São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Identidades laica e islâmica se cruzam e confundem Turquia

SABRINA TAVERNISE
DO "NEW YORK TIMES", EM ANCARA


A decisão de receber Bento 16 em Ancara, tomada de última hora pelo primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que alegava compromissos externos, reflete as ambigüidades da sociedade na Turquia.
O Estado possui há mais de 80 anos sólidas instituições laicas, depois de, até a Primeira Guerra Mundial, como Império Otomano, ter sido o centro geográfico do mundo islâmico.
Mas nos últimos cinco anos as afinidades pró-ocidentais se enfraqueceram em razão da sucessão de episódios hostis aos muçulmanos, como a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a falta de entusiasmo da União Européia em aceitar um país-membro islâmico.
Há uma dualidade na identidade nacional. Em Istambul, convivem mulheres de minissaias com outras de rosto coberto por véus. "Há duas Turquias dentro do mesmo país", diz o cientista político Binnaz Toprak. O fato de a identidade islâmica estar se fortalecendo é visto como uma ameaça. O chefe do Exército, general Yasar Buyukanit, advertiu quatro vezes, desde agosto, para o risco do fundamentalismo.
Recente pesquisa diz que 53% dos turcos têm uma percepção positiva sobre o Irã, país cujo regime é abominado pelos americanos. Segundo outra pesquisa, 46% dos turcos identificam-se pelo islamismo que professam, contra 36% que diziam o mesmo há sete anos.
No entanto só 9% dos cidadãos querem substituir os tribunais laicos pela sharia (lei islâmica). Há alguns anos, 21% pensavam dessa forma.
A questão central para o cidadão médio é hoje a adesão à UE. As leis são reformadas para adaptá-las aos padrões europeus, como a que pune com prisão o estupro no casamento.
O atual premiê recuou de duas recentes iniciativas: a de monitorar o consumo de álcool e a de forçar a transformação do adultério em crime.


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