São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES NOS EUA/ GASTOS DE CAMPANHA

Corrida estadual custa US$ 50 mi em Ohio

Diante de meta maior de convencer eleitor a votar, Estado é o recordista em dinheiro despendido na disputa eleitoral

Guardando forças para as 72 horas finais, republicanos repisam Iraque e valores, enquanto oposição mira os escândalos dos adversários

DO ENVIADO A COLUMBUS (OHIO)

Oficialmente, nenhum dos dois lados coloca a bandeira azul (democrata) ou vermelha (republicana) no espaço reservado a Ohio no mapa. Analistas como Charles Cook, do "Cook Report", a "bíblia" das eleições norte-americanas, definem hoje o Estado como "tendendo aos democratas", depois de ter sido "indeciso", há dez dias, e "tendendo aos republicanos", há 20.
Enquanto isso, mesmo com a anunciada ausência de nova injeção financeira por parte dos republicanos, a disputa por Ohio pode ser demonstrada em dólares: este já é o Estado que levou mais recursos de campanha dos partidos em 2006. Foram US$ 50 milhões só para a corrida ao governo, o dobro do recorde anterior, e US$ 20 milhões para anúncios de televisão, recorde em eleições não-presidenciais.
Segundo cálculos do "Columbus Dispatch", se resolver só assistir propaganda eleitoral paga, o morador de Ohio verá oito dias consecutivos de TV, 24 horas por dia. E o que verá não é bonito. De um lado, democratas martelando o caso Bob Ney, congressista republicano do Estado condenado à prisão por aceitar presentes e ligado ao esquema do megalobista Jack Abramoff.
Do outro, republicanos rebatendo na tecla conservadora. "Quem vai defender seu direito de carregar armas?", pergunta um folheto do candidato ao governo Kenneth Blackwell, com uma foto sua com uma espingarda desarmada displicentemente colocada sobre o ombro esquerdo. Na sua própria lista de atributos: "Possui armas em casa" e "É membro do NRA" (a associação nacional de fuzis).
Em outra peça, um senhor grisalho diz: "A Al Qaeda matou 3.000 americanos no 11 de Setembro e fará o que puder para destruir nosso estilo de vida. Esse inimigo deve ser destruído no Iraque e onde mais o acharmos. Não podemos retroceder nessa guerra". É David Beamer, uma celebridade local. Seu filho, Todd, seria o autor da frase "Let's roll!" no vôo United 93, que caiu na Pensilvânia.

Indecisos
"O eleitor está com exaustão visual", define o analista Joe Hallett, para quem os anúncios pregam para convertidos e não ajudam a mudar a opinião de uma parcela importante do eleitorado: os indecisos. Como no resto do país, no entanto, também estes parecem tender a votar nos democratas, na análise do acadêmico Paul Beck.
É o caso de Allix Degraff, 18, estudante de comunidades de inteligência que quer trabalhar na CIA ou no FBI e viu seus pais votarem em republicanos durante toda sua vida. Pois seu primeiro voto irá para a oposição. "É a vez deles", decreta. Pela análise da estudante, secundada por gritos de "yes!" de meia dúzia de colegas ao seu lado, "o ato mais patriótico que podemos ter é questionar nosso governo". Para ela, "os EUA têm hoje a pior imagem internacional da história".
Em trincheira oposta está Ben LaRocco, 25, que coordena a distribuição de folhetos para os republicanos, para quem seu partido conta com uma "capacidade mobilizadora" que falta aos democratas. Ele se refere à "campanha de 72 horas", institucionalizada no país todo por Karl Rove nas eleições presidenciais, segundo a qual os militantes devem concentrar seus esforços nos dois dias anteriores e no dia da eleição e direcioná-los a fazer as pessoas sair de casa e votar -o voto não é obrigatório nos EUA. "Mas, é fato, neste ano está mais difícil", concede LaRocco.
Ele concorda que um dos motivos é a Guerra do Iraque. O total de soldados norte-americanos mortos se aproxima rapidamente dos 3.000. Desses, pelo menos cem eram da Companhia Lima, unidade de reserva dos fuzileiros navais baseada em Columbus, capital do Estado. São cem famílias atingidas, que repercutem a dor como uma pedra no lago e acabam por criar um sentimento antiguerra, crê Joe Hallett.
O outro são os índices econômicos, piores nesse Estado que resiste em fazer sua transição de sociedade industrial para pós-industrial, diferentemente do resto do país. O índice de desemprego local é 5,7%, ou um ponto percentual acima da média nacional. Só nos últimos cinco anos, Ohio perdeu 200 mil vagas para operários.
Nesse ponto, todos concordam: a culpa não é especificamente de democratas ou republicanos. Mas são os últimos que estão no poder.
(SÉRGIO DÁVILA)


Texto Anterior: Estado-termômetro, Ohio assiste à virada dos democratas
Próximo Texto: Eleições nos EUA/ Direita religiosa: "É deprimente", diz reverendo pró-Bush
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.