São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

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Itália abala euforia após pacote europeu

Juros de títulos disparam, sinal de que o mercado ainda vê o país como próximo candidato a dar calote, após Grécia

Representante europeu visita a China em busca de investimento para o fundo de estabilização, mas não obtém resposta

Maurizio Brambatti/Efe
Berlusconi discursa em fórum sobre comércio exterior, em Roma, no dia em que juros da dívida de seu país disparam

JULIANA ROCHA
DE SÃO PAULO

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

A Itália foi reprovada no teste que mediu a confiança dos investidores em sua saúde financeira ontem. O mercado cobrou juros recordes nos títulos da dívida em leilão realizado pelo governo.
O resultado indica que a crise de confiança na União Europeia não se dissipou, um um dia depois da euforia com o pacote anticrise.
As principais Bolsas pelo mundo não tiveram grande oscilação. A Bovespa subiu 0,41%. O dólar caiu 1,46% e fechou a R$ 1,67.
A Itália, terceira economia da zona do euro, voltou a ser o centro das preocupações porque o mercado duvida da capacidade do premiê Silvio Berlusconi de adotar as medidas que prometeu para reduzir a dívida do país, atualmente de 121% do PIB.
Os juros cobrados pelos investidores na emissão de títulos italianos de dez anos ultrapassaram 6%. Há um mês, os juros pagos nesses mesmos papéis foram de 5,86%.
"O mercado precisa de mais indicações de que a Itália pode colocar a dívida em uma trajetória sustentável", disse o estrategista-chefe da WestLB, Luciano Rostagno.
A desconfiança se justifica pelo histórico recente de instabilidade política italiana. Desde julho, Berlusconi apresentou cinco versões de um pacote de ajustes fiscal que passou de € 79 bilhões para € 45,5 bilhões.
A instabilidade não é prerrogativa só da Itália. Dados divulgados ontem mostram que o desemprego na Espanha chegou a 21,5%. Em 2007, antes da crise, o país tinha desemprego de 8%.
Já a Grécia recebeu três planos de resgate, diversas promessas internas de ajuste nas contas e greves gerais.
O plano anunciado nesta semana foi bem recebido por incluir o calote de 50% da dívida grega, recapitalização dos bancos e fortalecimento do fundo de resgate europeu.
"Esse pacote não foi o fim da crise. Foi um capítulo necessário que deu um certo alívio", pondera o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
O economista lembra que este pacote pode até resolver o problema imediato, mas não oferece solução para o baixo crescimento.

CHINA
Ontem, representantes europeus e da China adotaram um tom cauteloso sobre a crescente expectativa de atrair investimentos de Pequim para ampliar o fundo de resgate de € 440 bilhões para € 1 trilhão.
Em visita à capital chinesa, o diretor do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Klaus Regling, disse que tem esperanças em obter apoio da China, mas que ainda não há nenhum acordo.
Um dos pontos do pacote prevê que o fundo emita títulos, que podem ser comprados por outros países. A China, dona das maiores reservas internacionais do mundo (US$ 3,2 trilhões), tem mais potencial para participar.
O vice-ministro das Finanças Zhu Guangyao disse que o momento é de avaliação.
O país tem sinalizado que pode ajudar, mas com algumas condições. Anteontem, altos funcionários disseram ao "Financial Times" que uma das exigências será a garantia sólida sobre a segurança do investimento.
No mês passado, o premiê Wen Jiabao condicionou a ajuda a "passos ousados" da UE. Mencionou a concessão do status de economia de mercado à China e um eficaz ajuste fiscal e monetário.


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