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Greve geral leva ao menos 1 milhão à rua na França
Corte de postos e insatisfação com reformas trabalhistas são maiores razões de paralisação
Protestos pelo país atraíram funcionários públicos e privados; na educação, adesão foi de pelo menos 50%, segundo o governo
CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Uma quinta-feira negra foi a
promessa dos sindicatos que
organizaram ontem uma greve
geral na França. Cerca de 2,5
milhões de pessoas, segundo os
organizadores, e 1 milhão, segundo a polícia, participaram
de protestos pelo país.
A lista de reivindicações e
queixas dos setores público e
privado é heterogênea (veja
quadro ao lado). Em comunicado, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a inquietação popular era "legítima" e
prometeu um encontro com
sindicalistas em fevereiro para
discutir as reformas e a situação econômica do país.
"A manifestação de ontem
mostrou a angústia em relação
ao desemprego, à crise mundial
e, sobretudo, uma vontade de
impedir o desmoronamento da
sociedade francesa. Há uma
forte crítica da sociedade ao ritmo e ao conteúdo das reformas
propostas por Sarkozy", avaliou Stéphane Montclaire, professor de Ciências Políticas da
Universidade Sorbonne.
O professor afirma que "faltou didatismo ao governo para
explicar a necessidade das mudanças" trabalhistas implementadas pelo presidente desde que assumiu, em 2007. "A
população fica com a impressão de que os benefícios dos pacotes econômicos são apenas
para as elites."
Para muitos grevistas, cruzar
os braços teve ainda sabor de
revanche. No ano passado, durante discurso, Sarkozy gracejou que, no seu governo, "nem
dá mais para perceber quando
há greve". Uma nova lei estabeleceu a obrigatoriedade de um
"serviço mínimo" nos transportes e nas escolas públicas.
Melhor que o previsto
Na passeata de ontem que
saiu da praça da Bastilha, na capital francesa, cerca de 300 mil
pessoas participaram. Outras
200 manifestações foram realizadas pelo interior. Em Toulouse, empregados da Airbus e
do setor automotivo, um dos
mais afetados pela crise, estavam na linha de frente.
Segundo sondagem publicada pelo jornal "Le Figaro", de
centro-direita, 69% dos franceses eram favoráveis à greve.
Na greve dos transportes em
novembro de 2007, a circulação de trens, metrôs e ônibus
na capital tornou praticamente
inviável a rotina dos parisienses. Ontem, porém, o movimento foi mais tranquilo.
No início da manhã, a reportagem da Folha percorreu algumas das estações de maior
movimento, e poucas pessoas
esperavam nas plataformas.
Segundo a RATP (companhia
de metrô e trem urbano), a circulação média foi de 80%. Na
linha de trem que liga os aeroportos de Orly e Charles de
Gaulle, a paralisação foi total.
Já nos trens intermunicipais
da região da capital, a taxa de
circulação foi de 35%, e, no interior, os transportes foram
mais penalizados.
Em Orly, 30% dos voos foram cancelados, e no Charles
de Gaulle, 10%.
Já a educação pública foi fortemente atingida. O governo citou 50% de adesão, e os sindicatos, 67,5% -em qualquer caso, a taxa supera a de 2007.
Embora alguns analistas
atrelem a circulação relativamente normal nos transportes
públicos ao fato de muitos trabalhadores terem tirado folga
ontem, o professor Montclaire
lembra que, com a exigência do
"serviço mínimo", o setor deixou de ser um termômetro do
sucesso da greve.
"O indicador mais importante são as manifestações. Vimos
ontem que o movimento atingiu não só as metrópoles, mas
também os municípios pequenos e médios. Isso mostra que o
grau de insatisfação popular é
bastante elevado."
A insatisfação da população,
porém, não encontra porta-voz
na oposição. O Partido Socialista, o principal, enfrenta dificuldades internas. Já o Partido
Comunista tem um papel marginal na vida política do país, e
a extrema esquerda ainda forma um novo projeto.
"É um período estranho. Não
há um partido capaz de canalizar essa angústia. As pessoas
vão começar a se expressar por
elas mesmas", diz Montclaire,
lembrando que a saída vai ter
que ser negociada -o que não é
tradição francesa. "A França é
um país de confronto."
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