São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES NOS EUA/ AVANÇO DA OPOSIÇÃO

Estado-termômetro, Ohio assiste à virada dos democratas

Segundo analistas políticos e historiadores, cenário local reflete inquietação com governo federal que toma o país

Após ajudar vitória de Bush em 2000 e 2004, Estado deve dar à oposição vagas no Senado, no governo e mais cadeiras na Câmara

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A COLUMBUS (OHIO)

Na quinta-feira, o comando central do Partido Republicano informou que não bancaria mais novos anúncios para seu candidato ao Senado por Ohio.
O fechar de torneira num momento vital da campanha veio depois de o assessor presidencial Karl Rove, apelidado pela oposição de "o cérebro de Bush", ter pedido que Mike DeWine fosse mais agressivo nos debates com o oponente, Sherrod Brown -sem resultado.
A decisão é quase uma admissão adiantada de derrota num dos Estados-chaves das eleições de 7 de novembro, que renovarão um terço do Senado, toda a Câmara dos Representantes (deputados) e 36 dos 50 governos estaduais e podem dar o controle do Congresso à oposição democrata pela primeira vez desde os anos 90 e dificultar os dois anos de governo que restam a George W. Bush.
Pela localização, histórico e demografia, Ohio é um termômetro dos EUA para o qual todos olham em anos eleitorais -como disse a revista "The Economist", "esse pedaço do Meio-Oeste tem tudo que é americano: parte nordeste, parte sul; parte urbano, parte rural; parte pobreza profunda, parte subúrbios ascendentes".
Há 16 anos, o governador é republicano, mas Bill Clinton "levou" o Estado nas votações presidenciais de 1992 e 1996. Quatro anos depois, George W. Bush ganharia numa disputa apertada com Al Gore. Em 2004, a direita religiosa saiu de casa para votar, acabou com a tendência de alta em torno de John Kerry e deu nova vitória suada ao presidente -por 119 mil votos de diferença.

Oposição ganha fôlego
Pois o clima mudou entre os 11 milhões de habitantes deste Estado industrial. É o que mostram as últimas pesquisas de intenção de voto, que dão vantagem média de 16 pontos aos democratas em geral. Além do senador, deve levar o candidato democrata ao governo, Ted Strickland, e as atuais seis vagas democratas na Câmara devem subir a ao menos nove.
É o que comprovaram também entrevistas com eleitores, militantes, analistas, religiosos e os comandos dos dois partidos nos quatro dias que a Folha passou no Estado, no fim da semana passada. "O ambiente está contaminado para os republicanos", diz Joe Hallett, experiente analista político local.
"Se o furacão Katrina foi um desastre de categoria 3, o que se aproxima para o partido do presidente será categoria 5", faz coro Benjamin Marrison, editorialista do "The Columbus Dispatch", o maior jornal da região -conservador, é a primeira vez em 84 anos que não apóia um republicano.
"O que acontece em Ohio é um reflexo da inquietação que toma o país", diz Paul Beck, professor de sociologia da Universidade Estadual local. "Somos um microcosmo dos EUA, não raro adiante de tendências que se confirmarão depois."
Seguindo esse raciocínio, diz Beck, haverá abstenção maior entre os republicanos, provocada pelo descontentamento com a Guerra do Iraque, o escândalo sexual do ex-deputado Mark Foley, as denúncias de corrupção e a economia. Não necessariamente nessa ordem.


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