São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Democrata já mudou o tom da política externa, diz Hamilton

DE WASHINGTON

O que une Ben Rhodes, autor de discursos de política externa, Denis McDonough, diretor de comunicação do Conselho de Segurança Nacional, Dan Restrepo, assessor para Oriente Médio, e Daniel Shapiro, assessor para a comunidade judaica, além de trabalhar sob Obama? Todos foram parte da equipe de Lee Hamilton.
Apontado como um dos gurus de política externa do presidente, o ex-representante (deputado) democrata esteve no comando de comissões independentes sobre o escândalo Irã-Contras, nos anos 80, o 11 de Setembro e a Guerra do Iraque. Presidente do renomado Wilson Center de estudos de política externa em Washington, ele falou à Folha. (SD):

 

FOLHA - As pessoas começam a falar de uma Doutrina Obama de política externa, pragmática, com ênfase em diplomacia, que evita classificações como "guerra ao terror" ou "eixo do mal". Funcionará?
LEE HAMILTON
- É cedo para julgar, mas ele já mudou o tom da política externa americana, para um compromisso maior tanto de aliados como de adversários. Começou a sair do Iraque, ampliará a presença civil e militar no Afeganistão, estendeu a mão a adversários como o Irã, não fala de mudança de regime, mas de relacionamento com a Síria, por exemplo, e de retomar o diálogo com a Rússia. Tudo indica que ele está mudando a direção.

FOLHA - O sr. já disse que a Guerra do Afeganistão não é uma guerra "ganhável". Ainda pensa assim?
HAMILTON
- Não acho que a vitória, no sentido do final da Segunda Guerra, por exemplo, é provável. A questão é se ela é ganhável a um preço que nós estamos dispostos a pagar. É claro que é uma situação possível, mas a questão é se nós conseguiremos sustentar nossos interesses lá por um período, sustentar os fundos necessários para atingir nossos objetivos. A chave para atingir o objetivo é defini-lo apropriadamente, defini-lo em termos de destruir a Al Qaeda, e não de fazer do país uma democracia.

FOLHA - Quanto à América Latina, até agora temos visto uma Casa Branca que reage aos fatos e não toma a iniciativa. O responsável pela região no Estado ainda é indicado por Bush, assim como a maioria dos embaixadores para a região. O sr. acha que a crise econômica deixará a região mais uma vez em segundo plano?
HAMILTON
- Há um sentimento de que temos de reparar nossas relações com a América Latina. Sim, a região no momento não é prioridade de política externa para os EUA, mas ainda é cedo para dizer. Soube que novos embaixadores serão indicados logo e acho que nós veremos o presidente e sua equipe se voltando ao Sul com mais frequência nos próximos dias. Obama se encontrou com o presidente Lula, por exemplo, e foi muito positivo, ambos são figuras transformadoras em seus países. Há um reconhecimento de que o Brasil é um ator regional e global cada vez mais importante e que elevou seu perfil mundial com feitos econômicos marcantes.

FOLHA - O sr. participou da comissão da Guerra do Iraque. Concorda com a política atual?
HAMILTON
- Está indo na direção certa. O Iraque ainda é uma obra em execução, continua um lugar extremamente violento, a insurgência não terminou, o futuro do país pode ir para qualquer lado, da democracia funcional, da ditadura ou do caos. Não há dúvida de que o presidente Obama vai nos levar para fora da guerra, mas falta tratar do quão importante é a estabilidade do Iraque para o futuro do Oriente Médio e dos interesses dos EUA na região. Eu não sei se resolvemos esse problema.

FOLHA - O sr. também comandou a comissão do 11 de Setembro. Há pedidos por uma comissão semelhante em relação a alguns atos questionáveis da gestão Bush durante a chamada "guerra ao terror". O sr. concorda com sua criação?
HAMILTON
- Demorou vários anos depois do 11 de Setembro para lançarmos a comissão. O instinto do presidente Obama está certo quando ele diz que é preciso olhar para a frente, não para trás. Por outro lado, há várias questões importantes que precisam ser examinadas. Tendo a preferir que o Congresso faça isso. Algumas ações já começaram, e eu deixaria pelo menos que elas se esgotassem antes de falar sobre comissão independente.


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