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Presidente do BC argentino renuncia ao cargo
Após contestar sua exoneração na Justiça, Martín Redrado diz fazer "gesto republicano" para amainar conflito institucional
Casa Rosada, no entanto, quer agora levar até ao fim audiências em comissão do Congresso para forçar vice opositor a se posicionar
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O economista Martín Redrado renunciou ontem à presidência do Banco Central argentino, após 21 dias de uma batalha jurídica com o governo para
permanecer no cargo, do qual
foi exonerado por decreto pela
presidente do país, Cristina
Kirchner, sob acusação de "má
conduta e descumprimento de
deveres".
Redrado resistia a pôr em
prática decreto de Cristina para
transferir ao Tesouro, em garantia do pagamento da dívida
externa, US$ 6,5 bilhões das reservas do BC, que totalizam
US$ 48 bilhões. Ele apontou
risco de embargo do dinheiro
por credores argentinos que recusaram a troca da dívida.
O economista reassumiu seu
cargo por meio de uma medida
cautelar. O governo conseguiu
derrubar essa medida na semana passada, quando Cristina recuou da negativa de envolver o
Congresso na discussão.
Pela legislação argentina, o
Executivo deve ouvir uma comissão do Congresso antes de
remover a diretoria do Banco
Central, mas não é obrigado a
seguir o seu parecer. No decreto em que exonerou Redrado,
alegando "necessidade e urgência", Cristina ignorou essa exigência legal.
A pedido de Cristina, a comissão se reuniu nesta semana,
conformada por um legislador
governista, um opositor e o vice-presidente da República,
Julio Cobos, que acumula a
presidência do Senado.
Cobos está rompido com
Cristina desde 2008. A Casa
Rosada o acusa de estar por trás
da insubmissão de Redrado.
Aspirante à sucessão de Cristina em 2011, Cobos teria um
acordo com Redrado para que o
economista integre sua chapa
ou seu eventual gabinete. Para
obrigar Cobos a se posicionar
em relação à saída de Redrado,
Cristina não aceitou a renúncia
do presidente do BC e aguarda
o parecer da comissão.
Ao anunciar sua renúncia,
Redrado afirmou: "Que esse último gesto republicano sirva
para virar a página e amainar o
conflito". Atacou, porém, o governo. "Chegamos a essa situação pelo permanente atropelo
das instituições que pratica o
governo. O governo quer avançar sobre as reservas, que são a
poupança dos argentinos. Proteger as reservas é proteger o
bolso dos argentinos", disse.
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, ironizou
as declarações de Redrado: "Parecia tão patriótico que dá vontade de dizer: não vá nunca! Para nós, a renúncia não existe.
Aguardamos o parecer da comissão na terça", afirmou.
Na crise política desencadeada pelo conflito em torno do
uso das reservas do BC e do comando da entidade, a Casa Rosada acumulou atritos com o
Congresso e a Justiça.
O governo denunciou penalmente, por "fraude processual", a juíza María José Sarmiento, que anulou os dois decretos de Cristina -sobre a transferência das reservas e a
remoção de Redrado.
A Casa Rosada chegou a acionar a Polícia Federal para tentar entregar a Sarmiento um
recurso à sua liminar. A presidente chamou-a de "juíza-delivery", criticando suas sentenças a favor da oposição.
Cristina ignorou pedido de
parlamentares oposicionistas
para convocar extraordinariamente o Congresso, que está
em recesso, e acusou a oposição, especialmente a UCR
(União Cívica Radical), partido
de Cobos, de tentar impedir a
governabilidade.
A crise produziu uma baixa
no governo -Cristina demitiu
o procurador-geral do Tesouro,
responsável pela estratégia jurídica do governo nessa questão- e abalou a relação entre a
presidente e o ministro da Economia, Amado Boudou, a quem
ela culpa por não tê-la advertido do risco de embargo das reservas apontado por Redrado.
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