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REINO UNIDO
Maioria dos britânicos acha injusto relatório sobre a morte do cientista David Kelly; diretor-geral da emissora se demite
Para 56%, juiz foi duro demais com a BBC
DA REDAÇÃO
A conclusão do inquérito sobre
a morte do cientista britânico David Kelly provocou ontem mais
uma baixa na rede estatal de rádio
e TV BBC -com a saída de seu
diretor-geral-, mas não pôs fim
à polêmica sobre os motivos que
levaram o Reino Unido a participar da Guerra do Iraque.
O relatório judicial do lorde
Hutton, divulgado anteontem, foi
recebido com desconfiança pela
população, que acha que ele foi
duro demais com a BBC, e criticado pela mídia.
Segundo pesquisa de opinião do
jornal londrino "Evening Standard", 56% dos entrevistados
acham que o relatório do juiz não
foi justo e 70% pediram uma investigação independente dos motivos que levaram o país a se aliar
aos EUA contra o Iraque.
Ontem, jornais e tablóides britânicos criticaram Hutton por ter
"sufocado o caso em proveito do
establishment político". "Os jornalistas da BBC devem seguir investigando, fazendo perguntas incômodas e criando problemas",
disse editorial do "Guardian".
Já o "Daily Express" afirmou
que "o abafamento do caso pelo
juiz Hutton deixa perguntas sem
respostas". Outro jornal publicou
uma foto de Blair em sua primeira
página, com o título "São Tony".
Anteontem, Hutton, da Suprema Corte, exonerou o premiê
Tony Blair de responsabilidade na
morte do microbiologista David
Kelly. O assessor do governo na
área de armas químicas e biológicas suicidou-se em julho passado
após ter sido nomeado como fonte de uma reportagem da BBC que
criticava o governo por seu dossiê
sobre o Iraque.
O juiz disse ser infundada a alegação da BBC de que o governo
britânico teria inflado seu relatório de inteligência sobre a ameaça
representada pelas armas de destruição em massa iraquianas.
O premiê Tony Blair justificou
sua decisão de participar da Guerra do Iraque com o argumento de
que o regime do ditador Saddam
Hussein representava um sério
perigo à segurança internacional.
Para convencer a população, ele
divulgou um dossiê sobre o suposto arsenal de armas de destruição em massa iraquiano.
Nove meses após a queda de
Saddam, não foram encontradas
armas de destruição em massa no
país. Sabe-se que o Iraque as utilizou contra o Irã e inimigos do regime na década de 80, mas elas foram parcialmente destruídas pela
ONU nos anos 90, após a Guerra
do Golfo (1991), e é possível que o
Iraque tenha eliminado o que restava. Entretanto o regime de Saddam nunca provou isso.
Um dia após o presidente da
BBC, Gavyn Davies, se demitir,
ontem foi a vez de o diretor-geral,
Greg Dyke, deixar seu cargo.
Já o presidente interino da BBC,
Richard Ryder, apresentou "desculpas sem reservas" ao governo.
O premiê Tony Blair -que havia
prometido renunciar caso o juiz
Hutton o responsabilizasse no
episódio- tentou colocar um
ponto final à questão.
"Para mim, isso sempre foi,
simplesmente, questão de uma
acusação muito séria que havia sido feita. Agora, ela foi retirada, e é
tudo o que eu queria. Isso nos permite encerrar o assunto e seguir
adiante", disse Blair.
Em frente à sede da BBC, em
Londres, funcionários protestaram. A BBC, com 82 anos de história, é motivo de orgulho para os
britânicos e referência em termos
de jornalismo em todo o mundo.
Ontem, não havia nenhuma informação sobre o destino do jornalista Andrew Gilligan, autor da
polêmica reportagem, de maio de
2003, sobre o dossiê iraquiano.
Com agências internacionais
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