São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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Assombrada pela confusão de 2000, Flórida teme voto eletrônico

Em Palm Beach, celebrizado na primeira eleição de Bush, há receio da imprensa

DO ENVIADO A WEST PALM BEACH

Um clima de desconfiança pairou ontem sobre o Condado de Palm Beach, reduto de milionários aposentados dos EUA famoso pela confusão das eleições presidenciais de 2000. Naquele ano, a disposição dos nomes dos candidatos nas cédulas confundiu eleitores que queriam votar no democrata Al Gore, o que ajudou na vitória do republicano George W. Bush.
A votação atualmente é feita em urnas eletrônicas, o que tem motivado receios de fraude. "Minha preferência seria por escrever meu voto. Não confio na máquina. Tenho o sentimento de que alguém pode apertar um botão e mudar meu voto", diz o holandês Herman Hopian, 75, radicado nos EUA há quatro décadas.
Como Hopian, grande parte dos eleitores locais disseram à Folha que temem que seus votos sejam alterados em favor de outro candidato e também que o sistema seja menos eficiente que o de papel.
As desconfianças ganharam corpo ao longo do dia, com os relatos de problemas em urnas de cidades do Condado. Em um distrito de Kings Point, o mesário desligou acidentalmente uma das máquinas, o que paralisou a votação em toda a sala ao longo do dia, enquanto técnicos tentavam resolver o problema.
A urna eletrônica da Flórida é mais complicada que a brasileira. Aqui, o eleitor, após apresentar documento com foto ao fiscal, recebe um cartucho (semelhante a um de videogame), que deve ser encaixado para ativar o equipamento. Vota-se tocando a tela, pelo nome (e não pela foto) do candidato.
Dono de um escritório de design, Phil Polete, 52, não gostou da novidade. "Fico pensando que deve ser fácil alguém mudar meu voto. Eu vim votar na esperança de que isso não vai acontecer, mas, você sabe, aqui as coisas são complicadas", diz Polete, evocando a confusão de 2000, quando falhas nas cédulas -que eram perfuradas para assinalar o candidato escolhido- fizeram com que muitos votos fossem anulados.
A memória de 2000 alimentou também uma desconfiança da imprensa. Jornalistas só podem entrevistar eleitores atrás de uma faixa azul a cerca de 20 metros da seção eleitoral.
O cuidado contrasta com o resto do país: em Iowa, jornalistas podiam entrar nas prévias sem credencial. Na Flórida, o silêncio é regra. No clube Westgate Park Recreation, uma mesária foi repreendida pela supervisora por falar com a Folha. "Você não entendeu? Não é para falar com a imprensa. Mesmo do Brasil", disse, chamando um segurança. (D.B.)


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