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Diplomacia presidencial do Brasil é vital para a região, dizem analistas
Para especialistas, diversidade política e assimetrias econômicas impõem papel de coordenação ao Brasil
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A CAXAMBU (MG)
A diversidade de sistemas
políticos e as assimetrias econômicas na América do Sul aumentam a importância da diplomacia presidencial brasileira para a gerência de conflitos
na região, de natureza econômico-comercial ou política.
Isso representará um desafio
para o presidente eleito em
2010, depois de 16 anos em que
os ocupantes do Planalto
-Fernando Henrique Cardoso
e Luiz Inácio Lula da Silva- se
sentiam à vontade em tomar a
frente de iniciativas regionais.
Esse foi um dos pontos ressaltados no painel sobre integração sul-americana realizado
ontem no encontro anual da
Anpocs (Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa
em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).
"A fragmentação política cria
demanda por liderança, e Lula
tem cumprido esse papel. Um
presidente mais retraído não
responde tão bem", disse Alcides Vaz, da UnB. Maria Regina
Soares de Lima, do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio), lembrou que a vantagem da diplomacia presidencial é "excluir os elementos
mais corporativos da política
externa", favorecendo a resolução de disputas.
Vaz, Lima e mais dois especialistas traçaram panorama da
integração regional que pode
ser visto como um copo meio
cheio ou meio vazio e destacaram duas fases: uma que vai de
meados dos anos 80, quando foi
criado o Mercosul, até 1997, e
outra desde então.
Na primeira, coincidente
com a redemocratização dos
países que passaram por ditaduras militares, havia relativa
homogeneidade política e econômica. Na segunda, a partir da
crise asiática, houve alternância de forças no poder em 7 dos
12 países e projetos econômicos divergentes.
Ao mesmo tempo, se aprofundou a tendência regional de
diversificação das parcerias comerciais, com os Estados Unidos permanecendo importantes e o aumento das trocas com
a China. "Essa diversidade é
complexa quando se pensa numa integração segundo o modelo da União Europeia. Mas
integração "light" não é problema", disse Lima.
Ela propôs que a posição do
Brasil, que responde por 50%
da economia sul-americana e
dirige cerca de 20% de suas exportações à região, seja pensada não como de liderança clássica, mas como um "exercício
de tarefas de coordenação",
com uma estratégia diferente
para cada problema.
"Pode-se pensar o caso do
Banco do Sul, em que a proposta venezuelana foi moldada a
interesses brasileiros, como
um exercício de liderança coercitiva, enquanto o Conselho
Sul-Americano de Defesa seria
uma tentativa de liderança intelectual", afirmou.
Maria Celina D'Araujo, da
PUC-RJ, questionou se a liderança brasileira seria de fato
uma necessidade ou um "mantra que se repete de forma pouco crítica", relegando a segundo
plano problemas internos graves na área social.
Os outros debatedores concordaram que antigas ambições sobre projetos de integração na América do Sul -como o
próprio Mercosul ou a IIRSA,
iniciativa de conexão da infraestrutura regional lançada
em 2000- acabaram sendo revistas. Mas disseram que, paradoxalmente, são os vizinhos
que cobram hoje do Brasil um
papel mais ativo.
"A exigência em relação ao
Brasil é que ele se torne o "paymaster" [fiador] da região. Há
reconhecimento da hegemonia, ainda que sob a forma de
"luta contra o imperialismo" em
países como Bolívia ou Paraguai", disse Tullo Vigevani, da
Unesp.
Ele lembrou das resistências
no Brasil a pagar pelo custo da
liderança. "As elites têm dúvidas sobre a integração", disse.
"A questão", emendou Lima, "é
que estamos dentro da região.
Não podemos sair fora, colocar
o Brasil na Europa".
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