São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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Pela primeira vez um candidato de extrema direita dispõe de tanta visibilidade na mídia do país

Le Pen ganha espaço inédito na TV francesa

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Começou ontem a campanha oficial nos rádios e nas TVs franceses para o segundo turno da eleição presidencial. Até sexta-feira, quando termina a propaganda eleitoral, Jacques Chirac e Jean-Marie Le Pen terão 60 minutos no total, cada um, nas redes públicas do país. Pela primeira vez no país, um candidato de extrema direita dispõe de tanto espaço no sistema audiovisual garantido por lei.
Le Pen saiu atirando em todas as direções em seu primeiro programa. Chamou Chirac de "supermentiroso" e o acusou de ter simpatias pelo comunismo. Voltou a dizer que o presidente busca a reeleição para escapar da Justiça -por causa de suspeitas de corrupção. "Ele é capaz de tudo para fugir do juiz que o espera no fim de seu mandato", disse Le Pen, sempre em pé, de frente para um fundo azul, no seu discurso de cerca de sete minutos.
"Supermentiroso" é o apelido dado a Chirac num programa de enorme sucesso do Canal Plus (cabo), em que o presidente é satirizado por meio de uma marionete vestida com roupa de super-herói. O programa suspendeu suas críticas na última semana. Os estudantes e jornais de esquerda adotaram para Le Pen o apelido de "superfacho" (superfascista).
Chirac apresentou-se sentado. Seu programa mostrou pequenas inserções filmadas em exterior, com paisagens e depoimentos de eleitores. Ele não citou nenhuma vez o líder extremista, mas fez alusões ao perigo que corre a democracia no país. "A liberdade, a igualdade, a fraternidade -tudo está dito aí", disse.
A propaganda eleitoral gratuita é exibida na França apenas nas emissoras públicas de TV, que são fortes e influentes. No último domingo, entre 19h e 23h, quando foram divulgados os resultados das eleições, o canal público France 2 teve 5,9 milhões de espectadores (29,5% da audiência total). O canal privado TF1 alcançou 9,3 milhões (38,2%).
O custo de produção e exibição dos programas eleitorais é bancado pelo Estado, dentro do orçamento oficial de campanha que disponibiliza para cada candidato -no segundo turno, 19.764.000 euros (cerca de R$ 40,5 milhões). Todo o processo é controlado pelo Conselho Superior do Audiovisual (CSA), órgão do governo.
Por lei, os candidatos têm direito ao mesmo tempo de propaganda eleitoral nas redes públicas. O tempo diário de exibição desses programas fica a critério das emissoras, mas, ao final da campanha, elas precisam ter mostrado os mesmos 60 minutos previstos para cada um dos candidatos.
As emissoras privadas não são obrigadas a exibir a propaganda eleitoral, mas seus programas jornalísticos precisam respeitar a rígida igualdade de tempo para os dois candidatos. A emissora tem tempo ilimitado para exibir os candidatos e não precisa colocá-los num mesmo telejornal. Mas, ao cabo da campanha, os minutos totais de aparição de cada um na emissora devem ser idênticos.
Segundo a socióloga Regine Chaniac, do INA (Instituto Nacional do Audiovisual), o controle do CSA é grande, mas as emissoras encontram meios de burlar as regras. "Por exemplo, elas convidam Chirac para o jornal principal e põem Le Pen num programa noturno", diz. Pesquisa do instituto CSA (não confundir com o órgão governamental) mostrou que, para 52% dos franceses, a TV foi o meio que mais influenciou os eleitores no primeiro turno.
"A importância da TV na França é grande, mas as pessoas preferem o noticiário político à propaganda eleitoral, que é muito desinteressante", diz Bruno Jeanbart, do departamento de opinião do instituto CSA. "O programa oficial aqui não é como nos EUA, que é uma publicidade política. Os candidatos franceses escolhem a forma que seus programas terão, mas as regras são muito rígidas e o orçamento não é grande."
Com frequência, ante as dificuldades, os candidatos preferem ficar de frente para a câmera, discursando o tempo todo, como fez Le Pen em seu programa.



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