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"Violência local não voltou a nível pré-Minustah"
DE NOVA YORK
Para Robert Muggah, diretor
do Small Arms Survey, grupo
de pesquisa independente do
Graduate Institute of International and Development Studies, em Genebra (Suíça), a violência no Haiti ainda não se
equipara ao patamar anterior à
chegada da Minustah -a missão da ONU no país, liderada
pelo Brasil-, em 2004.
Gangues e tráfico de drogas
estão entre os principais problemas de segurança do Haiti,
que concentra mortes violentas na região da capital, Porto
Príncipe.
(JANAINA LAGE)
FOLHA - O tráfico de drogas é forte
na região? O Haiti faz parte da rota
de cocaína para os EUA?
ROBERT MUGGAH - Há muita discussão sobre isso. Uma das
maiores razões para o engajamento dos EUA e do Canadá é a
questão das drogas, sem mencionar a imigração.
Esse debate começou no início dos anos 2000, um pouco
depois do lançamento do Plano
Colômbia. A guerra contra as
drogas se tornou um item-chave da política americana. Os
EUA investigaram a rota da
droga e viram que ela saía de
países como Colômbia e Equador e passava pela América
Central e Caribe.
Eles identificaram o Haiti como uma das áreas de trânsito.
Na época, a estimativa era a de
que de 8% a 10% da cocaína rumo ao território americano
passava por lá. Não existe um
volume desse porte de droga
em circulação em um país sem
algum nível de cumplicidade
por parte das autoridades locais, como a polícia e pessoas
próximas ao governo.
Muitas agências internacionais se mantiveram caladas sobre o assunto porque temiam
não poder continuar seu trabalho por lá.
FOLHA - As autoridades já afirmaram que, em termos institucionais, o
Haiti regrediu ao período anterior à
chegada da missão de paz da ONU.
A violência também voltou ao patamar anterior a 2004?
MUGGAH - Não. Quando o presidente Jean-Bertrand Aristide
estava no poder, uma parte da
violência tinha motivação política. Hoje estamos em uma situação de população traumatizada, com pequenas gangues e
o acréscimo de presos que fugiram da cadeira e voltaram para
seus locais de origem. Há uma
violência oportunista.
FOLHA - Mas houve fuga de centenas de presos da penitenciária.
MUGGAH - Um ponto a se considerar é que 75% desses prisioneiros são pessoas que não foram a julgamento, mas estavam
detidas, muitas delas por delitos menores.
Em Porto Príncipe, a atuação
das gangues é dividida por regiões. Na região de Bel Air cresceram as gangues de motivação
política, em Cité Soleil [um dos
bairros mais pobres da capital],
a atuação é de gangues criminosas predatórias. Não se trata
de desconsiderar a ameaça
existente, que é real, mas ela
ainda não se compara ao que
era em 2004.
FOLHA - Em termos estatísticos, o
que se sabe hoje sobre o perfil da população haitiana?
MUGGAH - Nossos estudos indicam que o Haiti é um país muito jovem em termos de população. O segmento entre 15 e 29
anos representa 50% do total.
O desemprego era de cerca de
50% em 2008 e em algumas
áreas mais populosas chegava a
75%. Cerca de um terço dos
moradores recebia remessas,
principalmente dos EUA e do
Canadá, onde há forte presença
de haitianos.
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