São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Rivais querem cancelar eleição no Haiti

Doze dos 18 candidatos à Presidência do país se unem para denunciar "massiva fraude" na votação de ontem

"Temos de esperar para ver como a comunidade internacional vai se comportar", diz político ligado com Aristide

Ramon Espinosa/Associated Press
Militantes de partidos rivais brigam diante de seção eleitoral de Porto Príncipe, ontem, dia de eleições gerais no país

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL
PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

Os principais candidatos oposicionistas à Presidência do Haiti se uniram para pedir o cancelamento das eleições gerais de ontem, alegando que a gestão René Préval preparou "massiva fraude" para favorecer Jude Célestin, o governista na contenda.
A ex-primeira-dama Mirlande Manigat e o cantor popular Michel Martelly -os opositores que estão, ao lado de Célestin, entre os três mais bem posicionados na disputa- integraram declaração pública de 12 dos 18 candidatos no hotel Karibe.
Horas depois, Martelly liderou uma marcha pelas ruas de Porto Príncipe pedindo "respeito" ao voto ao lado de outra celebridade musical haitiana, o rapper Wycleaf Jean, radicado nos EUA.
Jean foi proibido de concorrer à Presidência, mas é o ídolo da maioria dos jovens haitianos, metade da população do país. Não havia previsão oficial de quantos participaram do protesto.
A Minustah, a força de estabilização da ONU cujo braço militar está sob comando brasileiro, iniciara o dia dizendo que a jornada eleitoral transcorria sem problemas.
A missão, principal fiadora da votação, a primeira após o devastador terremoto de janeiro, não se pronunciou após a contestação.
A Organização dos Estados Americanos, que ajudou na organização do pleito ao lado da caribenha Caricom, também não se pronunciou. "O realismo fantástico é pouco para dar conta da política haitiana", limitou-se a dizer Ricardo Seitenfus, representante da OEA para o Haiti.
Ainda se esperava para ontem um pronunciamento final do CPE (Comissão Provisória Eleitoral).
Ao menos um centro de votação foi saqueado em Porto Príncipe. E um rapaz teria sido assasinato em Artibonite (centro), segundo uma rádio local. A Minustah não confirmou a morte.
O problema mais comum reportado era a ausência de eleitores na lista de votação.
Foi o caso de Ricardo Barron, 30, que deveria votar no Liceu Jacques 1º (oeste de Porto Príncipe). "Onde está meu nome? Quero votar em Michel Martelly", disse.
Outras pessoas reclamavam do mesmo problema no local e ao menos uma urna foi paralisada por suspeita de fraude. Os mesários exibiam cédulas marcadas encontradas entre as ainda a utilizar.
Na avaliação brasileira, o processo haitiano entra agora em compasso de espera, aguardando o desenrolar da lenta dinâmica de apuração.
A turbulenta democracia haitiana tem largo histórico de contestação eleitoral. Segundo analistas locais, o efeito depende da capacidade de convocatória popular de quem protesta.
"Martelly está jogando sua melhor carta agora. Ele é um homem forte em Porto Príncipe", diz o jornalista e analista político, Édouard Ernest.
Nas ruas da capital, apoiadores de Martelly cantavam com camisetas da campanha e prometiam resistir caso o candidato, em terceiro lugar nas pesquisas, não fosse considerado ganhador.
Outro fator decisivo será a movimentação da até então favorita, a conservadora Manigat. Embora tenha se unido ao protesto oposicionista, havia dúvida se, à vista dos resultados, ela desistiria de disputar um segundo turno com o governista Célestin.


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