São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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Chanceler defende libertação

O ministro britânico Jack Straw do enviado especial

O chanceler chileno, José Miguel Insulza, tem dito a seus amigos que está cumprindo a missão mais estranha de sua vida: defender o homem que o forçou a pedir asilo ao México, país em que passou 14 dos seus 55 anos.
Insulza, veterano militante do PS (Partido Socialista), está defendendo o general Augusto Pinochet Ugarte, líder do golpe que depôs o presidente, também socialista, Salvador Allende, e forçou o hoje chanceler ao exílio.
Mas Insulza faz questão de esclarecer que não defende Pinochet e, sim, a posição do governo de que faz parte. Posição consubstanciada no argumento de que não cabe a um país estrangeiro julgar um cidadão chileno por crimes cometidos no Chile.
Mas acaba sendo tão difícil fazer essa sutil distinção que o chanceler tem sido o alvo preferido das críticas de seus companheiros socialistas, a ponto de ter sido chamado de "traidor" por um jovem militante do partido, ao deixar uma das reuniões em que se discutia a crise Pinochet.
Pior: os partidos pinochetistas tampouco aplaudem as suas gestões. Até fizeram o possível para diminuí-lo, com a campanha para que a missão que o chanceler está cumprindo na Europa fosse acompanhada por uma "comissão de alto nível", que incluísse representantes de todos os partidos e personalidade do país, como o presidente da Corte Suprema e até o ex-presidente Patrício Aylwin, o democrata-cristão que sucedeu a Pinochet em 90.
Insulza regressou do exílio dois anos antes da posse de Aylwin, ainda em tempo de participar da campanha do "não" no plebiscito de 1988, no qual se decidia se o mandato de Pinochet seria ou não prorrogado. O "não" ganhou, Pinochet deixou o governo, mas Insulza só passou ao ministério com o segundo presidente eleito democraticamente, Eduardo Frei.
Forçado pelo cargo a uma certa discrição em relação ao caso Pinochet, nem assim Insulza ocultou do público o desejo de que o general receba ao menos uma punição: a retirada da vida pública, embora voluntária, mesmo que seja devolvido ao Chile (Pinochet é senador). (CR)



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