|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
No entreposto de Albina, ouro bruto serve de moeda corrente
GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
A cidade surinamesa de Albina funciona como um entreposto comercial onde se vende
ouro bruto e se compra comida,
combustível, bebidas e drogas,
segundo um brasileiro que comercializava ouro ilegal na cidade até a semana passada.
Na véspera de Natal, ele teve
de sair escoltado pela polícia
enquanto os maroons jogavam
gasolina no prédio onde vivia.
Natural do Maranhão, o comerciante de 45 anos -que não
permitiu divulgar o seu nome
nem o da empresa para a qual
trabalha- diz que o Suriname é
estratégico para o sustento de
garimpeiros clandestinos por
ter menor controle estatal do
que a Guiana Francesa, de onde
vem até 90% do ouro garimpado na região, segundo ele.
Dos supermercados "chineses" de Albina, os contrabandistas levam cerca de quatro toneladas de mercadoria dentro
de cada canoa rumo aos garimpos cravados no meio da floresta da Guiana Francesa, onde
garimpeiros pagam em ouro
bruto pelo que consomem.
O atravessador, geralmente
nativo, cobra pelo frete 250
gramas de ouro -equivalente a
R$ 15,4 mil considerando o preço oficial do ouro refinado. A
viagem pode demorar até 20
dias, devido a obstáculos naturais, como rios rasos, e por causa da polícia de fronteira do território francês, que deporta
brasileiros com frequência, diz
o comerciante.
No "garimpo da Sofia", na
selva da Guiana Francesa, o
mais produtivo e com mais brasileiros clandestinos, de acordo
com ele, uma garrafa de uísque
sai por cinco gramas de ouro
(R$ 300). Uma saca de 30 kg de
arroz custa 25 gramas (R$
1.500), e um contrato mensal
com prostitutas vindas de Belém (PA), até 300 gramas (R$
18,5 mil).
Nesse garimpo, mais de
5.000 homens e mulheres, quase todos brasileiros, vivem em
barracas de lona, desejando encontrar um veio novo de ouro
em meio a floresta, que pode
resultar em até 10 kg do metal
em apenas um dia de trabalho,
segundo o maranhense.
Há três anos no Suriname, o
comerciante diz que estudou
um pouco de inglês e francês
para não depender só de garimpeiros brasileiros.
Contou também que negociava mensalmente em Albina
cerca de 12 kg de ouro extraídos, em grande parte, ilegalmente. Na cidade, há fartura de
armas sofisticadas e drogas de
todos os tipos, relata.
Hoje refugiado na capital do
país, Paramaribo, diz que não
pretende voltar para a região de
fronteira, mas pretende permanecer no Suriname.
Solteiro "graças a Deus", o
maranhense trabalhou antes
no comércio de ouro de Itaituba (PA) e do Oiapoque (AP). Resolveu partir para o Suriname
atraído por amigos paulistas,
cariocas, mineiros e paranaenses que, segundo narrou, "iam
bem nos negócios".
Texto Anterior: Itamaraty diz aprovar ajuda surinamesa Próximo Texto: Ataque expõe focos isolados de tensão, afirma antropóloga Índice
|