São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ombudsman afirma que jornalismo é a vítima

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Ignore esse tipo de assunto. Você tem de reportar apenas o que o governo diz ao invés do que realmente ocorre nos bastidores. Para o presidente da ONO (Organization of News Ombudsmen), o turco Yavuz Baydar, 47, foi esse o recado dado anteontem pelo relatório do lorde Brian Hutton ao jornalismo britânico e mundial.
Ex-jornalista da BBC, onde trabalhou nos anos 90, Baydar acredita que as conclusões de Hutton tenham sido muito "lenientes" com o governo britânico e "um pouco duras demais" com a rede estatal de comunicação.
A ONO reúne ombusdmans de 15 países. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha por telefone.

Folha - O sr. concorda com o relatório Hutton, que conclui que a BBC falhou ao divulgar uma reportagem com informações erradas?
Yavuz Baydar -
Não posso dizer que sim. Acredito que esse relatório já esteja sendo debatido. É muito leniente com o governo e um pouco duro demais com a BBC. É um relatório muito dúbio e questionável. Na apresentação e em outras partes, há certos aspectos que lorde Hutton ignora, o que dá a impressão de que ele não tenha dado nenhuma credibilidade aos argumentos da BBC.

Folha - A crise já provocou a saída do presidente e do diretor-geral. O sr. acha que a BBC perderá sua independência?
Baydar -
Não quero acreditar nisso. Já se pode ver hoje que havia um grande apoio dentro da BBC, especialmente para o diretor-geral. Greg Dyke tem sido muito importante para transformar a BBC, deixá-la mais ousada. Martin Bell escreveu no "Guardian" que obviamente é a pior crise na BBC dos últimos 50 anos, mas o futuro do jornalismo é que está em jogo.
O que esse relatório basicamente nos diz é: "Ignore esse tipo de assunto. Você tem de reportar apenas o que o governo diz ao invés do que realmente ocorre nos bastidores". O relatório questiona a função básica do jornalismo.

Folha - Até que ponto esse caso reflete as dificuldades de cobrir a Guerra do Iraque?
Baydar -
Pode-se dizer que a imprensa britânica tem feito um trabalho muito bom, certamente bem melhor do que a americana. Mas reflete um dos dilemas básicos. Essa guerra tem sido muito dura contra o jornalismo, especialmente nos países em guerra. Havia uma agressiva política governamental no Reino Unido -para não falar dos EUA-, e a BBC agüentou firme. Era evidente que essa crise ocorreria.
É um grande embate que continuará a perturbar a opinião pública mundial, que diz respeito às armas de destruição em massa. Pode-se questionar o estilo ou a forma com que [o jornalista da BBC Andrew] Gilligan fez a reportagem. Mas o centro dela foi feito nos padrões básicos do jornalismo. Ninguém pode questionar que, na essência, a história tem muitas chances de ser verdadeira.


Texto Anterior: Reino Unido: Para 56%, juiz foi duro demais com a BBC
Próximo Texto: Iraque ocupado: Saques impediram que arsenal fosse achado, diz Rice
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.