São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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Mísseis podem ser de estoque afegão

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mísseis antiaéreos portáteis que os americanos temiam ser usados contra eles no Afeganistão podem ter estreado ontem no atentado terrorista ao avião israelense no Quênia.
Os EUA enviaram centenas de mísseis Stinger, de fabricação americana, e SAM-7, de fabricação russa, para os guerrilheiros muçulmanos que resistiam à ocupação soviética do Afeganistão.
Os EUA temiam que esses mísseis lançados apoiados no ombro fossem usados contra seus aviões na guerra contra o Taleban e a Al Qaeda. Não há registros de uso então. O fato de os aviões americanos voarem em altitudes elevadas para reduzir baixas pode ter contribuído, pois, além de esses mísseis terem alcance curto, detectar o avião era dificílimo.
Como todo artefato bélico, um míssil também tem "prazo de validade". O fato de não terem detonado contra o avião de passageiros indicaria que pode ter havido uma falha no equipamento, já que os mísseis começaram a ser entregues aos afegãos por volta de 1986.
Mas se o americano Stinger é relativamente raro, os russos SAM-7 e SAM-14 são mais comuns no mercado internacional de armas, tendo sido entregues a muitos países do Terceiro Mundo. Como o Stinger foi projetado para abater aviões de caça voando a velocidades supersônicas, um avião de passageiros seria alvo fácil.
No início do ano o FBI (polícia federal dos EUA) alertou sobre a possibilidade de terroristas usarem essa arma em atentados.
Um Stinger é considerado uma arma barata. Custa cerca de US$ 40 mil. No mercado clandestino, pode estar sendo vendido a US$ 150 mil ou mais.
O Stinger e seus equivalentes russos e europeus são mísseis do tipo conhecido como "dispare e esqueça". Basta apontar para o alvo e apertar o gatilho, que o míssil se guia pelo calor do alvo. O Exército brasileiro usa um míssil russo desse tipo, o Igla.
Um avião militar em vôo pode tentar despistar o míssil, seja através de manobras, seja lançando artefatos pirotécnicos que desviam sua atenção. Aviões de transporte são mais vulneráveis por serem menos manobráveis, mas, pelo maior tamanho e por terem mais de um motor, podem sobreviver a um ataque, dependendo de onde o míssil impactar.
Um avião de passageiros no pouso ou na decolagem é extremamente vulnerável. Se foi de fato um ataque com mísseis, o avião teria sido derrubado se eles tivessem detonado nos motores.
Um Stinger tem apenas 1,52 metro de comprimento, e o lançador pesa, completo com o míssil, 15,8 kg. Seu alcance máximo fica em torno de de 5.000 metros.
Mas, se puder estar bem próximo do avião, o terrorista pode usar até uma arma bem mais simples e barata, como os "lança-rojões", na terminologia no Exército brasileiro (derivados das "bazucas" da Segunda Guerra).
É o caso do lança-granadas foguete RPG ("rocket-propelled grenade") que a ex-URSS exportou aos milhões. Comuníssima em todo o Terceiro Mundo, pode atingir um alvo até 500 metros.


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