São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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Morte de líder do Hamas ameaça trégua

Corpo de comandante militar é achado com sinais de choques elétricos e enforcamento; grupo palestino acusa Israel, que não se manifesta

Episódio é mantido em sigilo durante nove dias, segundo autoridades de Dubai, para permitir que suspeitos fossem rastreados

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O funeral de um dos principais comandantes militares do grupo extremista palestino Hamas mobilizou milhares de pessoas ontem em Damasco, capital da Síria, em meio a promessas de vingança e ameaças à frágil trégua não oficial mantida no último ano com Israel.
Mahmoud al Mabhouh foi encontrado morto no último dia 20 em um quarto de hotel em Dubai, com sinais de choques elétricos e enforcamento. Os líderes do Hamas imediatamente acusaram Israel, que não comentou o caso.
Após investigação preliminar, o governo de Dubai informou que foram identificados vários suspeitos, "a maioria portadores de passaporte europeu". Segundo as autoridades do emirado árabe, há indícios de que Al Mabhouh, 50, tenha sido assassinado por "uma gangue criminosa profissional".
Um dos fundadores das Brigadas Izzedin al Qassam, braço armado do Hamas, Al Mabhouh é apontado como o cérebro de vários ataques contra Israel, entre eles o sequestro e morte de dois soldados. Morava desde 1989 na capital síria, onde fica o núcleo principal da liderança política do Hamas.
"Responsabilizamos o inimigo sionista pelo assassinato criminoso de nosso irmão", disse o grupo em um comunicado, prometendo retaliar "no tempo e momento certos".
Embora o Hamas controle a faixa de Gaza desde 2007, vários de seus líderes vivem exilados em países da região, principalmente Síria e Líbano. Isso inclui o principal dirigente político do grupo, Khaled Meshal, instalado em Damasco.
No funeral de Al Mabhou, Meshal acusou diretamente Israel pelo atentado e pregou vingança. "Digo aos sionistas: não comemorem. Vocês o mataram, mas os filhos dele os combaterão", disse ele, que escapou por pouco de um ataque israelense na Jordânia, em 1997.
Os responsáveis pela investigação não explicaram por que levou mais de uma semana para que o assassinato fosse divulgado. Izzat al Rishq, membro do birô político do Hamas em Damasco, disse que a informação foi omitida do público para que os autores do ataque pudessem ser rastreados.
O governo israelense não fez nenhum comentário sobre as acusações do Hamas, como é praxe nesses casos. No passado, muitos líderes do Hamas foram mortos em ações de Israel, entre eles o fundador do grupo, Ahmed Yassin.
Analistas observaram que Israel não tem interesse em abalar a trégua tácita mantida com o grupo desde a maciça ofensiva há um ano. "Se tanto os israelenses como a Autoridade Nacional Palestina reconhecem que o Hamas tem evitado ataques a Israel, o que se ganharia com uma provocação dessa?", indagou Marc Lynch, da revista "Foreign Policy".


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