São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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Estrategista-chefe vira amigo e confidente de democrata

JEFF ZELENY
DO "NEW YORK TIMES", EM CHICAGO

O celular de David Axelrod dá sinais de vida, às vezes antes da meia-noite, às vezes depois.
Caso o som seja o de "Signed, Sealed, Delivered I'm Yours", de Stevie Wonder, ele imediatamente deixa a mesa de jantar ou a banqueta do bar, pois é quase certo que Barack Obama esteja na linha, pronto para outra etapa da conversa constante que os dois mantêm já há dois anos -dois anos notáveis.
"Quando o telefone toca às 23h, quase sempre sei quem será", diz Axelrod. "Ele gosta de pensar e trabalhar à noite."
Enquanto Obama avança para os dias finais da disputa pela Casa Branca, o círculo de assessores que o cerca se expande.
Mas quase nenhum deles é tão responsável quanto Axelrod por sua atual situação. O posto de "estrategista-chefe" que ele ocupa formalmente mal indica a extensão dos deveres que vem cumprindo ao acompanhar o senador em sua evolução: amigo, conselheiro e confidente, sempre ao lado do candidato.
De muitas formas, Axelrod serve como exemplo clássico do consultor político de Washington (ainda que ele more em Chicago e afirme que não tem intenção de se transferir para a capital). Ele produz propaganda e aconselha candidatos a prefeituras, ao Senado e à Presidência há um quarto de século, desde que deixou seu emprego como repórter, em 1984. Sua especialidade é mostrar a candidatos negros como atrair o eleitorado branco.
Mas o relacionamento de Axelrod com esse cliente parece um pouco diferente, e o investimento pessoal que ele fez no sucesso de Obama fica evidente na expressão sofrida que ele ostenta sempre que seu candidato está sob ataque.

Laço estreito
No trio dos principais estrategistas da campanha de Obama, que inclui o principal assessor de comunicação, Robert Gibbs, e o diretor de campanha, David Plouffe, é Axelrod que está com Obama há mais tempo e mantém o relacionamento mais estreito com o candidato.
"Ainda que ele seja um homem duro, não se trata de um mercenário", declarou Obama.
"Ele acredita naquilo que está fazendo, e isso o torna um mau consultor quando não acredita no candidato e em um grande consultor quando o faz".
E Axelrod claramente crê. Mas dizer que o faz desde que conheceu Obama, em 1992, seria revisar a história.
O relacionamento deles começou quando a ativista democrata Bettylu Saltzman, de Chicago, sugeriu apresentá-los. Ela era voluntária da primeira campanha presidencial de Bill Clinton, e Obama buscava registrar mais eleitores.
Impressionada, Saltzman previu a seus amigos que Obama seria o primeiro presidente negro dos EUA. Assim, chegou à conclusão de que ele devia ser apresentado ao mais conhecido estrategista político da cidade.
"Falei muito a ele sobre Obama", diz Saltzman, relembrando o momento em que insistiu a Axelrod para que este arranjasse tempo para conhecer o jovem advogado. "Eles têm personalidades complementares.
David é bem mais volátil que Barack". E acrescenta: "O senador o acalmou muito".
Foram precisos alguns anos para que Axelrod adotasse Obama como cliente. Mas, desde então, a união entre eles se tornou mais que apenas profissional. "Ele está sempre em sua melhor forma nos nossos piores momentos; isso nos ajudou a atravessar períodos difíceis", disse Axelrod. "Em uma campanha nacional não é muito comum, mas todos gostamos uns dos outros aqui".

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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