São Paulo, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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Presidente italiano pede "pausa" para refletir

Impasse após a renúncia de Prodi se aprofunda

DA REDAÇÃO

Congelou-se ontem na Itália o roteiro de uma queda-de-braço entre, de um lado, o ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi, que defende eleições legislativas antecipadas, e, de outro, grupos de centro-esquerda -em que se enquadra o presidente Giorgio Napolitano- que querem eleições em junho ou até no ano que vem, para permitir uma reforma na legislação eleitoral.
O presidente italiano anunciou à noite que faria uma "pausa para a reflexão" sobre essas alternativas irreconciliáveis.
Napolitano, originário do Partido Comunista, hoje fundido com três outras formações no Partido Democrático, concluiu quatro dias de consultas a lideranças políticas. Caso não dissolva a Câmara e o Senado, pedirá que uma personalidade relativamente neutra chefie um governo interino.
Eram ontem apontados, como prováveis preferências do presidente para encabeçar esse gabinete, o presidente do Senado, Franco Marini, ou o então atual ministro do Interior, Giuliano Amato, que já foi por duas vezes primeiro-ministro na recente história italiana.
O premiê Romano Prodi caiu na última quinta-feira, quando o Senado não votou uma moção de confiança a seu governo. A crise foi desencadeada pela demissão do ministro da Justiça, Clemente Mastella, que se retirou da frágil coalizão de nove partidos que deu a Prodi uma apertada vitória há 20 meses.
Walter Veltroni, prefeito de Roma e dirigente do Partido Democrático, disse ontem ao presidente Napolitano que o ideal seria adiar a eleição até 2009 para que o país partisse para uma reforma institucional -redução das cadeiras no Parlamento, mais poderes ao premiê-, ao lado de uma lei eleitoral que desse aos governantes uma maioria mais estável na Câmara e no Senado.
"Eleições agora seriam instabilidade no futuro", disse o prefeito de Roma.

Lei eleitoral
A atual lei, aprovada quando Berlusconi chefiava o governo (2001-2006), amplifica a representatividade dos pequenos partidos e, em razão do voto distrital, dá ao Senado uma maioria sempre apertada ao governo, em contraste com maioria mais folgada na Câmara.
Berlusconi, que também foi recebido por Napolitano, voltaria a ser premiê caso as eleições ocorressem agora. As pesquisas dão a sua coligação conservadora uma vantagem de 10 a 12 pontos sobre os adversários.
Nos últimos dias, Berlusconi tem usado uma retórica agressiva e chegou a evocar uma "marcha sobre Roma", caso o atual Parlamento não seja dissolvido. A esquerda o criticou duramente por essa analogia ao ditador fascista Benito Mussolini, que por meio de uma "marcha" pôs fim a uma crise em 1922 e se instalou no poder.
Curiosamente, a mais influente entidade patronal, a Confindustria, não quer eleições imediatas que permitam a Berlusconi voltar ao poder.
Há o temor de que o ex-premiê comprometa o ajuste fiscal promovido por Prodi, o que colocaria em xeque e inutilizaria o período de sacrifícios depois do qual empresários e sindicatos esperam melhores taxas de crescimento econômico.
Os sindicatos também são contra eleições antecipadas.


Com agências internacionais


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