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ELEIÇÕES NOS EUA/ GASTOS DE CAMPANHA
Corrida estadual custa US$ 50 mi em Ohio
Diante de meta maior de convencer eleitor a votar, Estado é o recordista em dinheiro despendido na disputa eleitoral
Guardando forças para as 72 horas finais, republicanos repisam Iraque e valores, enquanto oposição mira os escândalos dos adversários
DO ENVIADO A COLUMBUS (OHIO)
Oficialmente, nenhum dos
dois lados coloca a bandeira
azul (democrata) ou vermelha
(republicana) no espaço reservado a Ohio no mapa. Analistas
como Charles Cook, do "Cook
Report", a "bíblia" das eleições
norte-americanas, definem hoje o Estado como "tendendo
aos democratas", depois de ter
sido "indeciso", há dez dias, e
"tendendo aos republicanos",
há 20.
Enquanto isso, mesmo com a
anunciada ausência de nova injeção financeira por parte dos
republicanos, a disputa por
Ohio pode ser demonstrada em
dólares: este já é o Estado que
levou mais recursos de campanha dos partidos em 2006. Foram US$ 50 milhões só para a
corrida ao governo, o dobro do
recorde anterior, e US$ 20 milhões para anúncios de televisão, recorde em eleições não-presidenciais.
Segundo cálculos do "Columbus Dispatch", se resolver
só assistir propaganda eleitoral
paga, o morador de Ohio verá
oito dias consecutivos de TV,
24 horas por dia. E o que verá
não é bonito. De um lado, democratas martelando o caso
Bob Ney, congressista republicano do Estado condenado à
prisão por aceitar presentes e
ligado ao esquema do megalobista Jack Abramoff.
Do outro, republicanos rebatendo na tecla conservadora.
"Quem vai defender seu direito
de carregar armas?", pergunta
um folheto do candidato ao governo Kenneth Blackwell, com
uma foto sua com uma espingarda desarmada displicentemente colocada sobre o ombro
esquerdo. Na sua própria lista
de atributos: "Possui armas em
casa" e "É membro do NRA" (a
associação nacional de fuzis).
Em outra peça, um senhor
grisalho diz: "A Al Qaeda matou
3.000 americanos no 11 de Setembro e fará o que puder para
destruir nosso estilo de vida.
Esse inimigo deve ser destruído no Iraque e onde mais o
acharmos. Não podemos retroceder nessa guerra". É David
Beamer, uma celebridade local.
Seu filho, Todd, seria o autor da
frase "Let's roll!" no vôo United
93, que caiu na Pensilvânia.
Indecisos
"O eleitor está com exaustão
visual", define o analista Joe
Hallett, para quem os anúncios
pregam para convertidos e não
ajudam a mudar a opinião de
uma parcela importante do
eleitorado: os indecisos. Como
no resto do país, no entanto,
também estes parecem tender
a votar nos democratas, na análise do acadêmico Paul Beck.
É o caso de Allix Degraff, 18,
estudante de comunidades de
inteligência que quer trabalhar
na CIA ou no FBI e viu seus pais
votarem em republicanos durante toda sua vida. Pois seu
primeiro voto irá para a oposição. "É a vez deles", decreta. Pela análise da estudante, secundada por gritos de "yes!" de
meia dúzia de colegas ao seu lado, "o ato mais patriótico que
podemos ter é questionar nosso governo". Para ela, "os EUA
têm hoje a pior imagem internacional da história".
Em trincheira oposta está
Ben LaRocco, 25, que coordena
a distribuição de folhetos para
os republicanos, para quem seu
partido conta com uma "capacidade mobilizadora" que falta
aos democratas. Ele se refere à
"campanha de 72 horas", institucionalizada no país todo por
Karl Rove nas eleições presidenciais, segundo a qual os militantes devem concentrar seus
esforços nos dois dias anteriores e no dia da eleição e direcioná-los a fazer as pessoas sair de
casa e votar -o voto não é obrigatório nos EUA. "Mas, é fato,
neste ano está mais difícil",
concede LaRocco.
Ele concorda que um dos
motivos é a Guerra do Iraque. O
total de soldados norte-americanos mortos se aproxima rapidamente dos 3.000. Desses, pelo menos cem eram da Companhia Lima, unidade de reserva
dos fuzileiros navais baseada
em Columbus, capital do Estado. São cem famílias atingidas,
que repercutem a dor como
uma pedra no lago e acabam
por criar um sentimento antiguerra, crê Joe Hallett.
O outro são os índices econômicos, piores nesse Estado que
resiste em fazer sua transição
de sociedade industrial para
pós-industrial, diferentemente
do resto do país. O índice de desemprego local é 5,7%, ou um
ponto percentual acima da média nacional. Só nos últimos
cinco anos, Ohio perdeu 200
mil vagas para operários.
Nesse ponto, todos concordam: a culpa não é especificamente de democratas ou republicanos. Mas são os últimos
que estão no poder.
(SÉRGIO DÁVILA)
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