São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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EUA investigaram até a ONU, diz WikiLeaks

Os 250 mil papéis revelados pelo site, entre 1966 e 2010, mostram que Washington vigiou o secretário-geral, Ban Ki-moon

Documentos de teor confidencial também mostram que países árabes tramaram ataque contra o Irã

DE SÃO PAULO

Cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA, divulgados ontem pelo site WikiLeaks, escancaram a política externa do país entre dezembro de 1966 e fevereiro deste ano.
Espionagem do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ataque aéreo contra o Irã por países árabes, elo entre o governo russo e o crime organizado e dúvida sobre a saúde mental da presidente argentina Cristina Kirchner estão entre as revelações.
Com 15.365 telegramas, o Iraque é o país mais citado.
Franqueados a um pool de mídia impressa -"New York Times" (EUA), "Guardian" (Reino Unido), "El País" (Espanha), "Le Monde" (França) e "Der Spiegel" (Alemanha)-, os documentos também mostram como as embaixadas americanas foram usadas como parte de uma rede de espionagem global.
Agentes consulares de Washington ao redor do mundo foram encorajados a coletar informações confidenciais e pessoais, inclusive de países aliados, como números de cartões de crédito, dados biométricos e de DNA.
O site disse que seu servidor esteve sob ataque antes da divulgação dos dados.

IRÃ E FOGO AMIGO
Segundo os documentos, o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, acredita que qualquer ataque militar ao Irã apenas adiará em três anos a obtenção, por Teerã, da bomba nuclear.
A filtragem dos documentos também revela que a ex-primeira dama dos EUA, Hillary Clinton, teve suas atividades monitoradas desde que se tornou secretária de Estado do governo Obama.
Mas há informações picantes, como a descrição das "festas selvagens" comandadas pelo premiê italiano, Silvio Berlusconi. Os relatos também mostram a profunda desconfiança que ele inspira em Washington.
Os EUA também se esforçaram para isolar diplomaticamente o presidente venezuelano, Hugo Chávez, do resto da América Latina.

REAÇÃO DOS EUA
Em comunicado, o Departamento de Defesa dos EUA condenou "a revelação imprudente de informações obtidas de modo ilegal".
Segundo seu porta-voz, Bryan Whitman, o departamento tomará medidas para evitar que isso ocorra novamente, como impedir a transferência de dados armazenados nos computadores para CD-ROMs ou memórias USB.
Mas o vazamento desses informes e seu potencial de estrago devem modificar o modo como se darão as relações diplomáticas entre os países.
Os EUA, que foram notificados do teor dos documentos antes de sua divulgação, contataram antecipadamente vários países, de modo a tentar limitar os danos. Entre eles, estavam vários da Europa e do Oriente Médio.
O vazamento de ontem constitui a terceira leva de documentos secretos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks neste ano.
São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451 tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos, 55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU.
Em junho, o site franqueara 90 mil informes militares sobre o Iraque e, em outubro, centenas de milhares sobre a guerra no Afeganistão. O Pentágono suspeita que quem está por trás dos vazamentos é o analista de inteligência Bradley Manning, 22.


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