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ARGENTINA
Eleições internas escolhem líder do bloco oposicionista Aliança, que vai disputar em 99 a sucessão de Menem
Oposição define candidato a presidente
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
Hoje milhões de argentinos vão
poder ir às urnas para decidir
quem disputará as eleições presidenciais do próximo ano contra o
Partido Justicialista, do presidente
Carlos Menem.
São as internas da Aliança (bloco
de oposição), uma espécie de eleição aberta a quem quiser votar, exceto aos filiados a partidos rivais.
Espera-se que, dos 18 milhões de
eleitores potenciais, cerca de 4 milhões compareçam às urnas.
A Aliança, bloco de centro-esquerda, estará decidindo entre
dois nomes: Fernando de la Rúa,
da União Cívica Radical (UCR), o
partido mais antigo da Argentina
(foi fundado em 1891), e Graciela
Fernández Meijide, da Frente País
Solidário (Frepaso), um partido
criado há cinco anos e que reúne
tendências social-democratas e socialistas.
Segundo pesquisa publicada anteontem pelo jornal argentino
"Clarín", De la Rúa lidera a corrida
pela vaga oposicionista com 50,7%
dos votos, contra 40,4% para a
concorrente. O restante dos eleitores está indeciso.
A enquete, realizada pelo Centro
de Estudios de Opinión Pública,
afirma também que devem comparecer às urnas hoje cerca de 4
milhões de eleitores, o dobro do
esperado pela Aliança.
A coalizão de centro-esquerda
surgiu há cerca de dois anos com o
propósito de derrotar o peronismo
representado por Menem, que no
próximo ano completará dez anos
ininterruptos de governo. Nesse
período, a Argentina saiu de uma
hiperinflação devastadora - em
89 chegou a 300% ao mês, no final
do governo de Raúl Alfonsín
(UCR)-, dolarizou a economia e
privatizou quase todas as empresas estatais.
O resultado desse "plano de estabilização", entretanto, foi o aumento do desemprego, o achatamento dos salários e a redução dos
gastos sociais -embora a inflação
esteja controlada, e o país continue
crescendo em níveis elevados (previsão de 4,8% para este ano).
Diante desse cenário, tanto De la
Rúa quanto Fernández Meijide
têm como bandeira manter a estabilidade econômica e ao mesmo
tempo atacar os problemas sociais
-que teriam sido descuidados pelo governo menemista.
Ambos defendem a atual política
econômica, que tem como eixo a
"convertibilidade" da moeda (1
peso equivale a US$ 1) e o controle
do déficit público. Ambos também
falam em atuar para recuperar as
áreas da saúde, da educação e da
segurança.
Um outro ponto muito explorado pela campanha é a moralização
da política e o combate à corrupção. Isso porque os últimos anos
de governo Menem têm sido marcados por frequentes escândalos e
denúncias, que envolvem suborno
de altos funcionários, desvio de
verbas, manobras escusas para
conseguir maioria no Senado e tráfico internacional de armas.
No entanto, apesar dos problemas que agitam a Argentina -entre eles o aumento da violência urbana e da mendicância-, os analistas são unânimes em afirmar
que a campanha da Aliança não
empolgou, pelo menos para essas
internas.
Para eles, isso se deve basicamente a dois fatores: distanciamento da população a tudo o que
diz respeito à política e perda de
um perfil nítido dos candidatos,
que acabam se igualando nas imagens e no discurso.
Neste ano, De la Rúa e Fernández
Meijide tiveram de conciliar seus
interesses estratégicos em torno da
Aliança -sem a qual dificilmente
um dos dois teria chance de disputar com o candidato justicialista-
com a luta interna pela candidatura à Presidência.
Fernando de la Rúa, como prefeito de Buenos Aires, recebeu em diversas ocasiões o ataque de Meijide
à sua gestão. Por sua vez, em vários
momentos, De la Rúa acusou a deputada e o seu partido de fazer "retórica demagógica".
A certa altura, muitos acharam
que com tanto bate-boca a Aliança
iria rachar. A disputa ganhou tons
de comédia na última segunda-feira, quando Buenos Aires amanheceu com cartazes que exibiam uma
foto de De la Rúa ao lado de Menem, ambos usando óculos tridimensionais na inauguração de um
shopping, com os dizeres: "Ela ou
eles? No dia 29 você escolhe".
Eles iriam assistir a uma cessão
de cinema tridimensional, que exige o uso dos óculos.
Tanto a Frepaso quanto a UCR
atribuíram a "brincadeira" aos
menemistas, que desejariam tumultuar o processo.
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