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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Total chegará a 143 milhões, revelando o interesse na votação; a maioria dos novos registrados se declarou "independente"
EUA ganham 10 milhões de eleitores
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Mais de 10 milhões de pessoas se
registraram para votar nas eleições de 2004 nos EUA, aumentando o número de possíveis eleitores para 143 milhões.
O número é mais do que o dobro do projetado caso o nível de
registro se mantivesse em patamares históricos, o que revela um
imenso interesse dos americanos
no processo eleitoral deste ano.
Mas o dado mais surpreendente
do resultado, divulgado ontem
pelo apartidário Comitê de Estudos do Eleitorado Americano
(CSAE, na sigla em inglês), é que a
maior parte dos novos eleitores
não se filiou em nenhum dos dois
partidos que disputam a eleição, o
Republicano e o Democrata.
Cerca de 80% dos novos eleitores se registraram como "independentes", e a maior parte das
novas filiações ficou concentrada
exatamente nos 12 Estados onde a
disputa está mais acirrada.
Assim como o republicano e o
democrata, o eleitor independente pode votar em quem quiser.
Os resultados mostram que,
apesar do esforço dos partidos
Democrata e Republicano em
atrair mais eleitores para seus
candidatos, houve um movimento espontâneo dos americanos de
participar do processo eleitoral.
O instituto oferece duas explicações para o inesperado aumento
do número de eleitores independentes: 1) "um grande número de
jovens abaixo de 30 anos, com nenhum interesse histórico em partidos, resolveu votar neste ano"; e
2) "um desalinhamentos das linhas partidárias está levando as
pessoas a uma atitude mais independente".
O CSAE afirma que em eleições
passadas também houve um aumento do número de eleitores
mas não necessariamente no de
pessoas que acabaram votando (o
voto não é obrigatório nos EUA).
Desta vez, porém, o instituto
acredita que o comparecimento
às urnas possa atingir mais de
58%, contra 52% de 2000. Dos cidadãos aptos a votar, 71% estão
registrados em 2004, contra 68%
na eleição de 2000.
"Nesta eleição, um grande comparecimento às urnas, especialmente nos Estados onde a disputa
está mais acirrada, favorecerá o
candidato [democrata] John
Kerry", afirma o estudo do CSAE.
"O partido do presidente George W. Bush [Republicano] tem
apenas um número limitado de
grupos de eleitores que podem
adicionar ao que tiveram em
2000, como os evangélicos fundamentalistas, militares e pessoas
em áreas rurais", diz o trabalho.
A previsão de aumento do número de eleitores registrados foi
feita de acordo com dados oficiais
de 26 Estados que, segundo o
CSAE, são base estatística sólida
para uma projeção nacional.
Vários especialistas acreditam
que um comparecimento maior
às urnas será decisivo para que a
eleição não tenha um desfecho
demorado como a de 2000.
Segundo essas análises, quanto
maior o número de eleitores,
maiores as chances de Kerry vencer. O democrata tem a preferência dos grupos demográficos que
mais crescem nos EUA, como jovens abaixo de 30 anos e latinos.
"A melhor chance de o eleitorado americano evitar uma repetição do período pós-eleitoral de
2000 é reeleger Bush de forma decisiva -ou derrotá-lo de maneira
incontestável", afirma Theodore
Olson, um dos representantes do
atual presidente na Suprema Corte na batalha judicial da eleição
passada.
Em 2002, o Congresso americano respondeu à confusão eleitoral
de 2000 criando o Help America
Vote Act (ajude a América a votar). A medida é considerada
muito imperfeita, pois não atacou
problemas antigos e acabou
criando outros novos.
O principal deles foi a introdução, pela primeira vez em nível
nacional, do chamado voto provisório. Ele é usado por eleitores
que afirmam estar registrados em
sua seção eleitoral mas cujos nomes, por algum motivo, não aparecem na lista.
Na eleição passada, 100 mil eleitores de Ohio (que já tinha o mecanismo) votaram dessa maneira.
Checados posteriormente, 91%
desses votos foram validados.
Centenas de milhares de pessoas utilizarão os votos provisórios este ano. Considerados suspeitos por natureza, sua checagem é um processo lento e individual, já que a Comissão de Assistência Eleitoral tem de investigar,
um a um, se de fato o eleitor pertencia à seção em que votou.
Sua contagem em alguns Estados será absolutamente necessária se a diferença de votos do ganhador sobre o perdedor for menor do que o total de votos provisórios. Segundo as atuais pesquisas eleitorais, isso pode ocorrer
em vários locais.
"Podemos estar dentro dessa
margem de litígio em cerca de dez
Estados", afirma Edward Foley,
professor de Direito Eleitoral da
Universidade Estadual de Ohio.
A adoção do voto provisório em
nível nacional e outras suspeitas
de fraude está levando os partidos
Republicano e Democrata a recrutar um exército de funcionários para tentar checar, logo nas
filas de votação, a legitimidade
dos eleitores nas seções.
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