São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ONU espera resultado para negociar saída

DA ENVIADA A PORTO PRÍNCIPE

"Acabou o tempo da Minustah", diz o estudante universitário Hans Toussaint, 24, em referência à missão de estabilização da ONU no país. "Os haitianos têm de tomar conta de si mesmos."
Minutos depois, Toussaint, cuja família é dona de uma pequena lojinha de serviços de escritório, pondera.
Explica que não quer que as forças militares, comandadas pelo Brasil, deixem o país de imediato. Para o rapaz, elas precisam primeiro terminar de formar as forças de segurança haitianas.
O mesmo argumento é repetido pelos moradores de um campo de desabrigados no oeste de Porto Príncipe. Jean Louis Alexandre, 40, diz que lidar com os capacetes azuis da ONU não é o mesmo que ter um exército haitiano.
"Nós somos negros, eles são brancos", começa. "Até os negros do Brasil são brancos aqui", provoca o torcedor da seleção brasileira.
Ele comenta ter ouvido falar que foi a Minustah que trouxe a cólera para o país. "Mas não vi com meus olhos, então não posso dizer."
A Minustah está no Haiti desde 2004, após a queda de Jean Bertrand Aristide, cumprindo mandato do Conselho de Segurança da ONU.
No que sinaliza algum desgaste da presença estrangeira no país, todos os candidatos fizeram discursos, com diferentes gradações críticas, para atacar a presença indefinida -formalmente renovada ano a ano- da missão.
Além da área de segurança, o Estado haitiano também depende financeiramente do estrangeiro (70% do orçamento). Para analistas como o haitiano Robert Fatton Jr., o próximo presidente do país seguirá sendo espécie de "refém" da comunidade internacional.
O general brasileiro Paul Cruz, comandante do braço militar da Minustah, afirma que seria positivo uma negociação com o novo governo para acertar metas para a saída da missão. Deixar o país é ter êxito, ele diz.
Na prática, porém, anda a passos lentos o "fortalecimento das instituições haitianas", uma das metas da Minustah. Já há efetivo da Polícia Nacional Haitiana (PNH) nas ruas, mas a precariedade ainda é a tônica.
Uma delegacia da PNH em La Saline, recentemente transferida pela ONU ao governo haitiano, ainda tem todo o aspecto de uma casa abandonada, por exemplo.
Cruz também aproveita para rebater as acusações de que foram seus homens do Nepal que trouxeram a cólera. Diz que fizeram todos os estudos e nada se confirmou, ainda que a investigação não tenha "100% de confiabilidade". "Descobrir a fonte é importante, mas ninguém é culpado de estar gripado. O doente é vítima", afirma o comandante. (FM)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Votação no Egito é marcada por alta abstenção e violência
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.