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Cúpula evita dizer "sim" ou "não" à Honduras
Para encontro de grupo Ibero-Americano, o anfitrião, Portugal, avalia emitir nota que não exponha o racha na região
A intenção é afirmar que eleição é parte de processo mais amplo e que não seria conveniente invalidá-lo, tampouco sacramentá-lo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O governo português, anfitrião da Cúpula Ibero-Americana que começa hoje à noite,
está avaliando a viabilidade de
emitir uma declaração da presidência sobre a crise em Honduras, que não estava na agenda original do encontro mas
inevitavelmente se tornou
ponto central, na medida em
que os governantes começam a
deliberar no dia seguinte à polêmica eleição presidencial
hondurenha.
Tornar o tema assunto de
uma declaração à parte -e emitida pela presidência, não pelo
conjunto de países ibero-americanos- é a única maneira
possível de se evitar a exposição pública do racha nas Américas em torno de Honduras.
Os organizadores do encontro não acreditam que o Brasil,
historicamente reconhecido
por uma diplomacia mais sutil
e menos agressiva, force um
documento que exponha as divisões. Mas suspeitam que a
Argentina possa fazê-lo, por estar se revelando a mais radical
nas discussões prévias.
A Venezuela, que usualmente desempenha esse papel, aparentemente não terá sua delegação chefiada pelo presidente
Hugo Chávez, o que reduz em
incontáveis decibéis o volume
do ruído. De quebra, se não vier
mesmo, elimina a possibilidade
de um confronto direto com o
colombiano Álvaro Uribe.
Outra ausência "bolivariana"
certa é a do presidente boliviano Evo Morales, que assim como o uruguaio Tabaré Vázquez
permanecerá em casa.
A contabilidade preliminar
sobre Honduras indica maioria
favorável à não aceitação da
eleição de hoje, caso em que se
incluem pelo menos todos os
quatro do Mercosul, todos os
oito "bolivarianos" -menos
Honduras, claro- e a Guatemala. Mas Peru, Panamá e Costa Rica já declararam aceitar o
resultado com argumentos que
vão além de discutir a legitimidade ou não de eleições conduzidas por um governo de facto.
"Para que vamos castigá-los
[aos hondurenhos] com um segundo furacão Mitch, que é o
que ocorreria se isolarmos o
novo governo?", diz Óscar
Arias, presidente costa-riquenho e autor de proposta de conciliação aceita pelas partes mas
que não foi implementada.
Reforça José García Belaúnde, o chanceler do Peru: "Todos
os países da América Latina
saíram de ditaduras por meio
de processos eleitorais conduzidos por governos que não
eram democráticos".
No meio do caminho
A divisão levou o governo
português a trabalhar com a hipótese de adotar o espírito da
posição que a União Europeia
está por encampar: afirmar que
o processo eleitoral é apenas
parte de um processo mais amplo, com o que não seria conveniente nem invalidá-lo nem sacramentá-lo.
Reconhecer ou não o resultado dependeria de se reconduzir
o presidente Manuel Zelaya ao
cargo, tal como estava previsto
na proposta de Óscar Arias,
mas que o Congresso hondurenho não referendou até agora.
A expectativa não declarada é
a de que, dependendo da maneira como se desenvolver a
eleição e do comparecimento, o
Congresso finalmente aprove,
no dia 2, a volta de Zelaya.
Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático do presidente
Lula, que participa da cúpula
apenas na segunda e na terça,
não do jantar inaugural de hoje,
disse à Folha que tinha a informação de que o próprio Zelaya
aceitaria o pleito se o comparecimento às urnas fosse de ao
menos 80%. É óbvio que essa
porcentagem não será atingida,
mas é uma indicação clara de
como a maneira como se desenrolará a votação terá peso para a sua aceitação ou não pelos
demais países.
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