São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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CLÓVIS ROSSI

O que os palestinos esperam de Lula


Na visita de março ao Oriente Médio, torcida é para que ele possa ajudar a modificar a "química" da negociação


NA PAREDE em frente à porta principal do Centro de Congressos de Davos, QG dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, há uma grande foto em que Iasser Arafat, o histórico líder palestino, morto em 2004, dá as mãos a Shimon Peres, hoje o presidente de Israel.
Foto feita em Davos em 2001, quando Arafat e Peres se tratavam de irmãos e parceiros para a paz, que parecia quase ao alcance.
Nove anos depois, um dos sucessores de Arafat na liderança palestina, o primeiro-ministro Salam Fayad faz uma análise "desencorajadora" da situação, que remete inevitavelmente à total impossibilidade de repetir-se em um futuro próximo (ou talvez remoto) um aperto de mãos entre os dirigentes das duas partes, quanto mais um tão caloroso como o de 2001.
É nesse cenário pouco animador que vai se meter, em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com visita oficial já marcada a Israel, territórios palestinos e Jordânia.
"O envolvimento do Brasil é muito bem-vindo", diz Fayad, que explica didaticamente qual é o papel que imagina para o Brasil em um contexto em que nem as potências conseguiram destravar.
Na sua visão, o processo de negociação segue duas trilhas que "se reforçam mutuamente". Uma delas é a construção de instituições palestinas com a solidez suficiente para assumir, em algum momento que Fayad nem ousa imaginar, o comando do Estado a ser criado.
A seu lado, Carl Bildt, o ministro sueco do Exterior, muito envolvido com Oriente Médio, dá um depoimento otimista: "Houve uma melhoria verdadeiramente dramática na governança".
Mas é uma avaliação muito parcial porque não abarca a faixa de Gaza, em que o movimento fundamentalista Hamas tomou o controle, desalojando a Autoridade Nacional Palestina, da qual Fayad é o primeiro-ministro.
O premiê reconhece que nesse capítulo da governança (a reunificação do governo das duas partes em que se divide o território palestino) se está em uma situação "problemática e difícil". E, sem a unificação, não há como pensar em um Estado palestino: "O Estado palestino não será em uma parte do território, mas na margem ocidental [do rio Jordão, governada pela ANP] e na faixa de Gaza".
O Brasil entra na segunda trilha desenhada por Fayad, que é o processo político de negociação com Israel, que só pode avançar se houver o envolvimento da comunidade internacional. "E o Brasil ocupa uma posição importante na comunidade internacional", diz Fayad.
Fayad não é o único a esperar algo do Brasil. Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe e um dos mais competentes diplomatas do Oriente Médio, aposta na capacidade de Lula de interferir no que chama de "química da negociação". Explica: "O que está na moda é o gerenciamento da crise. Mas precisamos é resolver a crise".
Moussa conta com uma firme tomada de posição de Lula em favor de "uma verdadeira paz".
Por muito complicada que seja a missão de Lula, Fayad tem um argumento mais de esperança do que de realismo: "Já houve outros momentos em que uma saída parecia impossível".


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