São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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ELEIÇÃO NA ARGENTINA /VOTAÇÃO CONFUSA

Oposição denuncia sumiço de cédulas

Cinco das coligações oposicionistas apresentam queixa à Justiça Eleitoral

Ministro do Interior contesta denúncias, atribui responsabilidade a fiscais e diz que eleições foram "as mais cristalinas" da história

Fernando Canzian/Folha Imagem
Já encerrado o horário oficial às 18h, centenas de pessoas esperam para votar em colégio de Buenos Aires, prazo foi estendido


DO ENVIADO À ARGENTINA
DE BUENOS AIRES

As coligações dos cinco principais candidatos da oposição à Presidência argentina apresentaram uma denúncia ante a Justiça Eleitoral pela suposta "falta sistemática" de cédulas de seus candidatos nas seções eleitorais.
Na Argentina, não existe voto eletrônico; o eleitor entra em um chamado "quarto escuro", onde as cédulas com os nomes dos candidatos estão dispostas sobre uma mesa. O eleitor deve escolher uma, depositar num envelope, sair da cabine e inserir o envelope em uma urna.
As coligações de Elisa Carrió, Roberto Lavagna, Alberto Rodríguez Saá, Ricardo López Murphy e Jorge Sobisch denunciaram a falta de cédulas desses candidatos ante a Justiça. Segundo a denúncia apresentada pelos partidos, a falta de cédulas teve duas causas principais: a ausência de cédulas no início da votação, embora as coligações, responsáveis por sua elaboração, as tenham entregue ao Correio, que deve distribuí-las; e o que qualificaram como "roubo sistemático e maciço" das cédulas durante o transcurso das eleições.
"Já fizemos denúncias por falta de cédulas. O Correio faz isso de propósito. Temos que derrotar a fraude. É a primeira vez desde 1946 que se vislumbra tão fortemente a possibilidade de fraude", afirmou Rodríguez Saá, um peronista dissidente, logo após votar.
O cineasta Fernando "Pino" Solanas, candidato por um pequeno partido de esquerda, também se disse vítima da falta de cédulas. "Tem algum bicho misterioso que come cédulas, com uma estranha preferência pelas nossas."
As denúncias da oposição foram respaldadas pela ONG Poder Cidadão, que registrou ao menos 200 denúncias de falta de cédulas. Quase 40% dessas denúncias se referiam à falta de cédulas de Carrió, tida como principal adversária de Cristina. Uma pessoa teria sido detida ao sair de uma seção com todas as cédulas de Carrió.
O ministro do Interior, Alberto Fernández, sob cuja responsabilidade está a organização do processo eleitoral, contestou as denúncias da oposição. Disse que a eleição de ontem foi "a mais cristalina" da história argentina. "Nem o Ministério do Interior nem o Correio têm responsabilidade pela falta de cédulas. A reposição, o controle e o seguimento são responsabilidade dos fiscais dos partidos políticos."
A julgar por decisão da própria Justiça Eleitoral, porém, não faltou fiscalização. Ao estender a votação por uma hora, a juíza Maria Servini de Cubría deu como uma das justificativas o atraso provocado pelos fiscais partidários, que insistiam em revisar os "quartos escuros" constantemente para averiguar se havia cédulas de seus candidatos. (FERNANDO CANZIAN E RODRIGO RÖTZSCH)


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