São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Presidente, Obama visita outra Europa

Crise e escalada no Afeganistão mudam americano aos olhos do continente em sua viagem de estreia como líder mundial

Democrata irá a reuniões do G20, da União Europeia, da Otan e encerrará périplo na Turquia, mas euforia vista em 2008 não deve se repetir


Nicholas Kamm-27.mar.09/France Presse
Obama deixa a Casa Branca rumo ao retiro presidencial em Camp David, no último fim de semana antes do tour europeu que inicia amanhã; cobranças redobraram

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em sua visita mais recente à Europa, no ano passado, Barack Obama foi recebido como ídolo pop, reunindo mais de 200 mil pessoas em Berlim, que queriam ver e ouvir o candidato progressista que prometia mudar o papel dos EUA no mundo.
Amanhã, ele volta à região como o presidente de um país que levou o mundo a uma crise econômica inédita e que acaba de ordenar uma escalada militar num país invadido, o Afeganistão. A recepção deve ser à altura dos problemas, e é provável que os milhares que saiam às ruas sejam manifestantes.
"O presidente começou bem sua política externa, mas é claro que escolhas difíceis virão", disse à Folha Lee Hamilton, presidente do Wilson Institute e um dos gurus da política externa de Obama (leia abaixo).
No périplo desta semana, seu primeiro ao exterior de fato -desde que assumiu o cargo, Obama foi ao Canadá por sete horas, cumprindo praxe presidencial-, o democrata seguirá uma agenda de três partes que resumem suas prioridades.
Em Londres, de amanhã a quinta, irá à reunião do G20, onde estará sob fogo cruzado de parte dos líderes europeus (que veem com ceticismo o esforço dos EUA para uma ação global de resposta à crise), da China (que defende outra moeda de reserva internacional que não o dólar) e de economias emergentes como Brasil e Índia (que querem mais voz).
Na França e na Alemanha, onde participa de reunião dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), tentará convencer os aliados a embarcar de maneira mais efetiva no Afe-Paqui, aquele que está se tornando o conflito de sua gestão, a ação militar na fronteira entre Afeganistão e Paquistão.
De novo, deverá enfrentar resistência sobretudo à iniciativa de ver os países replicarem a escalada militar americana, parte de sua nova estratégia, anunciada na última sexta.
Por fim, comparece a uma reunião da União Europeia, em Praga, na República Tcheca, no sábado e parte de domingo, e termina o tour com sua prometida viagem a um país muçulmano, a Turquia, onde passa parte de domingo e segunda.

China e Rússia
No meio do caminho, realiza reuniões bilaterais com os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e da China, Hu Jintao. "Em primeiro lugar e de maneira mais importante, ele vai mostrar o compromisso dos EUA com o resto do mundo", disse Michael Froman, em coletiva na manhã de sábado.
Segundo o conselheiro-assistente de Segurança Nacional para economia internacional, "os EUA vão se mostrar abertos e atentos, mas também vão liderar com o seu exemplo".
O problema é que em todos os encontros Obama lidará com questões prementes, não mais com o mundo das ideias que o esperava em Berlim em 2008 e no qual seu gabinete parece ainda estar trabalhando.
Além disso, a situação de seus anfitriões é precária. "O problema de Obama é que todo o mundo está fraco", disse Moisés Naím, editor da revista "Foreign Policy". "Seus principais aliados estão fracos, e mesmo seus rivais estão fracos."


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