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Identidades laica e islâmica se cruzam e confundem Turquia
SABRINA TAVERNISE
DO "NEW YORK TIMES", EM ANCARA
A decisão de receber Bento
16 em Ancara, tomada de última hora pelo primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que
alegava compromissos externos, reflete as ambigüidades da
sociedade na Turquia.
O Estado possui há mais de
80 anos sólidas instituições laicas, depois de, até a Primeira
Guerra Mundial, como Império
Otomano, ter sido o centro geográfico do mundo islâmico.
Mas nos últimos cinco anos
as afinidades pró-ocidentais se
enfraqueceram em razão da sucessão de episódios hostis aos
muçulmanos, como a invasão
do Iraque pelos Estados Unidos
e a falta de entusiasmo da
União Européia em aceitar um
país-membro islâmico.
Há uma dualidade na identidade nacional. Em Istambul,
convivem mulheres de minissaias com outras de rosto coberto por véus. "Há duas Turquias dentro do mesmo país",
diz o cientista político Binnaz
Toprak. O fato de a identidade
islâmica estar se fortalecendo é
visto como uma ameaça. O chefe do Exército, general Yasar
Buyukanit, advertiu quatro vezes, desde agosto, para o risco
do fundamentalismo.
Recente pesquisa diz que
53% dos turcos têm uma percepção positiva sobre o Irã, país
cujo regime é abominado pelos
americanos. Segundo outra
pesquisa, 46% dos turcos identificam-se pelo islamismo que
professam, contra 36% que diziam o mesmo há sete anos.
No entanto só 9% dos cidadãos querem substituir os tribunais laicos pela sharia (lei islâmica). Há alguns anos, 21%
pensavam dessa forma.
A questão central para o cidadão médio é hoje a adesão à UE.
As leis são reformadas para
adaptá-las aos padrões europeus, como a que pune com prisão o estupro no casamento.
O atual premiê recuou de
duas recentes iniciativas: a de
monitorar o consumo de álcool
e a de forçar a transformação
do adultério em crime.
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