósnia e ao Kosovo,
afirma que, apesar da retórica de
Bush, o Iraque ainda está em
guerra. "E é impossível reconstruir uma nação em guerra."
Há poucos dias, Rumsfeld admitiu em um memorando interno suas "preocupações" em relação à campanha contra o terror,
levantando expectativas de que os
EUA fossem reforçar o efetivo no
Iraque, hoje de 130 mil soldados.
Para o general reformado John
Nash, ex-comandante dos EUA
na campanha da Bósnia e ex-administrador da ONU no Kosovo,
"parece obvio" que os EUA precisam de mais tropas no Iraque.
"Sempre será necessário mais
homens para estabilizar do que
para conquistar, especialmente
quando a conquista é feita com
forças mais leves e eficientes como agora", diz.
Questionado ontem, Bush não
respondeu se os EUA pretendem
enviar mais homens ao Iraque.
Além da dificuldade política de
deslocar mais tropas à região durante uma campanha eleitoral
(pleito presidencial em 2004), as
restrições financeiras à ocupação
estão cada vez mais evidentes.
Embora os EUA tenham dito
que a Conferência dos Doadores
de Madri, na semana passada, tenha sido um sucesso, outros países ofereceram apenas US$ 13 bilhões em ajuda -a maior parte
em empréstimos-, quando os
americanos esperavam pelo menos US$ 36 bilhões em doações.
Bush também enfrenta dificuldades no Congresso, dominado
por seus correligionários, para
conseguir US$ 20 bilhões a fundo
perdido para o Iraque.
Nesta semana, senadores do
partido de Bush, o Republicano,
questionaram o Pentágono sobre
notícias segundo as quais dezenas
de depósitos de armas no Iraque
continuam sem supervisão. Em
alguns casos, os armamentos estariam sendo comercializados nas
fronteiras do Iraque -armando
grupos contrários à ocupação.
As autoridades militares americanas também vêm deixando
transparecer um dilema em relação às medidas de segurança. Parte do Pentágono defende maiores
restrições à circulação de pessoas
em Bagdá, com o fechamento de
ruas e toques de recolher, mas
existem os que argumentam que
essas medidas liquidariam a estratégia de conquistar "corações e
mentes" no Iraque.
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