São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rivais históricos se unem contra Mujica no Uruguai

Terceiro nas eleições, Partido Colorado anuncia apoio a candidato do Partido Nacional

Para Pedro Bordaberry, Luis Alberto Lacalle representa um "compromisso claro e inequívoco de respeito à Constituição e às leis"


THIAGO GUIMARÃES
DA REDAÇÃO

Rivais desde o século 19, os dois partidos tradicionais do Uruguai -Colorado e Nacional (Blanco), ambos de centro-direita- voltarão a se unir para tentar vencer a governista Frente Ampla (esquerda), no segundo turno das eleições presidenciais, em 29 de novembro.
Terceiro colocado nas eleições do último domingo, com 16,9% dos votos, o Partido Colorado anunciou ontem apoio ao ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), do Partido Nacional, que obteve 28,9% no primeiro turno, longe dos 48,16% do ex-guerrilheiro José Mujica, candidato do presidente Tabaré Vázquez.
"A concentração de poder em partidos e pessoas não contribui ao equilíbrio democrático e republicano", disse à Folha o colorado Pedro Bordaberry, 49, terceiro colocado no pleito presidencial, em referência à provável manutenção, pelo governo, da maioria absoluta no Congresso. "Não é bom que Mujica tenha tanto poder."
Filho do ex-ditador Juan María Bordaberry (1972-1976), o colorado disse que o liberal Lacalle representa um "compromisso claro com a Constituição, as leis e a tolerância". Citou entrevista recente de Mujica em que o candidato disse não acreditar na Justiça.
O discurso de Bordaberry antecipa a estratégia de Lacalle no segundo turno: associar o destempero verbal de Mujica à falta de preparo para o cargo e defender a vitória de blancos e colorados como forma de equilibrar os Poderes no país.
"Não ter maiorias obriga a governar para todos, e não para uma fração", afirmou ontem o senador Gustavo Penadés, novo chefe de campanha de Lacalle, ao jornal "El País".
A aliança atual repete, em papéis invertidos, o roteiro da eleição presidencial de 1999, quando Lacalle, então terceiro colocado, apoiou o colorado Jorge Battle no segundo turno contra o atual presidente Tabaré Vázquez. A união conservadora conseguiu reverter a derrota no primeiro turno, e Battle venceu com 54% dos votos.
Nesta eleição, contudo, ao contrário da de 1999, a votação conjunta de blancos e colorados no primeiro turno não superou a da Frente Ampla. Daí a importância do posicionamento no segundo turno de partidos menores, como o Independente (2,5% dos votos). "O papel desses partidos será chave", afirmou o sociólogo Eduardo Bottinelli, da Factum.
Antes das eleições, o Partido Independente anunciou que se manteria neutro em um eventual segundo turno. Após a confirmação da nova votação, ainda não se pronunciou.
Para Bottinelli, o apoio dos colorados tornará a eleição mais disputada, mas não haverá transferência direta de votos da sigla para Lacalle. "Há uma fatia menor que deve votar em Mujica ou em branco."
O apoio do Partido Colorado também significa o respaldo daquele que foi considerado um dos grandes vencedores da eleição, por ter saído de 10,3% na eleição de 2004 para 16,9% no pleito de domingo. Pelos dados preliminares, a sigla passou de 3 para 5 senadores e de 10 para 17 deputados.
"Bordaberry é jovem, com discurso mais conciliador, e captou na eleição votos colorados perdidos no passado e de desiludidos com Lacalle", disse Bottinelli.
Em amostra de que ainda pretende ser protagonista na política uruguaia, o candidato colorado disse que seu apoio se restringirá à declaração do partido. Afirmou que não participará de atos de campanha com Lacalle e que não houve acordo para participação em um eventual governo blanco. "Por isso declarei meu apoio pessoal ainda no domingo."
Na campanha de Mujica, a união dos rivais foi recebida com "tranquilidade", conforme um coordenador que pediu para não ser identificado.
A estratégia do candidato governista será evitar declarações polêmicas na reta final de campanha e acenar com participação no governo aos partidos de esquerda que integram a Frente Ampla.
Segundo analistas, Mujica também buscará capitalizar a maioria no Congresso praticamente assegurada, associando um eventual governo de Lacalle à instabilidade.
O resultado final das eleições ainda será confirmado após o cômputo de quem votou fora de suas seções eleitorais -são os chamados "votos observados", que tendem a corroborar a votação geral. A campanha recomeça amanhã, e ambos os candidatos planejam viagens pelo país.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Cristina envia ao Congresso projeto de reforma eleitoral na Argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.