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EUA tentam aparar arestas com Brasil na questão nuclear
Às vésperas da chegada do presidente iraniano a Brasília, Itamaraty recebe negociadora de Obama
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas da visita do presidente iraniano ao Brasil, Barack Obama enviou sua representante para desarmamento e
não proliferação nuclear ao
país para tentar obter apoio do
governo Lula no tema. Hoje, a
posição brasileira difere em vários pontos da americana.
A embaixadora Susan Burk
foi recebida no Itamaraty pelo
responsável pela área, ministro
Santiago Mourão, e pela subsecretária de Assuntos Políticos,
Vera Machado. "Foi uma conversa produtiva, falamos sobre
nossas concordâncias e discordâncias", disse diplomaticamente Burk.
Mas não houve avanços, segundo a Folha apurou. Para o
governo brasileiro, dois dos
principais pontos que ela defende em sua campanha preparatória para a revisão do TNP
(Tratado de Não Proliferação
Nuclear) são vistos como ingerência na soberania nacional.
São eles a criação de um banco mundial de combustível nuclear e a adesão aos chamados
Protocolos Adicionais do TNP.
O banco seria gerido pela
Agência Internacional de
Energia Atômica e controlaria
toda a produção de produtos
como o urânio -que serve tanto para usinas nucleares quanto para armas, a depender do
grau de seu enriquecimento. A
ideia ventilada é evitar que eles
caiam em mãos de países belicosos ou grupos terroristas.
Para o Brasil, que tem a sexta
maior reserva de urânio do
mundo e tem planos de enriquecê-lo em escala industrial,
isso significa tutela sobre um
recurso natural. Já os protocolos, que visam ampliar os controles internacionais sobre o
processamento de material radioativo, já tiveram sua adesão
negada na Estratégia Nacional
de Defesa do governo Lula
-salvo se potências como os
EUA se desarmarem, algo que
não irá ocorrer, a despeito das
promessas de Obama.
O TNP será revisto em maio
do ano que vem, e Burk prevê
"muita tensão" à frente. Ela nega relação de sua visita com o
alinhamento do Brasil a Teerã
na questão nuclear e não comenta a posição brasileira. O
programa dos aiatolás é visto
pelo Ocidente como um passo
para a obtenção da bomba, o
que é negado pelo Irã.
Burk não quis comentar a
contraproposta iraniana à ideia
de processar seu urânio na
Rússia como parte da negociação para acalmar o mundo.
Teerã não aceita enviar todo
seu minério de uma só vez.
Luiz Inácio Lula da Silva e
seu colega iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, dizem compartilhar a mesma visão independente do uso de energia nuclear. O iraniano virá ao Brasil
no mês que vem.
Burk defende uma agenda
que inclui também a desnuclearização do Oriente Médio
"incluindo Israel". O Estado judaico, maior aliado americano
na região e hoje o arquirrival do
Irã, não admite possuir a bomba, embora seja notório que tenha. Se Obama vai levar a cabo
a promessa, é outra história.
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