São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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EUA tentam aparar arestas com Brasil na questão nuclear

Às vésperas da chegada do presidente iraniano a Brasília, Itamaraty recebe negociadora de Obama

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Às vésperas da visita do presidente iraniano ao Brasil, Barack Obama enviou sua representante para desarmamento e não proliferação nuclear ao país para tentar obter apoio do governo Lula no tema. Hoje, a posição brasileira difere em vários pontos da americana.
A embaixadora Susan Burk foi recebida no Itamaraty pelo responsável pela área, ministro Santiago Mourão, e pela subsecretária de Assuntos Políticos, Vera Machado. "Foi uma conversa produtiva, falamos sobre nossas concordâncias e discordâncias", disse diplomaticamente Burk.
Mas não houve avanços, segundo a Folha apurou. Para o governo brasileiro, dois dos principais pontos que ela defende em sua campanha preparatória para a revisão do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) são vistos como ingerência na soberania nacional.
São eles a criação de um banco mundial de combustível nuclear e a adesão aos chamados Protocolos Adicionais do TNP. O banco seria gerido pela Agência Internacional de Energia Atômica e controlaria toda a produção de produtos como o urânio -que serve tanto para usinas nucleares quanto para armas, a depender do grau de seu enriquecimento. A ideia ventilada é evitar que eles caiam em mãos de países belicosos ou grupos terroristas.
Para o Brasil, que tem a sexta maior reserva de urânio do mundo e tem planos de enriquecê-lo em escala industrial, isso significa tutela sobre um recurso natural. Já os protocolos, que visam ampliar os controles internacionais sobre o processamento de material radioativo, já tiveram sua adesão negada na Estratégia Nacional de Defesa do governo Lula -salvo se potências como os EUA se desarmarem, algo que não irá ocorrer, a despeito das promessas de Obama.
O TNP será revisto em maio do ano que vem, e Burk prevê "muita tensão" à frente. Ela nega relação de sua visita com o alinhamento do Brasil a Teerã na questão nuclear e não comenta a posição brasileira. O programa dos aiatolás é visto pelo Ocidente como um passo para a obtenção da bomba, o que é negado pelo Irã.
Burk não quis comentar a contraproposta iraniana à ideia de processar seu urânio na Rússia como parte da negociação para acalmar o mundo. Teerã não aceita enviar todo seu minério de uma só vez.
Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, dizem compartilhar a mesma visão independente do uso de energia nuclear. O iraniano virá ao Brasil no mês que vem.
Burk defende uma agenda que inclui também a desnuclearização do Oriente Médio "incluindo Israel". O Estado judaico, maior aliado americano na região e hoje o arquirrival do Irã, não admite possuir a bomba, embora seja notório que tenha. Se Obama vai levar a cabo a promessa, é outra história.


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