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Pela primeira vez um candidato de extrema direita dispõe de tanta visibilidade na mídia do país
Le Pen ganha espaço inédito na TV francesa
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Começou ontem a campanha
oficial nos rádios e nas TVs franceses para o segundo turno da
eleição presidencial. Até sexta-feira, quando termina a propaganda
eleitoral, Jacques Chirac e Jean-Marie Le Pen terão 60 minutos no
total, cada um, nas redes públicas
do país. Pela primeira vez no país,
um candidato de extrema direita
dispõe de tanto espaço no sistema
audiovisual garantido por lei.
Le Pen saiu atirando em todas
as direções em seu primeiro programa. Chamou Chirac de "supermentiroso" e o acusou de ter
simpatias pelo comunismo. Voltou a dizer que o presidente busca
a reeleição para escapar da Justiça
-por causa de suspeitas de corrupção. "Ele é capaz de tudo para
fugir do juiz que o espera no fim
de seu mandato", disse Le Pen,
sempre em pé, de frente para um
fundo azul, no seu discurso de
cerca de sete minutos.
"Supermentiroso" é o apelido
dado a Chirac num programa de
enorme sucesso do Canal Plus
(cabo), em que o presidente é satirizado por meio de uma marionete vestida com roupa de super-herói. O programa suspendeu suas
críticas na última semana. Os estudantes e jornais de esquerda
adotaram para Le Pen o apelido
de "superfacho" (superfascista).
Chirac apresentou-se sentado.
Seu programa mostrou pequenas
inserções filmadas em exterior,
com paisagens e depoimentos de
eleitores. Ele não citou nenhuma
vez o líder extremista, mas fez alusões ao perigo que corre a democracia no país. "A liberdade, a
igualdade, a fraternidade -tudo
está dito aí", disse.
A propaganda eleitoral gratuita
é exibida na França apenas nas
emissoras públicas de TV, que são
fortes e influentes. No último domingo, entre 19h e 23h, quando
foram divulgados os resultados
das eleições, o canal público France 2 teve 5,9 milhões de espectadores (29,5% da audiência total).
O canal privado TF1 alcançou 9,3
milhões (38,2%).
O custo de produção e exibição
dos programas eleitorais é bancado pelo Estado, dentro do orçamento oficial de campanha que
disponibiliza para cada candidato
-no segundo turno, 19.764.000
euros (cerca de R$ 40,5 milhões).
Todo o processo é controlado pelo Conselho Superior do Audiovisual (CSA), órgão do governo.
Por lei, os candidatos têm direito ao mesmo tempo de propaganda eleitoral nas redes públicas. O
tempo diário de exibição desses
programas fica a critério das
emissoras, mas, ao final da campanha, elas precisam ter mostrado os mesmos 60 minutos previstos para cada um dos candidatos.
As emissoras privadas não são
obrigadas a exibir a propaganda
eleitoral, mas seus programas jornalísticos precisam respeitar a rígida igualdade de tempo para os
dois candidatos. A emissora tem
tempo ilimitado para exibir os
candidatos e não precisa colocá-los num mesmo telejornal. Mas,
ao cabo da campanha, os minutos
totais de aparição de cada um na
emissora devem ser idênticos.
Segundo a socióloga Regine
Chaniac, do INA (Instituto Nacional do Audiovisual), o controle do
CSA é grande, mas as emissoras
encontram meios de burlar as regras. "Por exemplo, elas convidam Chirac para o jornal principal e põem Le Pen num programa
noturno", diz. Pesquisa do instituto CSA (não confundir com o
órgão governamental) mostrou
que, para 52% dos franceses, a TV
foi o meio que mais influenciou os
eleitores no primeiro turno.
"A importância da TV na França é grande, mas as pessoas preferem o noticiário político à propaganda eleitoral, que é muito desinteressante", diz Bruno Jeanbart, do departamento de opinião
do instituto CSA. "O programa
oficial aqui não é como nos EUA,
que é uma publicidade política.
Os candidatos franceses escolhem
a forma que seus programas terão, mas as regras são muito rígidas e o orçamento não é grande."
Com frequência, ante as dificuldades, os candidatos preferem ficar de frente para a câmera, discursando o tempo todo, como fez
Le Pen em seu programa.
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