São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

Próximo Texto | Índice

ARGENTINA
Eleições internas escolhem líder do bloco oposicionista Aliança, que vai disputar em 99 a sucessão de Menem
Oposição define candidato a presidente

MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires

Hoje milhões de argentinos vão poder ir às urnas para decidir quem disputará as eleições presidenciais do próximo ano contra o Partido Justicialista, do presidente Carlos Menem.
São as internas da Aliança (bloco de oposição), uma espécie de eleição aberta a quem quiser votar, exceto aos filiados a partidos rivais. Espera-se que, dos 18 milhões de eleitores potenciais, cerca de 4 milhões compareçam às urnas.
A Aliança, bloco de centro-esquerda, estará decidindo entre dois nomes: Fernando de la Rúa, da União Cívica Radical (UCR), o partido mais antigo da Argentina (foi fundado em 1891), e Graciela Fernández Meijide, da Frente País Solidário (Frepaso), um partido criado há cinco anos e que reúne tendências social-democratas e socialistas.
Segundo pesquisa publicada anteontem pelo jornal argentino "Clarín", De la Rúa lidera a corrida pela vaga oposicionista com 50,7% dos votos, contra 40,4% para a concorrente. O restante dos eleitores está indeciso.
A enquete, realizada pelo Centro de Estudios de Opinión Pública, afirma também que devem comparecer às urnas hoje cerca de 4 milhões de eleitores, o dobro do esperado pela Aliança.
A coalizão de centro-esquerda surgiu há cerca de dois anos com o propósito de derrotar o peronismo representado por Menem, que no próximo ano completará dez anos ininterruptos de governo. Nesse período, a Argentina saiu de uma hiperinflação devastadora - em 89 chegou a 300% ao mês, no final do governo de Raúl Alfonsín (UCR)-, dolarizou a economia e privatizou quase todas as empresas estatais.
O resultado desse "plano de estabilização", entretanto, foi o aumento do desemprego, o achatamento dos salários e a redução dos gastos sociais -embora a inflação esteja controlada, e o país continue crescendo em níveis elevados (previsão de 4,8% para este ano).
Diante desse cenário, tanto De la Rúa quanto Fernández Meijide têm como bandeira manter a estabilidade econômica e ao mesmo tempo atacar os problemas sociais -que teriam sido descuidados pelo governo menemista.
Ambos defendem a atual política econômica, que tem como eixo a "convertibilidade" da moeda (1 peso equivale a US$ 1) e o controle do déficit público. Ambos também falam em atuar para recuperar as áreas da saúde, da educação e da segurança.
Um outro ponto muito explorado pela campanha é a moralização da política e o combate à corrupção. Isso porque os últimos anos de governo Menem têm sido marcados por frequentes escândalos e denúncias, que envolvem suborno de altos funcionários, desvio de verbas, manobras escusas para conseguir maioria no Senado e tráfico internacional de armas.
No entanto, apesar dos problemas que agitam a Argentina -entre eles o aumento da violência urbana e da mendicância-, os analistas são unânimes em afirmar que a campanha da Aliança não empolgou, pelo menos para essas internas.
Para eles, isso se deve basicamente a dois fatores: distanciamento da população a tudo o que diz respeito à política e perda de um perfil nítido dos candidatos, que acabam se igualando nas imagens e no discurso.
Neste ano, De la Rúa e Fernández Meijide tiveram de conciliar seus interesses estratégicos em torno da Aliança -sem a qual dificilmente um dos dois teria chance de disputar com o candidato justicialista- com a luta interna pela candidatura à Presidência.
Fernando de la Rúa, como prefeito de Buenos Aires, recebeu em diversas ocasiões o ataque de Meijide à sua gestão. Por sua vez, em vários momentos, De la Rúa acusou a deputada e o seu partido de fazer "retórica demagógica".
A certa altura, muitos acharam que com tanto bate-boca a Aliança iria rachar. A disputa ganhou tons de comédia na última segunda-feira, quando Buenos Aires amanheceu com cartazes que exibiam uma foto de De la Rúa ao lado de Menem, ambos usando óculos tridimensionais na inauguração de um shopping, com os dizeres: "Ela ou eles? No dia 29 você escolhe".
Eles iriam assistir a uma cessão de cinema tridimensional, que exige o uso dos óculos.
Tanto a Frepaso quanto a UCR atribuíram a "brincadeira" aos menemistas, que desejariam tumultuar o processo.



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.