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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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BAGDÁ

Prédio onde trabalham jornalistas estrangeiros e que sedia TV de Saddam é atingido na madrugada

Ministério da Informação é atacado

Patrick Baz/ France Presse
Membros do partido governista Baath agitam armas no prédio do Ministério da Informação, durante exibição de um vídeo anti-EUA


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

A sede do Ministério da Informação iraquiano, que recebe a imprensa estrangeira diariamente em Bagdá, foi atingida no começo da madrugada de ontem por dois mísseis. O prédio de 11 andares localizado no centro da capital iraquiana teve seus últimos pisos destruídos e diversas antenas de transmissão de emissoras de TV destruídas ou entortadas. Devido ao horário, ninguém se feriu.
Como o funcionamento do local é diurno, não havia ninguém no momento do ataque. É no andar térreo, que foi coberto de poeira e perdeu parte das janelas e das portas, que a frequência dos cerca de 150 jornalistas estrangeiros presentes em Bagdá é mais intensa durante o dia. Ali ficam, entre outros, os escritórios das agências Reuters e France Presse e as emissoras árabes de TV, que sofreram leves abalos, mais a administração do centro de imprensa.
Poucas horas depois de o prédio ter sido atingido, o administrador convocou uma equipe de faxineiros que tentava dar um aspecto de normalidade antes de os jornalistas chegarem. Não adiantou: durante o dia inteiro, poucos arriscavam a entrar no local ou ficar lá dentro por mais de cinco minutos. As equipes de TV transferiram seus equipamentos do mezanino para a calçada em frente.
A apreensão faz sentido. Desde o começo dos bombardeios, há 11 dias, a coalizão anglo-americana vem atingindo até cinco vezes o mesmo lugar, em dias e horários diferentes. A lógica mostra que o ministério voltará a ser atacado.
A sede do ministério era considerada pelos iraquianos um alvo militar, devido à presença de artilharia antiaérea em seu telhado e também porque é o responsável por regular toda a produção cultural do país e por toda comunicação pública de Saddam Hussein. Telejornais, programas de rádio, jornais diários, revistas, livros, peças e filmes são produzidos e publicados pelo órgão.
Seu titular, o general-ministro Mohammed Said Al-Sahaf, é também porta-voz do governo.
O ataque de ontem só confirma a atual estratégia americana de destruir todo o sistema de comunicações de Saddam. Nas últimas 72 horas foram atingidas a sede da emissora de rádio e TV estatal, vizinha do Ministério da Informação, três estações de telecomunicações, que deixaram um terço da cidade sem telefone, e diversas antenas transmissoras na capital.
A ação vem sofrendo críticas da comunidade internacional e revoltando a população local, por visar alvos mistos, de utilização tanto civil quanto militar.
Ontem, um porta-voz do governo britânico disse que "mísseis iraquianos defeituosos" caíram em Bagdá e, por isso, Saddam teria demitido seu comandante de defesa antiaérea. Mas não chegou a dizer que foram esses mísseis que mataram civis nos mercados.
Apesar do bombardeio, a TV iraquiana mostrou ontem imagens de uma reunião ministerial presidida por Saddam Hussein. Segundo o apresentador, ela teria ocorrido ontem, mas não havia como comprovar a informação. Desde o início da guerra, o ditador iraquiano já fez dois discursos à nação pela TV. Não se sabe se eles foram transmitidos ao vivo ou se foram gravados antes.
As bombas de alto impacto continuaram a cair na manhã e tarde de ontem em Bagdá. O ataque se intensificou a partir da tarde, quando pequenos tremores de terra seguidos podiam ser sentidos por toda a cidade.
Antecipando cada ataque, os disparos das baterias antiaéreas iraquianas, que ontem voltaram a atuar mais intensamente.
Nas últimas 24 horas, 68 iraquianos teriam morrido vítimas dos ataques aéreos a Bagdá, que deixaram 107 feridos, segundo Said Al-Sahaf. De acordo com ele, tanques britânicos teriam destruído 75 mil toneladas de comida em Basra (sul). A carga incluía açúcar, chá e leite infantil. "Só cachorros doentes fariam isso."
Já um porta-voz do Ministério da Defesa deu a versão do governo para os números dos dez primeiros dias da guerra. Segundo o órgão, as Forças Armadas iraquianas já mataram "centenas" de soldados inimigos, derrubaram cinco aviões e quatro helicópteros de ataque, seis aeronaves não-tripuladas e 143 mísseis.
Teriam destruído ainda 74 tanques, cinco transportadores de tanques e 35 veículos blindados de transporte de tropas.
A TV estatal iraquiana mostrou imagens do que afirmou serem três espiões iraquianos que foram presos por estarem trabalhando para os EUA. Sua função, segundo a TV, seria inspecionar áreas em Bagdá já atacadas e verificar a necessidade de novos ataques.
O governo iraquiano rechaçou ontem nova resolução aprovada anteontem pelo Conselho de Segurança da ONU que retomou o programa de ajuda humanitária Petróleo por Comida.
Bagdá afirmou que só o governo pode administrar o programa, responsável pela alimentação de boa parte da população do país.


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