São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Total chegará a 143 milhões, revelando o interesse na votação; a maioria dos novos registrados se declarou "independente"

EUA ganham 10 milhões de eleitores

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Mais de 10 milhões de pessoas se registraram para votar nas eleições de 2004 nos EUA, aumentando o número de possíveis eleitores para 143 milhões.
O número é mais do que o dobro do projetado caso o nível de registro se mantivesse em patamares históricos, o que revela um imenso interesse dos americanos no processo eleitoral deste ano.
Mas o dado mais surpreendente do resultado, divulgado ontem pelo apartidário Comitê de Estudos do Eleitorado Americano (CSAE, na sigla em inglês), é que a maior parte dos novos eleitores não se filiou em nenhum dos dois partidos que disputam a eleição, o Republicano e o Democrata.
Cerca de 80% dos novos eleitores se registraram como "independentes", e a maior parte das novas filiações ficou concentrada exatamente nos 12 Estados onde a disputa está mais acirrada.
Assim como o republicano e o democrata, o eleitor independente pode votar em quem quiser.
Os resultados mostram que, apesar do esforço dos partidos Democrata e Republicano em atrair mais eleitores para seus candidatos, houve um movimento espontâneo dos americanos de participar do processo eleitoral.
O instituto oferece duas explicações para o inesperado aumento do número de eleitores independentes: 1) "um grande número de jovens abaixo de 30 anos, com nenhum interesse histórico em partidos, resolveu votar neste ano"; e 2) "um desalinhamentos das linhas partidárias está levando as pessoas a uma atitude mais independente".
O CSAE afirma que em eleições passadas também houve um aumento do número de eleitores mas não necessariamente no de pessoas que acabaram votando (o voto não é obrigatório nos EUA).
Desta vez, porém, o instituto acredita que o comparecimento às urnas possa atingir mais de 58%, contra 52% de 2000. Dos cidadãos aptos a votar, 71% estão registrados em 2004, contra 68% na eleição de 2000.
"Nesta eleição, um grande comparecimento às urnas, especialmente nos Estados onde a disputa está mais acirrada, favorecerá o candidato [democrata] John Kerry", afirma o estudo do CSAE.
"O partido do presidente George W. Bush [Republicano] tem apenas um número limitado de grupos de eleitores que podem adicionar ao que tiveram em 2000, como os evangélicos fundamentalistas, militares e pessoas em áreas rurais", diz o trabalho.
A previsão de aumento do número de eleitores registrados foi feita de acordo com dados oficiais de 26 Estados que, segundo o CSAE, são base estatística sólida para uma projeção nacional.
Vários especialistas acreditam que um comparecimento maior às urnas será decisivo para que a eleição não tenha um desfecho demorado como a de 2000.
Segundo essas análises, quanto maior o número de eleitores, maiores as chances de Kerry vencer. O democrata tem a preferência dos grupos demográficos que mais crescem nos EUA, como jovens abaixo de 30 anos e latinos.
"A melhor chance de o eleitorado americano evitar uma repetição do período pós-eleitoral de 2000 é reeleger Bush de forma decisiva -ou derrotá-lo de maneira incontestável", afirma Theodore Olson, um dos representantes do atual presidente na Suprema Corte na batalha judicial da eleição passada.
Em 2002, o Congresso americano respondeu à confusão eleitoral de 2000 criando o Help America Vote Act (ajude a América a votar). A medida é considerada muito imperfeita, pois não atacou problemas antigos e acabou criando outros novos.
O principal deles foi a introdução, pela primeira vez em nível nacional, do chamado voto provisório. Ele é usado por eleitores que afirmam estar registrados em sua seção eleitoral mas cujos nomes, por algum motivo, não aparecem na lista.
Na eleição passada, 100 mil eleitores de Ohio (que já tinha o mecanismo) votaram dessa maneira. Checados posteriormente, 91% desses votos foram validados.
Centenas de milhares de pessoas utilizarão os votos provisórios este ano. Considerados suspeitos por natureza, sua checagem é um processo lento e individual, já que a Comissão de Assistência Eleitoral tem de investigar, um a um, se de fato o eleitor pertencia à seção em que votou.
Sua contagem em alguns Estados será absolutamente necessária se a diferença de votos do ganhador sobre o perdedor for menor do que o total de votos provisórios. Segundo as atuais pesquisas eleitorais, isso pode ocorrer em vários locais.
"Podemos estar dentro dessa margem de litígio em cerca de dez Estados", afirma Edward Foley, professor de Direito Eleitoral da Universidade Estadual de Ohio.
A adoção do voto provisório em nível nacional e outras suspeitas de fraude está levando os partidos Republicano e Democrata a recrutar um exército de funcionários para tentar checar, logo nas filas de votação, a legitimidade dos eleitores nas seções.


Texto Anterior: Em encontro presenciado pela Folha, Arafat estava entusiasmado
Próximo Texto: Imperiais: Sorte no jogo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.