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Pleito hondurenho racha Congresso dos EUA
No dia da chegada de enviado americano a Tegucigalpa, democratas escrevem carta pedindo a Obama que não reconheça eleição
Thomas Shannon pede
a Zelaya que retome as negociações com golpistas, rompidas desde sexta, para tentar pôr fim à crise no país
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O reconhecimento do resultado das eleições presidenciais
hondurenhas de novembro pelo governo dos EUA sem a volta
de Manuel Zelaya ao poder tem
o potencial de dividir não só a
região, como disse ontem à Folha o chanceler brasileiro Celso Amorim. O tema já divide o
Congresso americano, que luta
para influenciar Barack Obama
na questão.
Nos últimos dias, os democratas resolveram revidar os
esforços dos republicanos de
dominar a agenda para a região. Ontem, 16 representantes
(deputados federais) democratas mandaram abaixo-assinado
ao presidente pedindo em termos duros que o país não aceite
a legitimidade do pleito.
"A grande maioria de nossos
vizinhos na região, incluindo
Brasil e México, indicou claramente que não vai reconhecer
os resultados de eleições realizadas sob o regime golpista",
escrevem os representantes.
"Está na hora de este governo
se juntar ao crescente consenso hemisférico e internacional
e declarar sem ambiguidade
que as eleições organizadas por
um governo não democrático,
que tem negado a seus críticos
os direitos de expressão, de
reunião e de ir e vir, não podem
e não serão consideradas livres
por nosso governo."
Pouco antes, os democratas
mais graduados em relações
externas do Senado e da Câmara mandaram carta à Biblioteca
Legal do Congresso contestando dados de estudo divulgado
por aquela entidade, no qual a
deposição de Zelaya é parcialmente justificada nos termos
da Constituição hondurenha.
A entidade é um braço apartidário do Congresso e tem a
missão de pesquisar e dar base
legal para os políticos, e o relatório que produziu vem sendo
usado como argumento para os
republicanos que apoiam o regime de Roberto Micheletti.
Assinada pelo senador John
Kerry e o representante Howard Berman, a carta aponta
erros factuais no estudo, pede
que a biblioteca recolha o documento e o corrija. "O relatório, que está contribuindo para
a crise política que ainda destrói Honduras, contém erros
factuais e é baseado numa análise legal falha, que vem sendo
refutada por especialistas nos
EUA, na Organização dos Estados Americanos e em Honduras", escreve a dupla.
A divulgação dos documentos acontece no momento em
que a delegação diplomática
mais graduada já enviada por
Washington para a crise chega
a Tegucigalpa para mais um esforço de negociação. A equipe é
composta por Thomas Shannon, número 1 da Chancelaria
para a América Latina e embaixador indicado por Obama para o Brasil, seu vice, Craig
Kelly, e o funcionário mais graduado da Casa Branca para a
região, Dan Restrepo, do Conselho de Segurança Nacional.
A confirmação do nome de
Shannon para o posto no Brasil, assim como a do seu sucessor no cargo atual, Arturo Valenzuela, está sendo bloqueada
pelo senador republicano Jim
DeMint, da Carolina do Sul. O
político disse que retirará o
bloqueio assim que o governo
americano se comprometer
publicamente a reconhecer o
resultado das eleições.
Em Honduras
Em reunião ontem com Zelaya, na Embaixada do Brasil em
Tegucigalpa, Shannon pediu
que as negociações com o governo interino, interrompidas
desde sexta-feira, fossem retomadas por mais dois dias.
Zelaya disse que está disposto a retomar o diálogo desde
que haja a assinatura do acordo
alcançado entre os negociadores para pôr fim à crise política
no país. Trata-se de uma alusão
à recusa da última oferta de Micheletti, feita informalmente
no domingo, de enviar o acordo
sem a assinatura das duas partes para ser aprovado ou não
pelo Congresso hondurenho.
Shannon também perguntou
qual seria o futuro de Zelaya caso não houvesse um acordo para a sua restituição, e o presidente deposto se esquivou, segundo relato obtido pela Folha.
Shannon deixou a embaixada sem dar declarações. Na sequência, se reuniria na Casa
Presidencial com Micheletti,
que anteontem disse que se recusaria a discutir a restituição
de Zelaya com o americano.
Em entrevista após o encontro, Zelaya disse que Shannon
reiterou as posições do governo americano de reconhecê-lo
como presidente e de que o
país não considerará válidas as
eleições sem sua restituição.
Ele disse que Micheletti só
aceitará sua volta se os EUA tomarem "medidas adicionais".
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