São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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Por 2011, Kirchner quer agora comando do partido peronista

DE BUENOS AIRES

O presidente Néstor Kirchner se vangloria de ter recuperado a Argentina da maior crise de sua história. Fora do poder, terá a partir de 11 de dezembro a missão de resolver outra crise histórica que ele mesmo ajudou a criar: a do peronismo.
Kirchner, 57, já anunciou que seu principal objetivo num futuro próximo é reconstruir o peronismo, fragmentado desde que, em 2002, o então presidente Eduardo Duhalde revogou a lei que determinava primárias nos partidos para eleger candidatos a cargos majoritários. O fez por temor de que seu candidato -Kirchner- perdesse a candidatura para Carlos Menem, que dominava o Partido Justicialista (peronista). Naquela ocasião, o PJ teve três candidatos: Kirchner, Menem e Adolfo Rodríguez Saá.
Desde então, o partido está sob intervenção judicial; nas eleições atuais, pela primeira vez, o nome e os símbolos do PJ não estiveram na cédula dos candidatos presidenciais. Apesar das restrições legais, três candidatos à Presidência se declaram peronistas: Cristina Kirchner, Roberto Lavagna e Alberto Rodríguez Saá.
Embora sobreviva pouco da ideologia de Juan Domingo Perón, o peronismo ainda é muito forte na Argentina; por isso, a aberta disputa por dominar o partido. Além de Kirchner, Duhalde, hoje adversário do presidente, também se impôs o objetivo de recuperar o PJ. E o próprio Menem disse que concorrerá à presidência do PJ.
Kirchner defende o conceito de "concertação plural" e escolheu um membro da histórica rival do peronismo, a UCR (União Cívica Radical), para ser vice de Cristina na chapa para a Presidência. Mas na hora de coletar votos, sabe a importância do aparato peronista, que domina a região mais populosa e eleitoralmente mais significativa da Argentina, a região metropolitana de Buenos Aires.
Historicamente, o peronismo sempre teve ao menos 40% dos votos presidenciais desde 1983. No cenário atual de fragmentação, é o valor que basta para que um presidente seja eleito no primeiro turno.

Máquina eleitoral
Na definição do ensaísta Alejandro Horowicz, o peronismo "funciona como uma máquina eleitoral que é ligada 15 minutos antes das eleições e desligada 30 segundos depois". Kirchner ligou a máquina em potência máxima ao responder dias antes da eleição com uma afirmativa simples ao ser indagado se seu objetivo é se transformar em presidente do PJ.
Embora os Kirchner neguem que a sucessão do presidente pela primeira-dama seja uma estratégia para que o casal se reveze no poder, oposicionistas e analistas vêem a retomada do controle do PJ como o primeiro passo para que Kirchner comece a pensar em um regresso à Casa Rosada em 2011.
(RODRIGO RÖTZSCH)


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