São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Ação veio em resposta a atentado de sábado; país sofre pressão para autorizar entrada de missão em Jenin

Israel entra em Hebron e mata 9 palestinos

France Presse
Soldado israelense da água a palestino preso que tem as mãos amarradas, um dos detidos na operação de ontem em Hebron


DA REDAÇÃO

Tanques e blindados israelenses entraram ontem em Hebron, na Cisjordânia, em nova ofensiva em busca de terroristas e armas. Pelo menos nove palestinos morreram na ação, e cerca de 200 foram presos e levados a interrogatório.
Segundo Israel, a ação veio em resposta ao ataque de sábado à colônia judaica de Adura, nas proximidades de Hebron, no qual quatro israelenses morreram, entre eles uma garota de cinco anos.
Pelo menos dois militantes armados e três integrantes de forças de segurança palestinas estão entre os mortos de ontem. Um militante do Hamas que participou do ataque em Adura também morreu, disse Israel. As tropas entraram em Hebron durante a madrugada e procuraram suspeitos de casa em casa.
"A cidade está agora sob nosso controle e toque de recolher (...) e nos preparamos para a próxima rodada de detenções", disse o coronel Moshe Hager, comandante das operações terrestres em Hebron. A cidade, onde coexistem 120 mil palestinos e cerca de 400 colonos judeus, havia sido praticamente poupada pelo Exército durante a reocupação das principais cidades palestinas nas últimas semanas.
Os EUA condenaram a nova incursão e exigiram a retirada das tropas de Hebron. "Acreditamos que Israel deve se abster de mais incursões, e essa é um posição firme que deixamos clara ao premiê [Ariel] Sharon", disse Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado americano.
Civis palestinos reclamaram da violência da ação de Israel que, afirmam, destruíam eletrodomésticos e pertences pessoais ao entrar em suas residências.
Por meio de alto-falantes, o Exército ordenou a todos os homens em idade de combate a sair às ruas com as mãos erguidas.
O ministro da Defesa israelense, Binyamin Ben-Eliezer, disse que seu país não pretende permanecer em Hebron. "Fomos lá para destruir a infra-estrutura do terrorismo e sair", afirmou.
Israel entrou também brevemente na noite de ontem no campo de refugiados de Rafah, na faixa de Gaza, próximo à fronteira com o Egito. Segundo fontes palestinas, blindados e uma escavadeira do Exército avançaram algumas dezenas de metros disparando, deixando um palestino ferido antes de se retirar.

Jenin
Israel continuou a testar a paciência dos palestinos e dos países do Conselho de Segurança da ONU ontem sobre a investigação do que ocorreu na sua ofensiva no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia. Uma reunião de gabinete para definir a posição israelense sobre o assunto não ocorreu ontem -espera-se que ela seja realizada hoje.
O Reino Unido pediu a Israel que pare de protelar a entrada em Jenin de uma missão de verificação autorizada por resolução do Conselho de Segurança da ONU.
O chanceler britânico, Jack Straw, disse à rádio BBC que telefonou para o chanceler israelense, Shimon Peres, e disse a ele: "Se vocês não têm nada a esconder, por são Pedro deixem essa missão entrar o mais rápido possível".
Palestinos dizem que Israel promoveu um massacre no campo de refugiados de Jenin, matando centenas de civis.
Os israelenses dizem ter enfrentado terroristas armados no local -de onde partiram vários homens-bomba para atentados suicidas-, matando cerca de 50 deles e perdendo 23 soldados.
Em 19 de abril, Israel aceitou uma resolução da ONU que prevê o envio de uma missão para esclarecer o que houve no local. Tem impedido, porém, a sua entrada, alegando razões técnicas -sua composição inicial não contava com especialistas militares e de combate ao terrorismo o que, ao seu ver, prejudicaria a investigação.
Shimon Peres enviou um documento ao secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, no qual explica as exigências de Israel em relação às atividades da missão da ONU. Na carta, obtida pela agência de notícias Reuters, Peres diz que o relatório final deve trazer apenas o que foi apurado, mas sem incluir "observações" -que, no linguajar dos diplomatas da ONU, significam conclusões.
Além disso, Peres deseja ver mencionada a palavra "terror" ao explicar os eventos em Jenin, além da inclusão de referências ao "direito de autodefesa" e aos "direitos de combater o terrorismo".
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, continuava a negociar com o governo israelense ontem uma resolução para o impasse, ressaltando que há uma necessidade "muito urgente" de levar adiante a apuração dos fatos.
Ele já concordou em incluir militares na equipe, que será liderada pelo ex-presidente da Finlândia Mahti Ahtisaari.
Entre as cerca de 20 pessoas que compõem a missão e aguardam em Genebra (Suíça) autorização para viajar, estarão ao menos três especialistas militares: o general da reserva americano William Nash, o coronel britânico Miles Wade e o major francês Xavier Thomas. Também foram incluídos três oficiais de polícia da Irlanda, experientes em atividades antiterroristas.

Com agências internacionais


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