São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Próximos passos do Exército egípcio podem decidir futuro do país

Para analistas, instituição está em risco se militares forem obrigados a atirar em civis durante protestos

NEIL MACFARQUHAR
DO "NEW YORK TIMES"

Mesmo com veículos militares blindados mobilizados em torno de importantes instituições do governo egípcio, pela primeira vez em décadas foi difícil de prever o papel que as Forças Armadas poderia desempenhar.
"Eles estão do lado da nação ou do lado do regime?", perguntou um ex-diplomata ocidental que trabalhou no Cairo por muito tempo. "Nós agora estamos passando por um teste moderno de saber se existe uma separação entre os dois."
Os militares executaram o golpe de 1952 no país, que derrubou a monarquia, e se consideraram pastores da revolução desde então; todos os quatro presidentes nos anos seguintes foram generais militares.
Mas Mubarak, que comandou a Força Aérea antes de subir para o poder quando o presidente Anwar Sadat o nomeou vice-presidente em 1975, trabalhou duro para manter o Exército sob seu controle.
Quando explodiu o caos na Tunísia neste mês, a decisão do chefe militar de não disparar contra os manifestantes foi vista como um fator decisivo na condução do presidente Zine El Abidine Ben Ali para fora do país.
O respeito do público pelo Exército contrasta com a visão predominante da polícia e outras forças do Ministério do Interior, conhecidos pelos egípcios por sua brutalidade.
O Exército egípcio, com cerca de 468 mil soldados, é uma instituição à parte, e pode fornecer um meio de promoção social, onde homens de famílias pobres podem ganhar prestígio e se juntar à classe média alta.
Analistas acreditam que o ponto de inflexão dos militares pode acontecer se eles forem obrigados a disparar contra manifestantes em grande número. Uma coisa é proteger edifícios do governo de saqueadores, outra é manchar a reputação do Exército matando cidadãos.
Ninguém pensa que uma pessoa leal a Mubarak, como o é Mohamed Tantawi, atrasado e impopular ministro da Defesa, desempenharia o papel de desafiar o presidente, o que não significa que seus subordinados não o fariam.
"Se os militares atirarem contra os civis depois de manifestações claramente populares, isso colocará em perigo a integridade dos militares", disse Samer Shehata, professor de política árabe da Universidade de Georgetown. "Desta vez o futuro da instituição está em risco."
Tal ação também poderia prejudicar o relacionamento dos militares com os EUA. Robert Gibbs, porta-voz do presidente Obama, disse que a ajuda ao Egito, que agora chega a US$ 1,3 bilhões por ano, será posta em análise, caso a violência continue.
Se os militares tirarem o presidente do poder, há dúvidas de que o Egito pode ser governado por um quinto militar por mais do que um período transitório.
"Esta é a hora do povo para uma transição democrática", disse Emad El-Din Shahin, professor da Universidade de Notre Dame.
Shahin observa que a consciência de que regimes não-democráticos são uma anomalia no mundo moderno é muito alta entre os jovens manifestantes. "Será que as pessoas toleram mais 60 anos de domínio militar?"


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