São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Pleito hondurenho racha Congresso dos EUA

No dia da chegada de enviado americano a Tegucigalpa, democratas escrevem carta pedindo a Obama que não reconheça eleição

Thomas Shannon pede a Zelaya que retome as negociações com golpistas, rompidas desde sexta, para tentar pôr fim à crise no país


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O reconhecimento do resultado das eleições presidenciais hondurenhas de novembro pelo governo dos EUA sem a volta de Manuel Zelaya ao poder tem o potencial de dividir não só a região, como disse ontem à Folha o chanceler brasileiro Celso Amorim. O tema já divide o Congresso americano, que luta para influenciar Barack Obama na questão.
Nos últimos dias, os democratas resolveram revidar os esforços dos republicanos de dominar a agenda para a região. Ontem, 16 representantes (deputados federais) democratas mandaram abaixo-assinado ao presidente pedindo em termos duros que o país não aceite a legitimidade do pleito.
"A grande maioria de nossos vizinhos na região, incluindo Brasil e México, indicou claramente que não vai reconhecer os resultados de eleições realizadas sob o regime golpista", escrevem os representantes. "Está na hora de este governo se juntar ao crescente consenso hemisférico e internacional e declarar sem ambiguidade que as eleições organizadas por um governo não democrático, que tem negado a seus críticos os direitos de expressão, de reunião e de ir e vir, não podem e não serão consideradas livres por nosso governo."
Pouco antes, os democratas mais graduados em relações externas do Senado e da Câmara mandaram carta à Biblioteca Legal do Congresso contestando dados de estudo divulgado por aquela entidade, no qual a deposição de Zelaya é parcialmente justificada nos termos da Constituição hondurenha.
A entidade é um braço apartidário do Congresso e tem a missão de pesquisar e dar base legal para os políticos, e o relatório que produziu vem sendo usado como argumento para os republicanos que apoiam o regime de Roberto Micheletti.
Assinada pelo senador John Kerry e o representante Howard Berman, a carta aponta erros factuais no estudo, pede que a biblioteca recolha o documento e o corrija. "O relatório, que está contribuindo para a crise política que ainda destrói Honduras, contém erros factuais e é baseado numa análise legal falha, que vem sendo refutada por especialistas nos EUA, na Organização dos Estados Americanos e em Honduras", escreve a dupla.
A divulgação dos documentos acontece no momento em que a delegação diplomática mais graduada já enviada por Washington para a crise chega a Tegucigalpa para mais um esforço de negociação. A equipe é composta por Thomas Shannon, número 1 da Chancelaria para a América Latina e embaixador indicado por Obama para o Brasil, seu vice, Craig Kelly, e o funcionário mais graduado da Casa Branca para a região, Dan Restrepo, do Conselho de Segurança Nacional.
A confirmação do nome de Shannon para o posto no Brasil, assim como a do seu sucessor no cargo atual, Arturo Valenzuela, está sendo bloqueada pelo senador republicano Jim DeMint, da Carolina do Sul. O político disse que retirará o bloqueio assim que o governo americano se comprometer publicamente a reconhecer o resultado das eleições.

Em Honduras
Em reunião ontem com Zelaya, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, Shannon pediu que as negociações com o governo interino, interrompidas desde sexta-feira, fossem retomadas por mais dois dias.
Zelaya disse que está disposto a retomar o diálogo desde que haja a assinatura do acordo alcançado entre os negociadores para pôr fim à crise política no país. Trata-se de uma alusão à recusa da última oferta de Micheletti, feita informalmente no domingo, de enviar o acordo sem a assinatura das duas partes para ser aprovado ou não pelo Congresso hondurenho.
Shannon também perguntou qual seria o futuro de Zelaya caso não houvesse um acordo para a sua restituição, e o presidente deposto se esquivou, segundo relato obtido pela Folha.
Shannon deixou a embaixada sem dar declarações. Na sequência, se reuniria na Casa Presidencial com Micheletti, que anteontem disse que se recusaria a discutir a restituição de Zelaya com o americano.
Em entrevista após o encontro, Zelaya disse que Shannon reiterou as posições do governo americano de reconhecê-lo como presidente e de que o país não considerará válidas as eleições sem sua restituição.
Ele disse que Micheletti só aceitará sua volta se os EUA tomarem "medidas adicionais".


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