São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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Petróleo e desvalorização amortecem crise no país

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A recuperação do preço do petróleo e a recente desvalorização da moeda venezuelana devem ajudar o governo a amortecer o alto custo político que a crise energética cobra de Hugo Chávez neste momento.
"Chávez ainda tem muita gordura para gastar", diz Ricardo Sennes, economista, professor de Relações Internacionais da PUC de São Paulo e diretor da consultoria Prospectiva.
Essa é também a avaliação de Luis Vicente León, economista e diretor do instituto de pesquisa Datánalisis, o mais respeitado da Venezuela. "Chávez tenta implementar estratégia de controle de danos: aumentar o gasto público, tentar dirigir a tensão a problemas distintos", diz.
A Venezuela fechou a semana vendendo seu barril de petróleo a US$ 66,59, alta ante à média de US$ 57,02 em 2009. As previsões para o resto do ano variam, e dependerão do ritmo de recuperação da economia mundial.

Brasil, futuro incerto
Em termos políticos, Sennes avalia que o venezuelano também tem munição. "Faz algum tempo que a população aparece dividida nas pesquisas. Chávez tem jogado com uma pequena margem [de vantagem] o tempo todo, embora seja certo que ela está se corroendo", diz.
Para o professor, a discussão sobre o relação que o Brasil deve ter com a Venezuela de Chávez virou questão de política doméstica e se empobreceu. "Não interessa ao Brasil isolar Chávez. Não é bom nem para as empresas brasileiras nem para a estabilidade regional."
A Venezuela é o segundo maior comprador de produtos brasileiros no subcontinente e foi, em 2009, o país com o qual o Brasil obteve o segundo maior superavit, diz o governo.
O que vem pela frente, porém, não é animador, concordam os analistas. Avaliam que a crise energética é apenas um dos gargalos da economia.
Na opinião de Sennes, gerir o Estado acrescido de empresas estratégicas -siderúrgicas, bancos e telefônicas nacionalizadas- é tarefa que vai além do que o chavismo pode abarcar. "Se o PT teve problemas de quadros quando assumiu, imagine uma figura solitária como Chávez com uma tarefa dessa nas mãos. Ele tem gente para colocar na telecomunicação, nas siderúrgicas? Não."
As críticas a Chávez também vem de Heinz Dieterich, cientista político alemão radicado no México. Ex-ideólogo do presidente, distanciou-se de Caracas em 2007 e seus textos em fóruns esquerdistas na internet espraiam as dúvidas sobre o futuro do projeto bolivariano.
"Chávez joga o papel que Washington lhe indica: em vez de ampliar suas alianças internas mediante um virada includente de sua política, radicaliza-a, isolando-se e debilitando-se cada vez mais", escreveu em www.kaosenlared.net.
"Reagir diante da crise de governabilidade com a declaração "Exijo lealdade absoluta à minha liderança. Não sou um indivíduo, sou o povo" causou calafrios na classe média e brinde na Casa Branca", continuou. Pior, diz , é que é essa classe média que decidirá as eleições legislativas deste ano.


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