São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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ARTIGO

Obama e o passado

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há um esforço, sobretudo entre conservadores americanos, de aplicar uma imagem anti-Jesse Jackson em Barack Obama e com isso decretar a retirada da "questão racial" da arena política dos EUA. A onda Obama, segundo o colunista George Will, é a derrota de Jackson. Há uma exaustão, escreveu Will, das discussões sobre relações raciais, sentença que poderia ser interpretada como "repúdio" à própria existência de racismo nos Estados Unidos, na opinião de um jornalista de esquerda, Gary Younge. Um ex-assessor de Reagan, Will Bennet, citado por Younge, repete Will e vê Obama dizendo à comunidade negra que ela não deve agir como Jesse Jackson.
Younge concorda em que Obama e Jesse Jackson não combinam em estilo, temperamento, agenda e biografia. Mas têm áreas comuns que não podem ser subestimadas. Jackson, que antes de Obama foi o político negro que mais subiu na escala eleitoral nos Estados Unidos, como pré-candidato presidencial em 1968 e com triunfos em primárias, saiu das lutas pelos direitos civis.

Direitos civis
Não existe tal item -direitos civis- no discurso de Obama. O grande herói desses tempos, Martin Luther King [1929-1968], morto a tiros, só foi citado com destaque uma vez, quando questões de méritos entraram nas discussões.
Hillary Clinton atribuiu ao ex-presidente Lyndon Johnson [1963-1969] papel determinante no advento da legislação de direitos civis. Luther King não teria conseguido o que conseguiu sem a ação política de Johnson. Vale lembrar que Johnson não morria de amores por Jackson, desafiante incômodo ao seu pré-candidato nas eleições presidenciais de 1968, Hubert Humphrey, afinal derrotado por Nixon. Obama condenou com dureza essa versão da história outorgando papel secundário ao líder, nas ruas, de um dos movimentos de maior envergadura da crônica política americana.
Não podia ser de outra maneira. Jackson saiu da vanguarda desse movimento e Obama só existe porque depois das lutas de 1968 as portas foram se abrindo aos políticos negros. E o que é importante, como preâmbulo de um Obama, as portas das universidades. Aí Jackson e Obama se tocam, um dos precursores e um dos beneficiários das conquistas de direitos. Não se excluem, se completam, forjam continuidades.

Universidades
Gary Younge lembra que Obama freqüentou duas das melhores universidades dos Estados Unidos, as de Columbia e Harvard. E assim por diante. Deval Patrick, governador de Massachusetts, formou-se em Harvard. O prefeito de Newwark, Cory Booker, em Yale. Harold Ford, chefe do Conselho de Líderes Democratas e ex-parlamentar do Tennessee, na Universidade da Pensilvânia. Anthony Brown, vice-governador de Maryland, em Harvard.
Agora é a vez de construir novas bases, com a mobilização de jovens ansiosos por mudanças e por ideologias que se imponham à velha política. Obama nunca pediu que votassem nele por ser negro.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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