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Tropas da Etiópia chegam à capital somali
Mogadício, que estava sob o controle das milícias islâmicas, é ocupada pelas forças do governo provisório da Somália
Governo é fraco e pode ser
refém de líderes tribais que
preencheram o vazio criado
há 15 anos pelo colapso do
Estado; capital é saqueada
DA REDAÇÃO
Apoiados pelo Exército etíope, combatentes leais ao fraco
governo provisório da Somália
se apoderaram ontem de Mogadício, capital daquele esfacelado país africano.
As milícias islâmicas, que
mantinham há sete meses o
controle da cidade, retiraram-se sem maior resistência. Sua
derrota satisfaz os Estados
Unidos, que acreditam haver ligações entre elas e a Al Qaeda.
O primeiro-ministro etíope,
Meles Zenawi, afirmou que,
nos dez últimos dias de operações, entre 2.000 e 3.000 milicianos islâmicos foram mortos.
Não há como confirmar a cifra.
O jornal "Financial Times"
diz que o fim do controle de
Mogadício pelo Conselho dos
Tribunais Islâmicos da Somália, nome desse conglomerado
de grupos, pode abrir um período de incertezas, com a forte
possibilidade de alguns chefes
tribais voltarem a se enfrentar.
Eles atuavam oportunisticamente sob o comando islâmico
e agora podem relançar a antiga
e intermitente guerra civil.
"Fomos derrotados", disse à
Reuters um dos milicianos, já
em roupas civis para, a exemplo
de centenas de outros combatentes, não sofrer represálias
dos novos ocupantes.
Um dos chefes militares islâmicos, Abdirahman Janaqow,
disse que seu objetivo era o de
evitar "um banho de sangue" na
capital. Afirmou que enfrentaria em campo aberto as forças
etíopes, "para não comprometer a população civil".
Recuo tático
Pela manhã, o chefe do fraco
governo provisório, Mohamed
Ali Gedi, anunciou a chefes tribais aliados que a queda da capital era apenas uma questão
de horas. Naquele momento as
lideranças islâmicas deixavam
a cidade, numa operação desordenada que qualificaram de
"recuo tático". Lojas e mercados passaram a ser imediatamente saqueados, informa a
Associated Press.
O premiê etíope, homem forte do episódio, disse que não
permitiria que Mogadício mergulhasse no caos.
O presidente do governo interino, Abdullahi Yiusuf, afirmou que suas tropas não eram
uma "ameaça à população da
capital" e fez um apelo para que
se pacifique o país "por meio do
diálogo". Ele e o premiê Gedi
nunca despacharam da cidade.
Têm seus gabinetes em Baidoa,
a 200 km de distância.
Mohamed Jama Furuh, um
chefe de clã com suas próprias
milícias, anunciou a captura do
porto marítimo de Mogadício.
Um dos combatentes islâmicos, Yusuf Ibrahim, admitiu
que outro porto, o de Kismayo,
corria o risco de ser também tomado em seguida.
A Associated Press, citando
relatório oficioso de um observador da ONU, diz que em Kismayo os islâmicos passaram a
recrutar até garotos de 12 anos.
O Estado somali entrou em
colapso em 1991, após a deposição do ditador pró-soviético
Siad Barre. O vácuo de poder foi
preenchido por chefes tribais,
que se enfrentavam uns aos outros e vendiam proteção, em
troca de impostos e recrutamento de "voluntários".
A pirataria se tornou uma das
fontes de renda dessas milícias,
com o ataque a embarcações
que navegavam pelo litoral do
Chifre da África -o extremo
nordeste do continente.
Foi nessa situação caótica
que surgiram os tribunais islâmicos, baseados no poder militar e na rede de mesquitas, que
assumiu as funções do inexistente Judiciário e assegurou
parte dos serviços públicos.
Mas os tribunais se aliaram a
grupos islâmicos radicais de fora da Somália, acusando a Etiópia, país com forte população
cristã, de promover uma "cruzada". Os tribunais também
eram apoiados pela Eritréia,
inimiga do governo etíope, o
que amplia a internacionalização do conflito.
O site de um grupo islâmico
iraquiano próximo à Al Qaeda
lançou nesta semana um apelo
para que voluntários se incorporem à "guerra santa" somali.
Com agências internacionais
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