São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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NOVO CENÁRIO 2
Ex-diretor de Operações do Exército admite "responsabilidade intelectual" por eventuais crimes cometidos
General assume a "culpa' por Pinochet

do enviado a Santiago

Um dos principais responsáveis pelo Exército chileno durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-90) assumiu ontem a "responsabilidade intelectual" por eventuais crimes cometidos no período e se ofereceu para comparecer ante a Justiça.
Trata-se do general da reserva Eugenio Videla, que, como diretor de Operações do Exército, determinava grande parte das ações.
"Temos a responsabilidade intelectual dos fatos que possam ter ocorrido por parte de nossos subordinados", disse o general ao jornal "La Tercera". E completou: "Éramos nós que mandávamos no Exército e tínhamos uma grande liberdade de ação para resolver".
Videla se disse disposto a apresentar-se ao juiz Juan Guzmán, que centraliza as demandas apresentadas contra Pinochet por violações aos direitos humanos.
É possível que Videla não esteja isolado nessa posição: Eduardo Arévalo, ex-diretor do Círculo de Amigos do Exército, informou anteontem à TV chilena que há cerca de 300 oficiais igualmente dispostos a apresentar-se ao juiz.
Mas o telejornal que ouviu Arévalo informou, igualmente, que vários oficiais da reserva consultados (os nomes não foram mencionados) negaram tal iniciativa.
Difícil é saber se a atitude de Videla (e, eventualmente, de outros oficiais da reserva) é a primeira aceitação concreta de que houve violações aos direitos humanos ou se trata de mera ação diversionista para poupar Pinochet.
Duas frases do general Videla dão a entender que a segunda hipótese pode ser a correta:
1) "Não é justo que o general Pinochet esteja assumindo sozinho e nós estejamos em nossas casas e escritórios, se somos mais responsáveis que ele".
2) Mas Videla acrescenta que não revelaria ao juiz Guzmán "assuntos do serviço" ou em que esteve envolvido por seu posto. Admite ter "grande quantidade de informações", mas não poderia repassá-las ao juiz, "porque são reservadas ou secretas".
Cabe ainda uma terceira hipótese: a de que os oficiais mais graduados estejam emitindo mensagem a seus inquietos ex-subordinados, que foram os mais diretamente envolvidos na repressão e por isso mesmo enfrentam maiores problemas legais.
"Muita gente dos serviços de segurança se sente perseguida, outros estão loucos, outros estão com psiquiatras, outros destruíram seus matrimônios. Esse foi o custo que teve que pagar essa gente por cumprir uma função que alguém tinha de assumir", disse o general Eugênio Videla.
(CLÓVIS ROSSI)



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