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ELEIÇÃO NA ARGENTINA /VOTAÇÃO CONFUSA
Oposição denuncia sumiço de cédulas
Cinco das coligações oposicionistas apresentam queixa à Justiça Eleitoral
Ministro do Interior contesta denúncias, atribui responsabilidade a fiscais e diz que eleições foram "as mais cristalinas" da história
Fernando Canzian/Folha Imagem
| Já encerrado o horário oficial às 18h, centenas de pessoas esperam para votar em colégio de Buenos Aires, prazo foi estendido |
DO ENVIADO À ARGENTINA
DE BUENOS AIRES
As coligações dos cinco principais candidatos da oposição à
Presidência argentina apresentaram uma denúncia ante a
Justiça Eleitoral pela suposta
"falta sistemática" de cédulas
de seus candidatos nas seções
eleitorais.
Na Argentina, não existe voto
eletrônico; o eleitor entra em
um chamado "quarto escuro",
onde as cédulas com os nomes
dos candidatos estão dispostas
sobre uma mesa. O eleitor deve
escolher uma, depositar num
envelope, sair da cabine e inserir o envelope em uma urna.
As coligações de Elisa Carrió,
Roberto Lavagna, Alberto Rodríguez Saá, Ricardo López
Murphy e Jorge Sobisch denunciaram a falta de cédulas
desses candidatos ante a Justiça. Segundo a denúncia apresentada pelos partidos, a falta
de cédulas teve duas causas
principais: a ausência de cédulas no início da votação, embora as coligações, responsáveis
por sua elaboração, as tenham
entregue ao Correio, que deve
distribuí-las; e o que qualificaram como "roubo sistemático e
maciço" das cédulas durante o
transcurso das eleições.
"Já fizemos denúncias por
falta de cédulas. O Correio faz
isso de propósito. Temos que
derrotar a fraude. É a primeira
vez desde 1946 que se vislumbra tão fortemente a possibilidade de fraude", afirmou Rodríguez Saá, um peronista dissidente, logo após votar.
O cineasta Fernando "Pino"
Solanas, candidato por um pequeno partido de esquerda,
também se disse vítima da falta
de cédulas. "Tem algum bicho
misterioso que come cédulas,
com uma estranha preferência
pelas nossas."
As denúncias da oposição foram respaldadas pela ONG Poder Cidadão, que registrou ao
menos 200 denúncias de falta
de cédulas. Quase 40% dessas
denúncias se referiam à falta de
cédulas de Carrió, tida como
principal adversária de Cristina. Uma pessoa teria sido detida ao sair de uma seção com todas as cédulas de Carrió.
O ministro do Interior, Alberto Fernández, sob cuja responsabilidade está a organização do processo eleitoral, contestou as denúncias da oposição. Disse que a eleição de ontem foi "a mais cristalina" da
história argentina. "Nem o Ministério do Interior nem o Correio têm responsabilidade pela
falta de cédulas. A reposição, o
controle e o seguimento são
responsabilidade dos fiscais
dos partidos políticos."
A julgar por decisão da própria Justiça Eleitoral, porém,
não faltou fiscalização. Ao estender a votação por uma hora,
a juíza Maria Servini de Cubría
deu como uma das justificativas o atraso provocado pelos
fiscais partidários, que insistiam em revisar os "quartos escuros" constantemente para
averiguar se havia cédulas de
seus candidatos.
(FERNANDO CANZIAN E RODRIGO RÖTZSCH)
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