São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Na ONU, EUA e Cuba travam áspero embate

Havana tem respaldo recorde em votação anual contra embargo; fora do plenário, chanceler cubano faz aceno a Obama

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A Assembleia Geral da ONU condenou ontem o embargo americano contra Cuba por 187 votos a 3, além de 2 abstenções, num ritual que acontece anualmente e não tem nenhum efeito prático. O que chamou atenção, porém, foi a dura troca de acusações entre os representantes de Washington e Havana, quando os países sinalizam um lento degelo das relações.
Este é o 18º ano consecutivo que o assunto é discutido na ONU, e, na primeira votação sob Barack Obama -que renovou no mês passado a legislação de embargo por mais um ano-, a rejeição ao embargo foi recorde. Somente dois países apoiaram os EUA: Israel e Palau. As duas abstenções foram de Micronésia e Ilhas Marshall.
No plenário, o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, afirmou que o embargo representa crime de genocídio "eticamente inaceitável". "Desde a eleição de Obama não houve qualquer mudança no bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba. Continua sendo uma política absurda", disse.
A embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, disse que o discurso cubano parecia ter saído da Guerra Fria. "O uso do termo diminui o sofrimento das vítimas de genocídio ao redor do mundo." Rice destacou que Obama iniciou um novo capítulo na relação entre os países, mas que o embargo é uma discussão bilateral.
Ela citou medidas adotadas neste ano, como o fim das restrições de viagens e de limites de remessas para o país (válidas só para os cubanos-americanos) e a discussão bilateral para retomar serviço postal direto.
Rice chamou as medidas de passos iniciais, e reiterou que um avanço nas relações entre Cuba e EUA depende, principalmente, de mudanças na ilha em relação a direitos humanos.
À agência Associated Press, o chanceler cubano se disse "um pouco surpreso" com a dureza das palavras iniciais de Rice. "Ela é uma pessoa articulada, decente, como o presidente Obama. Nós os respeitamos por isso", disse, também mais ameno do que no plenário.
Rodríguez voltou a dizer que Cuba está pronta para conversar com os EUA "em qualquer nível". Disse que o governo comunista está satisfeito com o andamento das conversas iniciadas com os EUA sobre imigração e com a retomada do correio direto entre os países.
O chanceler afirmou que esperava resposta americana para a proposta de Havana de retomar as conversas bilaterais sobre combate ao tráfico de drogas e terrorismo.
Na Espanha, Cuba enviou outro recado aos americanos. Alejandro Galiano, embaixador de Cuba em Madri, disse ao jornal "El País" que a ilha não precisa de intermediários nas discussões com os EUA.
A declaração veio após a divulgação de que Obama pediu ao presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que mandasse, por meio de seu chanceler, o seguinte recado aos irmãos Castro: "Se vocês não dão passos, tampouco posso dá-los".


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