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Democrata já mudou o tom da política externa, diz Hamilton
DE WASHINGTON
O que une Ben Rhodes, autor
de discursos de política externa, Denis McDonough, diretor
de comunicação do Conselho
de Segurança Nacional, Dan
Restrepo, assessor para Oriente Médio, e Daniel Shapiro, assessor para a comunidade judaica, além de trabalhar sob
Obama? Todos foram parte da
equipe de Lee Hamilton.
Apontado como um dos gurus de política externa do presidente, o ex-representante (deputado) democrata esteve no
comando de comissões independentes sobre o escândalo
Irã-Contras, nos anos 80, o 11
de Setembro e a Guerra do Iraque. Presidente do renomado
Wilson Center de estudos de
política externa em Washington, ele falou à Folha.
(SD):
FOLHA - As pessoas começam a falar de uma Doutrina Obama de política externa, pragmática, com ênfase em diplomacia, que evita classificações como "guerra ao terror" ou
"eixo do mal". Funcionará?
LEE HAMILTON - É cedo para julgar, mas ele já mudou o tom da
política externa americana, para um compromisso maior tanto de aliados como de adversários. Começou a sair do Iraque,
ampliará a presença civil e militar no Afeganistão, estendeu a
mão a adversários como o Irã,
não fala de mudança de regime,
mas de relacionamento com a
Síria, por exemplo, e de retomar o diálogo com a Rússia. Tudo indica que ele está mudando
a direção.
FOLHA - O sr. já disse que a Guerra
do Afeganistão não é uma guerra
"ganhável". Ainda pensa assim?
HAMILTON - Não acho que a vitória, no sentido do final da Segunda Guerra, por exemplo, é
provável. A questão é se ela é
ganhável a um preço que nós
estamos dispostos a pagar. É
claro que é uma situação possível, mas a questão é se nós conseguiremos sustentar nossos
interesses lá por um período,
sustentar os fundos necessários para atingir nossos objetivos. A chave para atingir o objetivo é defini-lo apropriadamente, defini-lo em termos de destruir a Al Qaeda, e não de fazer
do país uma democracia.
FOLHA - Quanto à América Latina,
até agora temos visto uma Casa
Branca que reage aos fatos e não toma a iniciativa. O responsável pela
região no Estado ainda é indicado
por Bush, assim como a maioria dos
embaixadores para a região. O sr.
acha que a crise econômica deixará
a região mais uma vez em segundo
plano?
HAMILTON - Há um sentimento
de que temos de reparar nossas
relações com a América Latina.
Sim, a região no momento não
é prioridade de política externa
para os EUA, mas ainda é cedo
para dizer. Soube que novos
embaixadores serão indicados
logo e acho que nós veremos o
presidente e sua equipe se voltando ao Sul com mais frequência nos próximos dias.
Obama se encontrou com o
presidente Lula, por exemplo, e
foi muito positivo, ambos são
figuras transformadoras em
seus países. Há um reconhecimento de que o Brasil é um ator
regional e global cada vez mais
importante e que elevou seu
perfil mundial com feitos econômicos marcantes.
FOLHA - O sr. participou da comissão da Guerra do Iraque. Concorda
com a política atual?
HAMILTON - Está indo na direção certa. O Iraque ainda é uma
obra em execução, continua
um lugar extremamente violento, a insurgência não terminou, o futuro do país pode ir para qualquer lado, da democracia funcional, da ditadura ou do
caos. Não há dúvida de que o
presidente Obama vai nos levar
para fora da guerra, mas falta
tratar do quão importante é a
estabilidade do Iraque para o
futuro do Oriente Médio e dos
interesses dos EUA na região.
Eu não sei se resolvemos esse
problema.
FOLHA - O sr. também comandou a
comissão do 11 de Setembro. Há pedidos por uma comissão semelhante em relação a alguns atos questionáveis da gestão Bush durante a
chamada "guerra ao terror". O sr.
concorda com sua criação?
HAMILTON - Demorou vários
anos depois do 11 de Setembro
para lançarmos a comissão. O
instinto do presidente Obama
está certo quando ele diz que é
preciso olhar para a frente, não
para trás. Por outro lado, há várias questões importantes que
precisam ser examinadas. Tendo a preferir que o Congresso
faça isso. Algumas ações já começaram, e eu deixaria pelo
menos que elas se esgotassem
antes de falar sobre comissão
independente.
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