São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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"Violência local não voltou a nível pré-Minustah"

DE NOVA YORK

Para Robert Muggah, diretor do Small Arms Survey, grupo de pesquisa independente do Graduate Institute of International and Development Studies, em Genebra (Suíça), a violência no Haiti ainda não se equipara ao patamar anterior à chegada da Minustah -a missão da ONU no país, liderada pelo Brasil-, em 2004. Gangues e tráfico de drogas estão entre os principais problemas de segurança do Haiti, que concentra mortes violentas na região da capital, Porto Príncipe. (JANAINA LAGE)

 

FOLHA - O tráfico de drogas é forte na região? O Haiti faz parte da rota de cocaína para os EUA?
ROBERT MUGGAH - Há muita discussão sobre isso. Uma das maiores razões para o engajamento dos EUA e do Canadá é a questão das drogas, sem mencionar a imigração. Esse debate começou no início dos anos 2000, um pouco depois do lançamento do Plano Colômbia. A guerra contra as drogas se tornou um item-chave da política americana. Os EUA investigaram a rota da droga e viram que ela saía de países como Colômbia e Equador e passava pela América Central e Caribe. Eles identificaram o Haiti como uma das áreas de trânsito. Na época, a estimativa era a de que de 8% a 10% da cocaína rumo ao território americano passava por lá. Não existe um volume desse porte de droga em circulação em um país sem algum nível de cumplicidade por parte das autoridades locais, como a polícia e pessoas próximas ao governo. Muitas agências internacionais se mantiveram caladas sobre o assunto porque temiam não poder continuar seu trabalho por lá.

FOLHA - As autoridades já afirmaram que, em termos institucionais, o Haiti regrediu ao período anterior à chegada da missão de paz da ONU. A violência também voltou ao patamar anterior a 2004?
MUGGAH - Não. Quando o presidente Jean-Bertrand Aristide estava no poder, uma parte da violência tinha motivação política. Hoje estamos em uma situação de população traumatizada, com pequenas gangues e o acréscimo de presos que fugiram da cadeira e voltaram para seus locais de origem. Há uma violência oportunista.

FOLHA - Mas houve fuga de centenas de presos da penitenciária.
MUGGAH - Um ponto a se considerar é que 75% desses prisioneiros são pessoas que não foram a julgamento, mas estavam detidas, muitas delas por delitos menores. Em Porto Príncipe, a atuação das gangues é dividida por regiões. Na região de Bel Air cresceram as gangues de motivação política, em Cité Soleil [um dos bairros mais pobres da capital], a atuação é de gangues criminosas predatórias. Não se trata de desconsiderar a ameaça existente, que é real, mas ela ainda não se compara ao que era em 2004.

FOLHA - Em termos estatísticos, o que se sabe hoje sobre o perfil da população haitiana?
MUGGAH - Nossos estudos indicam que o Haiti é um país muito jovem em termos de população. O segmento entre 15 e 29 anos representa 50% do total. O desemprego era de cerca de 50% em 2008 e em algumas áreas mais populosas chegava a 75%. Cerca de um terço dos moradores recebia remessas, principalmente dos EUA e do Canadá, onde há forte presença de haitianos.


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