São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Texto Anterior | Índice

Dalai-lama rediscute negociação com Pequim

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O dalai-lama, líder político e religioso do budismo tibetano, convocou uma reunião especial para discutir o futuro das negociações com Pequim. O chamado Parlamento Tibetano no exílio confirmou ontem a reunião na Índia. No sábado, o dalai-lama tinha anunciado o abandono do diálogo com o governo chinês sobre o futuro da Província separatista.
O encontro acontecerá entre 17 e 22 de novembro em Dharamsala, norte da Índia, onde o dalai-lama mora desde 1959, quando fugiu da China após uma tentativa fracassada de golpe. O Tibete é ocupado pela China desde a invasão das tropas comunistas em 1950.
Será uma assembléia com a participação de representantes de todas as organizações tibetanas no exílio. "Qualquer coisa pode sair do encontro, o resultado terá um significado moral e democrático sobre o pensamento da liderança tibetana", disse Karma Choephal, porta-voz do Parlamento.
A China e representantes do dalai-lama tiveram sete reuniões de negociação desde 2002, mas sem maiores avanços. Após o último encontro, em julho, o enviado do dalai-lama, Lodi Gyari, disse que as conversas não teriam significado se não houvesse uma grande mudança de atitude.
"Estive sinceramente tentando alcançar o meio-termo nas negociações com a China por um longo tempo, mas não tive nenhuma resposta positiva do lado chinês", disse o dalai-lama, 73, no sábado. O Prêmio Nobel da Paz defende mais autonomia para a região e a preservação da cultura budista tibetana, mas não quer independência da China.
A discussão chega ao final de um ano conturbado. Uma manifestação pró-autonomia em março terminou em quebra-quebra e violência em Lhasa, a capital do Tibete. Segundo o governo chinês, 22 pessoas, a maioria chineses da etnia han, foram mortos. Grupos tibetanos no exílio dizem que 140 tibetanos foram mortos.
Logo após os incidentes, o governo fechou a região para o mundo. Poucos jornalistas convidados puderam visitar a região, mas sem entrevistar nem monges budistas nem pessoas na rua. Em junho, a região foi reaberta a turistas estrangeiros, mas eles só podem visitar Lhasa e arredores, acompanhados por guias do governo.
O governo chinês não respondeu ao abandono do diálogo pelo dalai-lama e disse que a atitude da China é "sincera". Questionado, o Ministério das Relações Exteriores da China apenas falou que os detalhes da negociação estavam "em discussão" e negou que estivesse interrompida.
"Há um velho ditado chinês que diz que nós devemos julgar um homem não apenas pelo que ele diz, mas pelo que ele faz", disse a porta-voz da Chancelaria chinesa, Jiang Yu.


Texto Anterior: Síria protesta e fecha escola americana
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.