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Rivais históricos se unem contra Mujica no Uruguai
Terceiro nas eleições, Partido Colorado anuncia apoio a candidato do Partido Nacional
Para Pedro Bordaberry, Luis Alberto Lacalle representa um "compromisso claro
e inequívoco de respeito
à Constituição e às leis"
THIAGO GUIMARÃES
DA REDAÇÃO
Rivais desde o século 19, os
dois partidos tradicionais do
Uruguai -Colorado e Nacional
(Blanco), ambos de centro-direita- voltarão a se unir para
tentar vencer a governista
Frente Ampla (esquerda), no
segundo turno das eleições presidenciais, em 29 de novembro.
Terceiro colocado nas eleições do último domingo, com
16,9% dos votos, o Partido Colorado anunciou ontem apoio
ao ex-presidente Luis Alberto
Lacalle (1990-1995), do Partido
Nacional, que obteve 28,9% no
primeiro turno, longe dos
48,16% do ex-guerrilheiro José
Mujica, candidato do presidente Tabaré Vázquez.
"A concentração de poder em
partidos e pessoas não contribui ao equilíbrio democrático e
republicano", disse à Folha o
colorado Pedro Bordaberry,
49, terceiro colocado no pleito
presidencial, em referência à
provável manutenção, pelo governo, da maioria absoluta no
Congresso. "Não é bom que
Mujica tenha tanto poder."
Filho do ex-ditador Juan
María Bordaberry (1972-1976),
o colorado disse que o liberal
Lacalle representa um "compromisso claro com a Constituição, as leis e a tolerância".
Citou entrevista recente de
Mujica em que o candidato disse não acreditar na Justiça.
O discurso de Bordaberry
antecipa a estratégia de Lacalle
no segundo turno: associar o
destempero verbal de Mujica à
falta de preparo para o cargo e
defender a vitória de blancos e
colorados como forma de equilibrar os Poderes no país.
"Não ter maiorias obriga a
governar para todos, e não para
uma fração", afirmou ontem o
senador Gustavo Penadés, novo chefe de campanha de Lacalle, ao jornal "El País".
A aliança atual repete, em
papéis invertidos, o roteiro da
eleição presidencial de 1999,
quando Lacalle, então terceiro
colocado, apoiou o colorado
Jorge Battle no segundo turno
contra o atual presidente Tabaré Vázquez. A união conservadora conseguiu reverter a derrota no primeiro turno, e Battle
venceu com 54% dos votos.
Nesta eleição, contudo, ao
contrário da de 1999, a votação
conjunta de blancos e colorados no primeiro turno não superou a da Frente Ampla. Daí a
importância do posicionamento no segundo turno de partidos menores, como o Independente (2,5% dos votos). "O papel desses partidos será chave",
afirmou o sociólogo Eduardo
Bottinelli, da Factum.
Antes das eleições, o Partido
Independente anunciou que se
manteria neutro em um eventual segundo turno. Após a
confirmação da nova votação,
ainda não se pronunciou.
Para Bottinelli, o apoio dos
colorados tornará a eleição
mais disputada, mas não haverá transferência direta de votos
da sigla para Lacalle. "Há uma
fatia menor que deve votar em
Mujica ou em branco."
O apoio do Partido Colorado
também significa o respaldo
daquele que foi considerado
um dos grandes vencedores da
eleição, por ter saído de 10,3%
na eleição de 2004 para 16,9%
no pleito de domingo. Pelos dados preliminares, a sigla passou
de 3 para 5 senadores e de 10
para 17 deputados.
"Bordaberry é jovem, com
discurso mais conciliador, e
captou na eleição votos colorados perdidos no passado e de
desiludidos com Lacalle", disse
Bottinelli.
Em amostra de que ainda
pretende ser protagonista na
política uruguaia, o candidato
colorado disse que seu apoio se
restringirá à declaração do partido. Afirmou que não participará de atos de campanha com
Lacalle e que não houve acordo
para participação em um eventual governo blanco. "Por isso
declarei meu apoio pessoal ainda no domingo."
Na campanha de Mujica, a
união dos rivais foi recebida
com "tranquilidade", conforme
um coordenador que pediu para não ser identificado.
A estratégia do candidato governista será evitar declarações
polêmicas na reta final de campanha e acenar com participação no governo aos partidos de
esquerda que integram a Frente Ampla.
Segundo analistas, Mujica
também buscará capitalizar a
maioria no Congresso praticamente assegurada, associando
um eventual governo de Lacalle à instabilidade.
O resultado final das eleições
ainda será confirmado após o
cômputo de quem votou fora
de suas seções eleitorais -são
os chamados "votos observados", que tendem a corroborar
a votação geral. A campanha
recomeça amanhã, e ambos os
candidatos planejam viagens
pelo país.
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