São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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Brasileiros que mergulhavam no momento do maremoto se salvam

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO

Enquanto centenas tentavam fugir para o mais longe possível da praia - e acabaram atingidos pelos tsunamis-, um casal brasileiro conseguiu escapar da tragédia porque estava no mar, mergulhando nos arreadores da ilha de Phi Phi, na Tailândia.
A médica Karina Carneiro da Cunha, 41, praticava mergulho com o marido, Isaac Szwarc, 51, e disse só ter sentido uma "corrente mais forte de água" no momento do maremoto. Karina fez o relato ao irmão, Malebranche Carneiro da Cunha Neto: "Ela me contou que, quando subiu, viu barcos virados, começou a entender o que tinha acontecido".
Carneiro Neto disse não saber a que profundidade estava o casal, mas informou que eles têm autorização para mergulhar em águas profundas, "de 40 m de profundidade para mais".
De volta à superfície, o casal de médicos pôde ajudar no socorro das vítimas. "O hotel em que eles estavam foi o único que restou em pé", conta Carneiro Neto.
"Eles já saíram de lá. Karina está bem deprimida com o que viu. O hotel era o único que tinha telefone, comida", diz o irmão. Segundo ele, o casal temia saques. De Hong Kong, onde estão agora, os dois tentarão um vôo para África do Sul e depois ao Brasil.
"Vivo, mas por pouco". Foi desta forma que o brasileiro Alexandre Romero -que mora no interior de São Paulo e está de passagem pela Tailândia- iniciou uma mensagem em seu blog (www.plural.com.br/alex) para avisar os amigos e familiares que estava bem e que havia sobrevivido ao desastre de domingo.
Na mensagem, postada ontem, ele diz que viu a morte de perto e conta em detalhes o que aconteceu. "Vi gente morta ser tirada do mar. Podia ter sido eu. Vi o povo correndo vindo da praia e vi uma onda grande. De onde eu estava não parecia tão grande. Não tinha a menor idéia do que era, só vi o povo correndo gritando "big wave, big wave'", contou Alexandre, que estava na província de Krabi.
"Fui à praia e vi tudo destruído. Não tinha idéia do que fazer, se esperava, se ia embora. Aí vi as lanchas de salvamento vindo do mar. O horror, o horror. Corpos com a cabeça coberta por panos, gente ensangüentada, foi medonho."
Em relato à BBC Brasil, os paulistas Giuliano Pasquale de Moura, 25, e Volnei Llamazalez, 33, contaram como sobreviveram após terem sido arrastados pelo maremoto na ilha de Phuket, na Tailândia. Os dois caminhavam no calçadão da praia de Patong quando o mar começou a subir.
"Começamos a correr, mas não deu tempo. A primeira onda me levou para dentro de um hotel. As pessoas que estavam na praia não tiveram condição nenhuma de correr. Foi uma questão de segundos. Não era uma onda normal. Parecia que o mar tinha levantado e vindo", contou Giuliano.
"Toda a água que estava no hotel sugou para dentro do mar e daí veio a onda grande. Era monstruoso", disse o paulista, que se salvou subindo numa árvore.
Volnei foi levado pelas águas para dentro de uma loja na praia. "Era fechado e começou a encher de água. Quando eu olhei pra fora, veio um carro para cima da gente e começou a destruir a loja."
"Comigo estavam umas sete, oito pessoas dentro da loja, gritando, tentando nadar. Eu estava nadando contra a correnteza, a água começou a puxar as pessoas, e elas agarravam no meu pé."
"O fundo da loja estourou, e não sei para onde essas pessoas foram", disse Volnei, que conseguiu escapar da morte subindo no telhado da loja. "Daí veio uma onda mais forte, e todas as outras lojinhas foram destruídas. Só sobrou meu telhado."


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