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Suíça decide futuro de minaretes no país
Plebiscito de hoje foi convocado por grupo radical, que considera as torres nas mesquitas um símbolo político do islã
Proposta, que nasceu de
um abaixo-assinado, é tão polêmica que nem mesmo o partido suíço de ultradireita SVP se dispôs a patrociná-la
Denis Balibouse-9.nov.09/Reuters
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Cartaz de plebiscito - mais polêmico que a votação em si - mostra minaretes retratados como mísseis sobre a bandeira da Suíça e foi vetado em algumas cidades
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Um cântico islâmico irrompeu no silêncio do sonolento
Chemin de Colladon, em Genebra, arrancando da cama seus
moradores antes das 7h. O chamado às preces, duas semanas
atrás, não veio da mesquita que
há 30 anos ocupa o número 34
da rua residencial, diz o imã
Youssef Ibram. Veio do alto-falante de um carro alugado.
Ao volante, o líder religioso
diz que estavam entusiastas da
campanha para vetar a construção de minaretes no país,
dispostos a mostrar para a vizinhança o que poderia tomar
diariamente suas manhãs caso
torres como a da mesquita ao
lado não fossem riscadas da
paisagem em todo o país.
Hoje, os suíços vão votar em
um plebiscito convocado por
um grupo radical de direita que
coletou 115 mil assinaturas sobre a proibição dos minaretes
-para os idealizadores da consulta, um símbolo político do
islã que não cabe na Suíça.
Há apenas quatro deles no
país: em Genebra, em Zurique
(o mais antigo) e os novos em
Winterthur e na pequena Wangen, onde a bandeira surgiu. É
pouco para os quase 400 mil
muçulmanos majoritariamente vindos dos Bálcãs que contabilizam 5% da população.
E nenhum é usado para seu
fim tradicional, o chamados às
preces. "Mas eles fazem parte
da identidade de uma mesquita, da identidade islâmica. É como a torre do sino em uma igreja católica", afirma Ibram.
A proposta é tão controversa
que nem o direitista SVP (Partido do Povo Suíço), adepto das
polêmicas e hoje a maior legenda do país, se dispôs a patrociná-la. Sobrou ao punhado de
deputados que a defendiam
formar um grupo com colegas
evangélicos e coletar as firmas
para lançar o plebiscito.
Impedido de barrar a consulta, o governo federal recomenda o voto no "não", em defesa
de "valores centrais da sociedade suíça" e de direitos como a liberdade religiosa.
"A paz religiosa em nosso
país seria desnecessariamente
posta em risco", disse a ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf. "A proibição
dos minaretes não resolveria os
problemas citados pelos patrocinadores da iniciativa. Ao contrário, os agravaria."
Pesquisas de uma semana
atrás colocam o "não" em torno
de 53% e o "sim" em 37% (os
demais são indecisos).
De qualquer forma, diz
Ibram, "só de vir à tona que um
terço da população é contra os
muçulmanos já nos faz perder".
Apagando incêndios
A fala pausada e contemplativa do marroquino de 57 anos,
que vive há 28 no país, denuncia sua resignação. Ele afirma
que a Suíça é um país que respeita a coexistência religiosa
como poucos. Desde que a ideia
de plebiscito foi lançada há cerca de dois meses, no entanto,
sua mesquita virou alvo. Na última semana, quebraram pela
segunda vez as vidraças.
Ironicamente, o carro de som
que arrancou a vizinhança da
cama a despertou também para
defender o minarete. "Muitos
vizinhos vieram aqui pedir para
vê-lo. Eles moram na quadra há
anos e nem sequer o haviam
notado", afirma Ibram.
A torre, de 22 metros, eleva-se atrás da construção hexagonal com uma discreta cúpula de
vidro que some na paisagem genebrina. Construída num declive do terreno, requer atenção
para ser notada. Ali perto, a torre de uma igreja católica é da
mesma discrição. (Em Berna,
foi o sino da igreja que despertou a repórter às 5h.)
"Nosso termômetro são os
vizinhos. A maioria deste país
aceita o islã, e a Constituição
garante liberdade de religião",
prega o imã. "Os racistas islamofóbicos são uma minoria."
A ressalva apareceria com
frequência na conversa de
Ibram com a reportagem, assim como apareceriam também menções ao caráter privado da religião entre os muçulmanos do país (ele estima em
4% dos 400 mil os "praticantes" no país, um conceito incomum na sua religião).
Cauteloso, repete que se trata de um problema para os muçulmanos suíços resolverem.
"Não queremos exportá-lo."
Indagado se temia reações anti-Suíça pelo mundo como as
que visaram a Dinamarca em
2006 após a publicação de
charges que ironizavam o profeta Maomé, Ibram assente.
Diz que o governo suíço fez
sua parte enviando emissários
a países islâmicos para explicar
que era contra a consulta, mas
que o sistema político local permite que qualquer grupo de cidadãos que colha mais de 100
mil assinaturas promova um
plebiscito -a tal democracia
direta que leva os helvéticos às
urnas quase mês sim, mês não.
A comunidade também fez a
sua parte -não deu entrevistas
a canais árabes e manteve a discrição. "Não temos nenhum interesse em inflamar o assunto",
diz Ibram. "Antes de sermos
muçulmanos, somos suíços."
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