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Ombudsman afirma que jornalismo é a vítima
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Ignore esse tipo de assunto. Você tem de reportar apenas o que o
governo diz ao invés do que realmente ocorre nos bastidores. Para
o presidente da ONO (Organization of News Ombudsmen), o turco Yavuz Baydar, 47, foi esse o recado dado anteontem pelo relatório do lorde Brian Hutton ao jornalismo britânico e mundial.
Ex-jornalista da BBC, onde trabalhou nos anos 90, Baydar acredita que as conclusões de Hutton
tenham sido muito "lenientes"
com o governo britânico e "um
pouco duras demais" com a rede
estatal de comunicação.
A ONO reúne ombusdmans de
15 países. Leia, a seguir, a entrevista concedida à Folha por telefone.
Folha - O sr. concorda com o relatório Hutton, que conclui que a BBC
falhou ao divulgar uma reportagem com informações erradas?
Yavuz Baydar - Não posso dizer
que sim. Acredito que esse relatório já esteja sendo debatido. É
muito leniente com o governo e
um pouco duro demais com a
BBC. É um relatório muito dúbio
e questionável. Na apresentação e
em outras partes, há certos aspectos que lorde Hutton ignora, o
que dá a impressão de que ele não
tenha dado nenhuma credibilidade aos argumentos da BBC.
Folha - A crise já provocou a saída
do presidente e do diretor-geral. O
sr. acha que a BBC perderá sua independência?
Baydar - Não quero acreditar
nisso. Já se pode ver hoje que havia um grande apoio dentro da
BBC, especialmente para o diretor-geral. Greg Dyke tem sido
muito importante para transformar a BBC, deixá-la mais ousada.
Martin Bell escreveu no "Guardian" que obviamente é a pior crise na BBC dos últimos 50 anos,
mas o futuro do jornalismo é que
está em jogo.
O que esse relatório basicamente nos diz é: "Ignore esse tipo de
assunto. Você tem de reportar
apenas o que o governo diz ao invés do que realmente ocorre nos
bastidores". O relatório questiona
a função básica do jornalismo.
Folha - Até que ponto esse caso
reflete as dificuldades de cobrir a
Guerra do Iraque?
Baydar - Pode-se dizer que a imprensa britânica tem feito um trabalho muito bom, certamente
bem melhor do que a americana.
Mas reflete um dos dilemas básicos. Essa guerra tem sido muito
dura contra o jornalismo, especialmente nos países em guerra.
Havia uma agressiva política governamental no Reino Unido
-para não falar dos EUA-, e a
BBC agüentou firme. Era evidente
que essa crise ocorreria.
É um grande embate que continuará a perturbar a opinião pública mundial, que diz respeito às armas de destruição em massa. Pode-se questionar o estilo ou a forma com que [o jornalista da BBC
Andrew] Gilligan fez a reportagem. Mas o centro dela foi feito
nos padrões básicos do jornalismo. Ninguém pode questionar
que, na essência, a história tem
muitas chances de ser verdadeira.
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