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ARTIGO
Obama e o passado
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há um esforço, sobretudo
entre conservadores americanos, de aplicar uma imagem anti-Jesse Jackson em Barack
Obama e com isso decretar a retirada da "questão racial" da
arena política dos EUA.
A onda Obama, segundo o colunista George Will, é a derrota
de Jackson. Há uma exaustão,
escreveu Will, das discussões
sobre relações raciais, sentença
que poderia ser interpretada
como "repúdio" à própria existência de racismo nos Estados
Unidos, na opinião de um jornalista de esquerda, Gary
Younge. Um ex-assessor de
Reagan, Will Bennet, citado por
Younge, repete Will e vê Obama dizendo à comunidade negra que ela não deve agir como
Jesse Jackson.
Younge concorda em que
Obama e Jesse Jackson não
combinam em estilo, temperamento, agenda e biografia. Mas
têm áreas comuns que não podem ser subestimadas. Jackson, que antes de Obama foi o
político negro que mais subiu
na escala eleitoral nos Estados
Unidos, como pré-candidato
presidencial em 1968 e com
triunfos em primárias, saiu das
lutas pelos direitos civis.
Direitos civis
Não existe tal item -direitos
civis- no discurso de Obama. O
grande herói desses tempos,
Martin Luther King [1929-1968], morto a tiros, só foi citado com destaque uma vez,
quando questões de méritos
entraram nas discussões.
Hillary Clinton atribuiu ao
ex-presidente Lyndon Johnson [1963-1969] papel determinante no advento da legislação
de direitos civis. Luther King
não teria conseguido o que conseguiu sem a ação política de
Johnson. Vale lembrar que
Johnson não morria de amores
por Jackson, desafiante incômodo ao seu pré-candidato nas
eleições presidenciais de 1968,
Hubert Humphrey, afinal derrotado por Nixon.
Obama condenou com dureza essa versão da história outorgando papel secundário ao
líder, nas ruas, de um dos movimentos de maior envergadura
da crônica política americana.
Não podia ser de outra maneira. Jackson saiu da vanguarda
desse movimento e Obama só
existe porque depois das lutas
de 1968 as portas foram se
abrindo aos políticos negros. E
o que é importante, como
preâmbulo de um Obama, as
portas das universidades.
Aí Jackson e Obama se tocam, um dos precursores e um
dos beneficiários das conquistas de direitos. Não se excluem,
se completam, forjam continuidades.
Universidades
Gary Younge lembra que
Obama freqüentou duas das
melhores universidades dos
Estados Unidos, as de Columbia e Harvard. E assim por
diante. Deval Patrick, governador de Massachusetts, formou-se em Harvard. O prefeito de
Newwark, Cory Booker, em Yale. Harold Ford, chefe do Conselho de Líderes Democratas e
ex-parlamentar do Tennessee,
na Universidade da Pensilvânia. Anthony Brown, vice-governador de Maryland, em
Harvard.
Agora é a vez de construir novas bases, com a mobilização de
jovens ansiosos por mudanças
e por ideologias que se imponham à velha política. Obama
nunca pediu que votassem nele
por ser negro.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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