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ARTIGO
O papel do Paquistão subestimado
PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT"
Na esteira imediata dos ataques em Mumbai, boa parte das
análises têm um som familiar,
com o Ocidente minimizando o
envolvimento estrangeiro. As
alegações da Índia sobre "vínculos externos" dos terroristas
são reportadas em tom cansado
com a lamentável retomada das
acusações mútuas entre Índia e
Paquistão.
Os comentários veiculados
em televisões e jornais sobre
ultrajes terroristas freqüentemente são fornecidos por autonomeados "especialistas em
terrorismo", que ressaltam a
marginalização dos muçulmanos indianos e sugerem que a
origem do ataque terrorista a
Mumbai é doméstica, fruto da
radicalização dos muçulmanos
indianos em função da discriminação sistemática cometida
contra eles pelo Estado.
Exatamente quem estava por
trás da confusão sangrenta em
Mumbai ainda não está claro. O
jornal "Hindu" relatou ontem
que três dos suspeitos capturados pela polícia eram membros
do Lashkar-e-Taiba (o Exército
dos Devotos), que tem vários
milhares de membros na Caxemira controlada pelo Paquistão, e que os homens teriam
chegado a Mumbai de navio,
vindos de Karachi, no Paquistão. O grupo é um dos três
maiores que lutam contra a Índia na Caxemira.
As origens e as motivações
dos homens que massacraram
tantas pessoas em Mumbai vão
vir à tona nos próximos dias.
Mas a carnificina já deveria ressaltar a maior de uma das muitas falhas do governo Bush pós-11 de Setembro. O Paquistão
sempre foi a verdadeira base da
Al Qaeda. Foi a inteligência militar paquistanesa, ISI, que fomentou o Taleban antes de
2001 e o reativou mais tarde.
É o Paquistão quem vem sustentando os combatentes islâmicos na Caxemira, onde metade do Exército indiano está
amarrado. No entanto, o governo Bush aliou-se ao general
Pervez Musharraf e ao Exército
paquistanês depois do 11 de Setembro, assegurando que os
grupos terroristas sempre tivessem uma base.
É hipocrisia inútil o Ocidente
dar sermões ao governo indiano agora sobre a importância
de não exagerar em sua reação
e de não culpar automaticamente o governo paquistanês.
A maneira pela qual as forças
militares do Paquistão vêm
permitindo que militantes caxemires e paquistaneses se desloquem livremente pelo território paquistanês criou o meio
do qual saíram os ataques desta
semana. É possível que o monstro que o ISI criou tenha fugido
a seu controle, mas é ela, em última instância, a responsável
pelo que aconteceu.
O pano de fundo político de
Mumbai foi resumido por Ahmed Rashid em "Descent into
Chaos: How the War against Islamic Extremism Is Being Lost
in Pakistan, Afghanistan and
Central Asia" (Mergulho no
caos: como a guerra contra o
extremismo islâmico está sendo perdida em Paquistão, Afeganistão e Ásia Central).
No Paquistão, escreve, "um
establishment militar nuclearmente armado e um serviço de
inteligência que patrocinaram
o extremismo islâmico como
parte intrínseca de sua política
externa por quase quatro décadas vêm encontrando extrema
dificuldade em abrir mão de
suas políticas autodestrutivas e
hipócritas".
A não ser que Barack Obama
consiga convencê-los a fazê-lo,
ele não realizará mais como
presidente do que Bush.
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